Temerosos em arcar com mais um ônus diante da exclamada falta de repasses financeiros, cidades do Vale do Ivaí estão fugindo da tarefa de assumir o trânsito. O processo de municipalização do setor é obrigatório e irreversível desde 1998, mas como não há prazos nem sanções contra quem não fizer a transição, o assunto é relegado a segundo plano pelas prefeituras. Na região, apenas Califórnia, Arapongas e Apucarana estão integradas ao Sistema Nacional de Trânsito (SNT).
Na última quarta-feira, o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) propôs auxiliar mais 30 municípios a se integrar ao processo por 60 meses, entre eles, Ivaiporã, no Vale do Ivaí. O prefeito Carlos Gil, por sua vez, não garante adesão. O município vive o impasse da necessidade de assumir a fiscalização das áreas de estacionamento, mas reluta em arcar com o custo da municipalização total. “Nossa intenção é implantar a zona azul e, para que isso aconteça, seríamos obrigados a municipalizar o trânsito. Mas o assunto ainda está sendo estudando pela equipe”, afirma o chefe do executivo.
Em Califórnia, a integração ocorreu há mais de dez anos, mas as atividades ainda não foram iniciadas. “Foi pedido em gestões anteriores para viabilizar a instalação de ‘pardais’, mas nunca foi iniciado. E, nesse ano, como tínhamos outras prioridades, acabamos deixando o assunto para segundo plano”, reconhece a prefeita Ana Lúcia Mazeto, não demonstrando muito entusiasmo com a ideia. “Tentamos voltar atrás devido ao impacto financeiro que será causado, mas não é possível mais. Trataremos disso no ano que vem”, completa.
Mesmo ressaltando a importância do setor, o prefeito de Jandaia do Sul, Dejair Valério, o Carneiro da Metafa, também diz ter temas mais emergentes a resolver, como saúde e educação. Ele se mostra crítico à obrigatoriedade. “Estamos sendo obrigados a assumir o esgoto, a energia, o trânsito. Daqui a pouco teremos que arcar com a segurança também”, reclama.
DIFICULDADES
Até as cidades com maior poder financeiro, com o trânsito já municipalizado, enfrentam dificuldades no setor. Quem já municipalizou é responsável pela engenharia, educação de trânsito e outros setores (ver quadro), mas, por outro lado, tem poder de fiscalização e os recursos obtidos com multas e estacionamento rotativo, por exemplo, vão para o município.
Em Arapongas, por exemplo, o efetivo de fiscalização poderia ser maior. “Tivemos um remanejamento recente de oito agentes de trânsito da guarda municipal. Melhorou, mas ainda não é o ideal”, afirma o diretor Antônio Aparecido de Oliveira.
Em Apucarana, os novos membros da Junta Administrativa de Recursos de Infrações (Jari), que é obrigatória, ainda não foram indicados. “Ainda nesse mês resolveremos essa situação”, garante o diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento, Pesquisa e Planejamento de Apucarana (Idepplan), Sebastião Ferreira Martins Júnior, ressaltando, porém, o trabalho educativo realizado pelo setor no município.
INCENTIVO
Atualmente, 37 dos 399 municípios paranaenses fazem parte do SNT, mas só 24 assumiram realmente os serviços. Para incentivar a integração, o Governo do Paraná propõe um novo convênio. “Temos consciência das dificuldades dos prefeitos e, a partir deste convênio, vamos auxiliá-los para que levem a toda população um serviço público de qualidade”, declarou o diretor-geral do Detran, Marcos Traad.
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