BLOG DO GUILHERME BOMBA

Mais um Natal, mais um Ano Novo, mas o que mudou nestes tempos?

Uma reflexão sobre 2022 e o que não volta mais

Da Redação ·
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Caro leitor e leitora, mais uma vez chegamos à véspera do Natal e com ele surge aquela energia positiva e conciliadora. Mas fica a pergunta: “realmente somos tocados pelo clima natalino ou só fica bonito na foto?”. Após um ano extremamente violento em todos os sentidos, falar de amor é hipocrisia ou superação? Espero que a segunda opção.

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O Natal sempre foi um momento especial, ao menos na minha família. Não se tratava de presentes, eles nem sempre vinham, mas da preparação para a grande noite. Sempre nos reuníamos aos sábados à noite na casa dos meus pais, e eu, uma criança, adorava as noites dançantes na sala com o tocador de LP com uma música riscada que ficava pulando. Eu pulava junto. Minhas irmãs mais velhas – duas já casadas – dominavam o local, eu ficava ali vendo e tentando aprender os passos. Comíamos pipoca e tomávamos suco. Era assim todo fim de semana, mas no Natal era diferente. Sempre tinha uma roupa especial, uma comida especial, um clima especial.

Independente do ano, a sensação que eu tinha era que no Natal começava a transição que acabava na noite de Réveillon. Era a hora de jogar fora o material usado, guardando apenas os cadernos que tivessem folhas limpas que serviriam para desenhar. Planejar como seria o próximo ano, era um misto de medo das mudanças com a excitação da descoberta.

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Eu cresci, isso é fato, mas parece que algo mudou também, não só na minha família, mas nas famílias. Esse ano foi muito complicado. Alguém pode negar? Viemos de um período pós-pandemia, que ainda não superamos, crises econômicas e políticas. O tempo agora é de alívio, mudança, esperança, apreensão ou de medo? Acho que, em partes, tudo isso.

Aprendi nesses últimos anos que todo mundo precisa acreditar em alguma coisa, mas no que devemos acreditar, é a verdadeira questão. Não quero e não vou falar de partidos políticos, as pessoas que deveriam ler sobre isso já terão parado antes mesmo de eu explicar qualquer coisa. A paixão – seja pela pessoa amada ou por ideias – é devastadora. Eu prefiro acreditar que as pessoas deixaram florescer suas paixões políticas ao ponto de perderem a cabeça e mudarem, pois se elas sempre foram assim, o errado sempre fui eu.

Quando você se apaixona é normal perder a noção, perder o rumo. Afinal, você não se lembra da sua primeira grande paixão ou da última vez que se apaixonou pelo grande amor da sua vida? O amor é diferente. Enquanto a paixão de faz perder o juízo, o amor te faz paciente, inclusive com o erro. Te garanto que assim como eu, você se apaixonou muitas vezes, mas quando perceber que amor é apenas uma vez, entenderá a diferença. Amor é algo que não passa, que não muda, que não diminui, que não se esvai... A paixão, seja ela qual for, é loucura, que pode ser boa no início, mas se persiste nos leva aos piores cenários. Somos capazes de amar mais de uma vez, mas nunca é uma troca, é sempre soma. Se for troca, nunca foi amor.

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Eu sei que o medo faz parte da equação, ele também é capaz de conduzir nossas ações. Na vida pessoal, não tentamos algo novo pelo medo do fracasso, da rejeição e da incerteza. Mas como disse um velho ditado: quem não arriscou tudo, quem não falhou, também não conquistou nada. O medo do amanhã nos faz não viver o hoje. Foi esse sentimento que levou as pessoas a se odiarem, mais pelo que elas representavam do que por si mesmas. O medo deve ser o motivo da mudança, da superação, da evolução... do contrário, é o que nos bloqueia e faz girar sobre o próprio eixo, cavando um buraco de onde somos incapazes de sair.

Peça a Deus ou qualquer outro ser que acredite, emane para o universo e seu arquiteto, os desejos mais profundos do seu coração, mas mereça. Lute contra si mesmo, não contra os outros. Cada vez que você deposita a sua energia em vencer o outro, acaba perdendo a batalha interior.

Em tempos de coach financeiro, é bom dizer que não é sobre isso que estou falando. Não posso considerar que o processo de uberização dos trabalhos, cada vez mais informais e menos estáveis é a oportunidade para empreendedores e toda aquela história, mas que desistir não é também uma opção. Quando se tem filhos, a coisa piora. Só quem é pai ou mãe e passou por dificuldades, sejam financeiras ou de saúde, sabe do peso da responsabilidade pelo outro. Quem é filho e assume a responsabilidade, também sabe.

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Desejo a você, caro leitor e leitora, que possa viver intensamente o dia de hoje, pois a ansiedade não tira o problema do amanhã, mas a paz do agora. Todas as coisas grandes, foram um dia pequenas. Uma árvore imensa, como um baobá, também começou como uma semente. Mas lembre que a fase madura dessa árvore acontece próximo aos duzentos anos, podendo viver mais de mil nas condições adequadas.

Desejo a você, que reconheça os verdadeiros heróis. Eles não estão nos filmes da Marvel ou da DC Comics, nem mesmo nos noticiários da TV, talvez esteja ao seu lado agora, ou quem sabe, seja você. As verdadeiras batalhas da vida são vividas em silêncio. Valorize seus heróis, reconheça seus esforços. Em um mundo cada vez mais poluído de “grandes exemplos” das redes sociais, esquecemos de valorizar quem mais importa. Os corpos são mais bonitos na internet, pois são repletos de filtros, mas isso ocorre também com os modelos de vida.

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Vencer na vida é um conceito desprezível. Ganhar dinheiro é importante, mas ter um bom motivo para gastar é imprescindível. Conquistar bens materiais, comprar uma casa, carros e gerar fortuna, são conceitos que normalmente vem acompanhados de um vazio imenso que remédio nenhum pode curar. Vence na vida aquele que a vive. Pergunte aos médicos e enfermeiros que cuidam dos últimos momentos de seus pacientes quais são seus arrependimentos? Ninguém se arrepende da casa que não comprou, mas normalmente de ter perdido quem vivia nela.

Desejo a você que dê o presente da sua presença a quem você ama. Não cobre presença, faça sua parte. Perdoe – no mínimo esqueça - os que erraram com você, não por eles, mas pela sua paz. A consciência tranquila é o melhor sonífero do mundo. Além disso, ninguém sabe o que o outro sente ou o que fizemos ele sentir, talvez o errado seja você, mas o orgulho não permite que você perceba. Só quem é casado sabe que mesmo certo, às vezes, é necessário pedir desculpa pelo estresse que o outro causou. Não pense que isso significa ser fraco ou submisso, isso é sinal de grandeza. Não confunda buscar a paz com ser controlado e não aceite relacionamentos tóxicos, pois não é disso que estou falando, desses busque distância.

Tenho uma frase que repito constantemente a dois professores que admiro muito, Pedro Zumas e José Fernando Perini, “é uma honra e um privilégio dividir o tempo e o espaço com vocês”. Explico que na infinidade de tempos históricos e de lugares, eu tive a sorte de conviver com eles aqui e agora. Desejo a você que possa reconhecer os que estão ao seu lado e a sorte que tem, por isso os valorize para que não haja arrependimentos futuros.

Por fim, caro leitor e leitora, quero que saiba que todos querem mudar o mundo e não sabem como começar, por isso esperam que alguém assuma essa função. Um passo de cada vez na direção da paz, começando dentro do próprio lar, esse é o caminho. Espero que esse Natal seja especial para você e para mim, que seja o momento de mudança. Que possamos nos unir mais uma vez, que possamos ver além dos rótulos. O Natal é a primeira etapa de uma semana que antecede o Ano Novo, que até lá possamos ser novos para o novo ano. Jogue fora os cadernos usados, mas guarde as folhas onde possa desenhar.

Feliz Natal.

PS: Em especial para minha esposa Thays Diniz e meus filhos Anna Beatriz, João Vicente e Nina Giovanna. É por eles que quero mudar, pois foram eles que me mudaram.

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