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    O rótulo, o preconceito e a incapacidade de mudar

    Eu sei que parece coisa besta de se escrever, mas isso ocorre com muitas coisas ao longo da vida
    Foto por Pixabay- ilustração
    Eu sei que parece coisa besta de se escrever, mas isso ocorre com muitas coisas ao longo da vida
    Escrito por Da Redação
    Publicado em 25.01.2023, 15:06:32 Editado em 25.01.2023, 15:06:26
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    Todos nós quando nascemos ganhamos um nome, nem isso nós escolhemos. Mas chega o momento em que somos ensinados que aquele é o nosso nome. Eu sei que parece coisa besta de se escrever, mas isso ocorre com muitas coisas ao longo da vida. Algumas de nossas características ainda na infância são hipervalorizadas e deixadas como nossas marcas, que viram características de qualquer apresentação. Por exemplo, uma criança que demonstra ser mais agitada, é sempre caracterizada como arteira, serelepe ou bagunceira... E depois do nome, vem sempre a frase: “ah, esse menino é maravilhoso, mas é arteiro que só, dá um trabalho”.

    Temos a necessidade de acrescentar características e qualidades quando apresentamos as crianças, o que ocorre também na fase adulta, mas dessa vez longe dos ouvidos do apresentado. Assim, pouco a pouco, vamos criando um rótulo para cada indivíduo. “Esse é muito feliz, aquele é mais na dele”. Repetidas essas frases algumas vezes, elas deixam de ser análises pessoais do interlocutor para uma marca permanente de quem a recebe, bem como a ser reproduzida e consolidada por quem a ouviu.

    O grande problema é quando os rótulos se tornam maiores que as pessoas, inclusive para elas mesmas. Se parar para pensar, nós nunca nos vimos, são apenas reflexos, fotos e vídeos. A estranheza com o “eu” – o ego– e o “outro eu” – self, que é a minha experiência em relação ao mundo – pode ser bem percebida quando não gostamos do som da nossa voz em gravações, por exemplo. “Aquela é a minha voz? É assim que todos me ouvem?”. O equilíbrio entre o mundo externo e interno é chamado de eixo ego-self, mas esse equilíbrio entre matéria e psique não é algo fácil. Temos a nossa autoimagem, mas constantemente comparamos com a nossa versão para os outros. O que tem causado muitos estragos psicológicos é o fato de darmos cada vez mais atenção para a versão dos outros para a nossa própria história.

    Hoje me chamo Bomba, claro que esse sempre foi o meu sobrenome, mas quando criança e adolescente eu era apenas “Gui”. A forma carinhosa que a abreviação do meu nome sempre foi usada, também carregava uma relação de dominação e subordinação. E não digo que isso signifique que quem me chama de “Gui” queira me dominar, mas no meu subconsciente ele remete a um período em que a minha versão dos fatos pouco importava. Ganhar meu espaço e com ele – quase que naturalmente – um novo nome, deu entrada a uma nova fase de existência. Os familiares e amigos mais próximos ainda me chamam assim, eles são a ponte entre o que eu fui, o que sou e o que quero ser.

    Quando temos características atípicas, sejam elas positivas ou negativas (falar alto, rir em excesso, ser piadista, sem mais fechado), elas parecem chegar antes de nós em qualquer espaço. Uma criança quando diagnosticada com TDAH ou Autismo, por exemplo, é normalmente taxada pelo seu transtorno antes mesmo da sua apresentação formal. Crianças são sempre uma caixinha de surpresa, porque uma atípica deveria ser igual a todas as outras que carregam a mesma “marca”.

    As pessoas mudam. Demorei a entender isso, mas quando aconteceu, nem tudo foi tão ruim. Vivemos rituais e repetições com medo de perdemos o elo com o mundo. Sempre mascarei a minha insegurança social com o exagero. Se eu não quisesse que as pessoas me notassem, eu fazia o inverso, fazendo-as notarem algo que eu tinha controle. Daí vem o rótulo de “engraçadão”, pois é uma ferramenta de sobrevivência. Entretanto, quando “crescemos” e superamos esse rótulo, as pessoas parecem desacreditar nessa nova pessoa que você está se tornando. Por isso, é também muito comum que novas amizades e conhecidos te tratem de uma forma diferente dos mais antigos, afinal, elas não estranham a “diferença” entre as diferentes versões do seu eu. Não é maldade das pessoas te tratarem como se você não pudesse mudar, mas toda mudança é difícil e, se ela não consegue, você não deveria.

    Usamos máscaras de personagens diferentes em todos lugares – inclusive, em grego, persona é a máscara, que caracteriza o “persona”gem e é também o radical de “pessoa”. Não porque consideramos que devemos ser diferentes, mas porque consideramos que esperam de nós uma postura diferente.

    Esse texto não é sobre mim, mas não deixa de ser. Enquanto seres humanos, devemos buscar o equilíbrio entre o eu e o mundo. Você será chamado “disso ou daquilo” pela forma como as pessoas enxergam as suas ações, são critérios deles que o definem, não as suas ações.

    Se arrisque sem medo de errar, erros fazem parte de qualquer avanço. Se importe com a sua realização e seus objetivos, agregando os que torcem por você, mas nunca pare por aqueles que não estejam na mesma sintonia. Uma piadinha ou uma chacota muitas vezes são chistes, que para Freud era a habilidade de encontrar similaridades entre coisas não semelhantes, descobrir o que estava escondido através do humor ou do gracejo. Através de uma piadinha, você dá a sua opinião sem a “intenção” clara de ofender ou magoar.

    Cuide de si e dos outros, respeite o momento de cada um. Todos os dias pessoas se matam pela incompatibilidade com o ambiente em que vivem, não só dos lares, mas das escolas e do trabalho. Os rótulos são essencialmente preconceitos, em seu sentido pleno, pré-conceito, uma ideia que antecede a experiência. Permita-se conhecer a você e ao mundo. Não sabemos de tudo e nunca saberemos, essa é a graça da vida, sempre haverá coisas novas a se descobrir. Principalmente sobre você mesmo. 

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    Guilherme Bomba

    Guilherme Bomba

    Guilherme Alves Bomba é doutorando em História Política pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina, especialista em História Social pela UEL, além de Especialista em Religiões e Religiosidades pela UEL, bem como Mestre em História Social pela UEL.

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