Não precisa viajar de um extremo ao outro do Brasil para se deparar com expressões que soam estranhas aos ouvidos. Apesar do velho e bom português ser a língua oficial, particularidades linguísticas são comuns em qualquer região. Em Apucarana e no Vale do Ivaí, por exemplo, é natural ouvir data para terreno, quiçaça para matagal, trampar para trabalhar, piá para menino, ornar para combinar, bagaçar para arrasar, meiar para dividir, entre outras. No trânsito, uma expressão muito comum é dizer “subir e descer” para virar à direita e à esquerda.
Para o professor de Língua Portuguesa, Pedro Zumas, de Apucarana, a linguística é um campo fértil e traz muitas explicações. “Quando falamos em linguagem, muitos fatores estsão envolvidos. Não se pode esquecer que características geográficas, sociais, culturais, folclóricas e técnicas se misturam quando tratamos o falar”, pontua.
Entre tantos falares, um é tipicamente de Apucarana: “subir ao centro”. O professor explica com naturalidade o termo. “Por que não diz “eu vou ao centro”? Conformidade geográfica. Nossa cidade é acidentada e o tal “centro” fica realmente na parte mais alta, daí “subir para o centro””, esclarece.
Outros, segundo Zumas, nem são tão originais assim, apenas são mais usados em determinadas regiões. Como exemplo, ele cita o caso de um terreno que está sujo, cheio de ervas daninhas, um matagal, e, então, surge a palavra “quiçaça”. “Ela existe no dicionário, mas certamente o paulistano, o carioca e o curitibano não usariam – têm certamente outros termos para designar um terreno abandonado”, afirma.
O casal Heloíse de Mattos Rabelo de Paiva, 21 anos, e Deivison Leão de Paiva, 24, ambos nascidos e criados no Rio de Janeiro, está morando há pouco mais de um ano em Apucarana e recorda que quando chegou na cidade foi surpreendido com o termo sinaleiro para sinal, expressão comum na capital carioca para designar semáforo. “Quando pedíamos informações na rua, mandavam virar no sinaleiro. No início, não entendíamos direito”, relembra.
Heloíse conta ainda que quando fez autoescola também se deparou com novas expressões, como relar, caminhoneta e motoneta. Isso, é claro, sem contar a eterna briga entre biscoito e bolacha. As pegadinhas linguísticas não param por aí. “Eu não sabia o que era piá”, confessa. E outra expressão que ela e o marido incluíram no dicionário informal foi “mó paia”. Até quem não mora na região deduz o que significa: sem graça.
No final das contas, o casal acaba se divertindo com o vocabulário local. “As diferenças são legais. A cada dia aprendemos uma coisa nova”, brinca.
Algumas expressões também chamaram a atenção da cabeleireira Camila Costa Demisque Siqueira, 34, que está na cidade há quatro anos. Nascida em Joinville, a profissional, que também já morou com a família no Rio de Janeiro, comenta que a palavra “relar”, quando ouviu a primeira vez achou interessante. “Ônibus aqui é chamado de condução. Também achei divertido”, sublinha.
Com certeza, ela também já ouviu circular para ônibus. Camila acrescenta ainda “baita” (grande), “apodar” (ultrapassar um veículo no trânsito), “posar” (hospedar/pernoitar), “resbalar” (esbarrar), trupicar (tropeçar), cortada (ser interrompido).
Além das citadas por Camila, o professor Zumas elenca uma série de outras palavras e expressões como, “Dar o migué”, “deu barraco”, “deu zebra”, “lavar a égua”, “deu mole”, “deu caruncho na farofa”, “azedou o pé do frango”, “vou bater rodinhas por aí”, “chifrudo”, “encher o caneco”, “o cara tá mamado”, “da hora”, “mongo”, “deu zica”, “furdunço”, “treta”, “o cara tá chapado”, “tiriça”, “perrecando” (brincando), “rodada”, “tribufu” e por aí vai, uma verdadeira coleção de palavras estranhas para alguns falantes.
Melhor evitar os termos na hora da redação
Durante uma conversa informal, todos sabem que não há nenhum pecado em usar tais palavras ou expressões. Apesar de comum, será que caem bem numa redação? O professor de Língua Portuguesa, Pedro Zumas, de Apucarana, recomenda separar as coisas. O primeiro ponto, segundo ele, é que a linguagem falada difere da linguagem escrita; a linguagem coloquial difere da linguagem culta. “Não se pode dizer que a linguagem coloquial é errada, que é errado usar tais expressões, elas são inerentes à linguagem do dia a dia, na comunicação fácil, em determinadas ocasiões e determinados setores da sociedade”, explica.
O professor acrescenta ainda que em textos literários, jornalísticos, técnicos, científicos, empregar-se-á a linguagem culta, que não significa difícil. Já as variações populares devem ficar no âmbito da gente do povo, aconselha o especialista.
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