Educação

CARTA ABERTA AOS ESTUDANTES DA PANDEMIA

2021 vai chegando ao fim e mais uma vez uma leva de alunos e alunas deixam o colégio para enfrentar a vida adulta

Da Redação ·
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Saindo um pouco do nosso foco da coluna digital, hoje venho falar como professor e coordenador. 2021 vai chegando ao fim e mais uma vez uma leva de alunos e alunas deixam o colégio para enfrentar a vida adulta. Seja você aluno de colégio público ou privado, esse momento inevitável na vida de qualquer estudante é um misto de tristeza e alegria. E sem querer parecer coach demais, esse mix de emoções é necessário e está tudo bem sentir tudo isso. Viva essas emoções intensamente.

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Eu gosto muito de escrever em primeira pessoa, pois assim acho que posso transmitir um pouco mais do sinto e fazer com que você, caro leitor e leitora, possa entender intimamente o que escrevo. Com um pouco mais de 30 anos, vivi todos esses momentos há algum tempo, mas por ser professor parece que consigo reviver intensamente essas emoções a cada ano.

Esse ano foi atípico, para não dizer caótico, assim como 2020, pois vivemos um período pandêmico e, de nenhuma forma vamos relativizar a necessidade das aulas remotas, pois foram milhares de vidas perdidas para o Covid-19, mas isso trouxe também algumas lacunas socioemocionais em uma fase tão importante de nossas vidas. O que já seria tenso por si só, teve um plus pelas incertezas que tomaram a todos.

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Terminar a vida escolar é mais do que um momento importante, é um privilégio, lembrem de quantas pessoas não tiveram a mesma oportunidade e de como muitos se sacrificaram para que pudéssemos fazê-lo. E não, não estou falando apenas de dinheiro não, pois ele não compra tudo. Estou falando de oportunidades e demonstrações de carinho e afeto que fizeram parte de seu percurso. Seus pais, avôs e bisavôs talvez não tido a mesma “sorte”.

Os professores do Terceirão sempre são estrelas neste momento, pois fizeram parte da última etapa e, com seus discursos animados e cheios de jargões nos enchem de vitalidade, mas na mesma medida a professora do primeiro aninho foi decisiva para que você chegasse até aqui. Lembre-se dela também em seu discurso de encerramento. Lembre-se também da tia da cantina, da tia da limpeza, do pessoal do administrativo, da auxiliar da coordenação, do diretor ou diretora, da recepcionista, enfim, de todos que estavam lá com você ao longo destes 15/16 anos de escola.

O amanhã assusta, eu sei. Mas entenda, esse medo é real, mas será o primeiro grande medo de suas vidas. Pergunte a um pai ou a uma mãe sobre os medos de ser o responsável por uma vida além da sua. A pandemia também trouxe medos em nós adultos, a incerteza dos empregos, o medo da morte (a nossa e de quem amamos), o aumento do preço de tudo – tudo mesmo -, mas nada disso pode nos impedir de continuar. Diferente de um videogame, não há resets ou restart no jogo da vida.

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Olhe bem para esses colegas que hoje dividem a sala de aula com você, alguns te acompanharão por toda a vida, acredite é possível. Outros serão boas lembranças. Entretanto, esteja aberto ao novo, pois muitos amigos surgirão nessa nova etapa, sejam amigos da faculdade ou do mundo do trabalho. Eles jamais substituirão os “tradicionais”, pois esses são – e sempre serão – o seu elo com o passado, a fonte de memórias que os farão rir e chorar. Permita-se fazer novas memórias, elas só engrossarão o seu livro da vida.

Aquela ideia de que quando sair do colégio eu vou estudar só o que eu gosto é uma falácia, você vai ver, mas quando temos um objetivo claro em nossas vidas, os desafios existem para testar o quanto realmente queremos aquilo que dizemos.

Não se preocupe em mudar de rumo, saber onde quer chegar pode ter vários caminhos. Não parar é essencial. Mudar faz parte. Se quiser se preocupar tudo bem, mas entenda que (PRE) ocupar, é simplesmente dar espaço para algo antes da hora. Se arrisque, seja o melhor que puder ser. Não insista na infelicidade, não aceite menos do que merece. Mude primeiro para que o mundo ao seu redor se adeque a sua mudança.

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Não tenha medo da derrota, como diria o grande Rocky Balboa, “não é sobre quanto você bate, mas sobre quanto você apanha e consegue ficar de pé”. Às vezes, por medo de não conseguir, nós sequer tentamos. Não seja essa pessoa. Se arrisque, dê o seu melhor e espere o melhor, nem sempre dará certo, mas não tentar vai persegui-lo muito mais, pois os “e se...” da vida não perdoam. As suas chances são de 50%, não tentar reduzem a zero. Finja ser corajoso quando a hora decisiva chegar, pois a coragem vem da atitude e não do que falamos.

Tenha grandes amores, mas lembre-se que nunca amará ninguém plenamente se não aprender amar a si mesmo. Ame-se. Cuide de você, não pela opinião do outro, mas se sentir a pessoa mais importante do mundo. E saiba, apesar de você ter esquecido, você é sim a pessoa mais importante do mundo para alguém, sejam seus pais, tios, avôs ou amigos, que veem em você algo que talvez você tenha esquecido. Talvez você se case com o seu amor da escola, talvez o conheça na faculdade, talvez só o conheça daqui 30 anos. Não tenha pressa de nada, viva todos os amores como se fossem para uma vida toda, afinal, você nunca vai saber até que aconteça. Não tenha medo de errar, mas se o fizer, só não persista no erro.

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Antes de querer ser o melhor pai e mãe do mundo, seja o melhor filho ou filha possível. As coisas acontecerão em seu tempo certo, nunca naquele que imaginamos, por isso viva intensamente cada fase. Você não precisará ser pai para se sentir completo, se essa não for a sua vontade, não acredite na versão poética que te contam. Mas se essa for a sua vontade, vou te dizer por experiência própria, é um renascimento, tudo que você ver e tocar será diferente. Tudo depende de como você encara o futuro, de como você o planeja. Para mim foi a melhor coisa de todo o mundo, deu um novo sentido. Mas esse sou eu, não você.

Faça elogios sem medo. Elogiar alguém não fará de você inferior a ela, apenas mostrará que você tem a maturidade necessária para apreciar o que os outros tem a oferecer. Aceite elogios também, não fomos acostumados a apenas ouvir críticas, sobre nossos comportamentos, nossos corpos, nossas atitudes. Existem pessoas que lhe amam por quem você é e, são essas pessoas que valem a pena ter por perto.

Imprima (ninguém mais fala revelar) fotos e as guarde em uma caixinha com coisas que importantes dessa fase da sua vida. A sensação de abrir uma caixa e olhar o passado é prazerosa demais. Peça a assinatura de seus colegas, professores e toda aquela galera da escola que escrevi acima, em uma camiseta do uniforme. Talvez elas se apaguem com o tempo, mas tem mais haver com o ato de fazê-lo do que com o resultado.

Aceite crescer e envelhecer, só Deus sabe que eu queria fazer uma tatuagem do Peter Pan quando tinha 25. Hoje encaro o envelhecer como uma dádiva, pois só envelhece aquele que viveu muito. Minha barba começou a ficar branca, e como sempre digo a minha esposa, “não sei quando foi, mas eu virei um homem”. Não fique preso a uma fase da vida, permita-se arriscar no desconhecido.

Seja seu maior fã, sua maior inspiração e seu maior treinador. Acreditar em você não significa “se achar”, mas se você não der valor ao que você faz, é pouco provável que os outros o façam. Seja forte quando necessário, demonstre capacidade, mas não tenha medo de se mostrar sensível, ela também é uma qualidade.

Chegamos ao fim, pelo menos do texto. Eu sei que parece um monte de coisa jogadas ao vento, mas saiba que são todas verdades, que já sabemos, mas acabamos não as vivendo. Entenda que conselhos são apenas as partes de uma vida que aprendemos, selecionamos e queremos repassar aos que vem depois de nós. Espero que possa ser e ter tudo que deseja, mas que isso não lhe custe a essência do que já é.

E lembrem, o fim é só do texto, pois da sua vida é só o começo. 

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