A professora aposentada Edna Garcia é uma apucaranense que inspira muitas pessoas com sua história de vida. Mãe de três filhos, ela perdeu o mais jovem em 1999. Anderson Gomes Ferreira tinha 19 anos, cursava o segundo ano de Direito e foi morto por uma bala perdida durante um assalto a uma padaria ao lado da academia que ele treinava em Apucarana.
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“É muito difícil lembrar daquela noite até hoje. A bala acertou a artéria pulmonar. Ele foi levado ao hospital, com uma forte hemorragia. Foi levado à sala de cirurgia e nunca mais retornou”, lembra.
A fatalidade gerou uma grande comoção na cidade e na região. Amigos e familiares se uniram para pedir justiça. A partir dessa mobilização, foi fundada a ong Comando Anderson de Defesa do Cidadão (Comander). “O Comander surgiu dois dias após a morte do meu filho. Inicialmente foi uma mobilização que cobrava das autoridades que fosse feita justiça”, explica Edna.
Esse trabalho se estendeu entre reuniões, manifestações e apelos às autoridades, resultando inclusive no afastamento do delegado-chefe da 17 SDP à época. “Foi um ano e meio até encontrarem os assassinos do meu filho. Fizemos muitas reuniões e manifestações e um abaixo-assinado levado ao secretário de Estado de Segurança, que designou um delegado para o caso”, detalha.
O crime foi solucinado após a designação de um delegado de Arapongas, Valdir Abrahão, que ficou responsável pelas investigações do crime. Os assassinos foram identificados e presos em menos de dois meses de investigação. “Eles foram presos e julgados. Cumpriram apenas dez anos de prisão e depois foram soltos. Depois, voltaram para a cadeia. Um deles morreu lá e o outro está por aí ainda, Deus queira que não esteja fazendo mal a mais ninguém”, diz.
Após o caso ser encerrado, Edna decidiu manter as atividades do Comander, se voltando à área social. Até 2005, as atividades pautaram-se na perspectiva de apoio às famílias que passavam pela mesma problemática que a família de Edna enfrentou: a violência.
A instituição começou a orientar juridicamente as pessoas, auxiliando-as e pressionando as autoridades policiais e também o Ministério Público quanto à resolução dos conflitos. Promoveu diversas manifestações e passeatas em busca de justiça e paz, juntamente com ações voltadas à defesa dos direitos humanos e combate aos abusos.
A partir de 2006, a ong se voltou para o trabalho com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e conseguiu autorização para fazer uso do ginásio Cebolão, no Jardim Ponta Grossa, iniciando um trabalho voltado às atividades esportivas e de formação.
“À época, eu trabalhava no CAIC e via muitas crianças vindas de famílias desestruturadas. Resolvi então, através do Comander, desenvolver atividades esportivas”, conta.

Inicialmente, a ong ofertava aulas futsal. Em seguida, o projeto passou a oferecer atividades de circo e dança. Atualmente, com sede no Jardim Ponta Grossa, a entidade abrange uma população de 16 bairros, atendendo uma média de 80 crianças e adolescentes. “O que me motiva a continuar, primeiro, é o apoio que recebemos das pessoas da comunidade. Segundo, manter a memória do Anderson”, explica Edna.
Para se manter de pé após a perda do filho e transformar o seu luto em uma luta social, Edna conta que Anderson segue vivo em seu trabalho. “Primeiramente tem que ter fé. Se seu me entregar, acredito que meu filho ficaria triste, pois sei que ele está vendo tudo o que estamos fazendo”, finaliza.
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Por Louan Brasileiro
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