Em 22 de outubro de 1987 (há quase 28 anos) um fato ocorrido em Apucarana chamou a atenção em todo o Brasil.Por volta das 10 horas da manhã daquele dia cerca de 50 militares do 30º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz), que hoje é o 30º Bimec, desembarcam em quatro viaturas em frente à Prefeitura e Câmara de Vereadores, cercaram o prédio e impediram a entrada e saída de pessoas.Comandando os militares armados com fuzis e pistolas estava o capitão Luiz Fernando Walther de Almeida (hoje tenente-coronel da reserva), na época com 34 anos. O prefeito na ocasião era Carlos Roberto Scarpelini, que naquele dia estava na Assembleia Legislativa, em Curitiba, no gabinete do irmão, à época deputado José Domingos Scarpelini.
Acompanhado por um grupo de soldados, o capitão invadiu o gabinete do prefeito e entregou a um assessor do Executivo Municipal carta de protesto contra os baixos salários e a deficiência do atendimento de saúde aos militares. O fato ocorrido em Apucarana deixou no ar um clima de desconfiança, com o temor sobre possível destituição do presidente da República, José Sarney, e a volta da ditadura militar, que ainda estava viva na memória da população. Imprensa e lideranças políticas da época repudiaram a atitude, mas o protesto surtiu efeito. Na mesma noite, o então presidente José Sarney anunciou, em rede nacional, reajuste de 25% para todos os militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. O comando do Exército, porém, disse na época que o aumento já estava programado. O caso foi divulgado à época com informações detalhadas pela Tribuna da Cidade, precursora do Jornal do Norte e da Tribuna do Norte.
O militar que comandou a ação em Apucarana foi julgado em Curitiba, na 5ª Circunscrição Judiciária Militar, tendo sido condenado a três anos de prisão. Depois ele foi julgado no Superior Tribunal Militar, em Brasília, onde a pena caiu para oito meses. E por fim, acabou beneficiado por indulto natalino e cumpriu apenas cinco meses de prisão.
Carlos Scarpelini, que era prefeito à época, afirmou que ação dos militares em Apucarana não tinha nada a ver com uma possível tentativa de retorno à ditadura militar, mas foi sim apenas uma forma de protesto contra os baixos salários da corporação. "A ação dos militares durou poucos minutos e aconteceu em outras cidades do Brasil. Eles entregaram uma carta de protesto e reivindicação de melhores salários na prefeitura e para a imprensa e depois deixaram o local, tudo de forma pacífica", lembra Carlos.
O prefeito de Apucarana era Carlos Scarpelini quando militares
do Exército fecharam a prefeitura: protesto por melhores salários
Foto: José Luiz Mendes
O advogado Armando Gracioli, que tem um escritório ao lado da Prefeitura e da Câmara de Apucarana, lembra do episódio e discorda em partes do ex-prefeito Carlos Scarpelini. "Acho que além de protestar contra os baixos soldos, o capitão que mandou cercar a prefeitura teve uma sensibilidade profética, prevendo que essa democracia que aí está tem grande possibilidade de tender para o totalitarismo, transformando o Brasil e uma Venezuela", completa Gracioli.
Advogado Armando Gracioli: além de protestar contra os baixos soldos, o
capitão que mandou cercar a prefeitura teve uma sensibilidade profética
Foto: José Luiz Mendes
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