Brasil: um país que não faz as contas

Da Redação ·
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fonte: Pixabay

No reino distante da política econômica brasileira, onde a fantasia e a realidade entram em colisão diária, um dito popular clássico ressoa com um sarcasmo cruel: "quem deve, não teme". Parece que nossos agentes políticos levam essa expressão ao pé da letra, ao enveredar por uma estrada sinuosa e escorregadia de gastança desenfreada. E não é somente o governo federal, mas os estaduais e municipais também adoram uma gastança, mesmo que não seja para questões de prioridade social.

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Quando se olha para a evolução da dívida bruta do setor público, parece que estamos assistindo a um filme de terror econômico, onde o protagonista insiste em tomar decisões ruins a cada virada de cena. A expectativa é que, como uma bola de neve que se torna uma avalanche, a dívida bruta atinja espantosos 76% do PIB em 2023. Mas aí vem a sequência assustadora do filme: 78% em 2024, 79,6% em 2025, e o clímax em 81% no final do ano de 2026. E o que é mais assustador do que a dívida bruta? A dívida líquida do setor público, que não fica muito atrás, projetando-se em 60,5% em 2023, 64% em 2024, 66,9% em 2025 e 69,3% em 2026. É como se isto não causasse problemas, mas temos que lembrar do ditado: "dívida hoje, problema amanhã".

No entanto, a fiel audiência brasileira pode estar se perguntando: por que esse roteiro apocalíptico? Bem, a resposta é simples: a ilusória noção de que gastar é a solução para todos os problemas. Esta afirmação tem que ser reformulada incluindo a preocupação com a qualidade e finalidade do gasto público. Não se pode ficar como uma parte dos agentes políticos pensam. Temos que considerar que "de grão em grão, a galinha enche o papo", mas também de gasto em gasto, o governo esvazia os cofres.

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Como poderíamos esquecer da pretensão de se adquirir um avião novinho em folha para a Presidência da República? É claro que precisamos disso, afinal, nada como viajar em grande estilo enquanto o país se afunda em dívidas. E para que se contentar com carros populares ou econômicos para os ministros? Eles merecem luxo, certo? Talvez alguém tenha se confundido com "quando a esmola é demais, o santo desconfia", pensando que, quanto mais se gasta, melhor é para o santo. Mas qual santo? O santo do ajuste fiscal que foi esquecido no altar da imprudência.

De maneira irônica, o cenário conjuntural só melhorará com uma receita que parece ter sido descartada por nossa liderança: melhorar a qualidade do gasto público. Parece óbvio, não? Reduzindo transferências de recursos para os outros poderes – que, aliás, deveriam ser incentivados a racionalizar suas despesas – e direcionando mais recursos para financiar políticas públicas de maneira eficaz, talvez, só talvez, poderíamos sair desse buraco. Porque, como diz o ditado, "o que os olhos não veem, o coração não sente", parece que o governo não vê a importância do ajuste fiscal.

Mas a cereja do bolo dessa tragicomédia fiscal é que a despreocupação com o tema se reflete nas projeções. Preparem-se: o resultado primário está projetado para se manter deficitário até 2027. Isso mesmo, parece que a estratégia econômica é seguir o adágio "na falta de sol, se bronzeia na chuva". Mas quem vai se bronzear no meio dessa tempestade econômica?

Uma coisa é certa: se o governo não acordar para a realidade, poderemos ter que recorrer a outro ditado popular – "quem não tem cão, caça com gato" – porque, sinceramente, nesse ritmo, não haverá dinheiro nem para o cão e nem para o gato. Que os céus nos ajudem, pois pelo visto, na terra, estamos por nossa conta

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