De astronauta a bailarina, crianças possuem a liberdade de escolherem o que desejam ser “quando crescerem”, mesmo que essas escolhas acabem se modificando com o passar do tempo. Esse, no entanto, não foi o caso do pequeno Roberto Carrara que, aos sete anos de idade, afirmou com convicção durante uma aula de catequese que desejava ser padre e entregou sua vida para servir a Jesus Cristo. Nascido em Jaú, São Paulo, ele entrou para o seminário com apenas 11 anos e, atualmente, é padre na Diocese de Apucarana, onde criou raízes e encontrou entre os moradores verdadeiros amigos. Veja o vídeo abaixo
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Roberto Carrara foi ordenado em 1963 e em seu primeiro ano como padre trabalhou na cidade de Ourinhos (SP). Depois, foi transferido para a cidade de Botucatu, também em território paulista, onde ficou responsável pelo seminário. “Nos anos de 1966 e 67 aconteceu o caso de Botucatu, em que os padres não aceitaram a nomeação feita pelo Papa do bispo Dom Vicente Ângelo Marchetti Zioni. Eu não o conhecia, mas ele foi reitor de muitos padres, que não gostaram dele”, relembra. O racha resultou na saída de 25 sacerdotes, incluindo o padre Carrara, que acabou ultrapassando fronteiras estaduais e vindo para o Paraná.
A mudança não aconteceu por coincidência. O sacerdote decidiu apoiar os colegas, mas pretendia inicialmente ser padre na Diocese de Assis (SP). No entanto, Dom Romeu Alberti, primeiro bispo da Diocese de Apucarana, foi designado para estudar e resolver o “caso de Botucatu” e acompanhava o desenrolar dos fatos. “Eu era secretário de Dom Romeu e ele já me conhecia do seminário”, conta Carraca. “Ele me disse ‘não, você vai embora comigo’”, revela. Com isso, o padre chegou na Catedral Nossa Senhora de Lourdes em junho de 1969. Desde então, são 56 anos de trajetória pessoal e de trabalho, inclusive contribuindo com o desenvolvimento do município.
“Aqui [Apucarana], eu tenho tantos amigos, conheço tanta gente e ajudei a construir tanta coisa. Por exemplo, o Hospital da Providência. Quando eu cheguei, aquele hospital era de madeira. E aí vieram as irmãs e, naturalmente, o pároco da Catedral tinha que dar uma ajuda e assistência, fazendo publicidade e organizando encontros e festas para que o hospital chegasse ao ponto que chegou”, pontua. Padre Carrara foi pároco da Catedral entre 2008 e 2020.
Atualmente, o sacerdote está na Paróquia Cristo Profeta, na saída para Maringá. Após ficar tantos anos exercendo sua função na catedral, o padre diz que foi uma experiência “desconfortante” mudar de local. “Porque a gente está deixando tudo, a casa onde a gente vive, a cozinha que a gente tem, tudo isso faz parte da história da gente”, desabafa. “Eu construí aquela construção atrás da catedral. Fui eu que fiz e terminei em 1980. Então aquilo foi minha vida”, completa. Carrara explica que a alteração feita pelo bispo se deu por conta de ele ter completado 80 anos. “Cheguei aos 80 anos, eu tinha que deixar a Catedral. Então agora eu não sou mais pároco, isto é, não tenho a responsabilidade de uma paróquia”, explica sobre sua função na Cristo Profeta.
Atuação no Vaticano e passagem por mais de 40 países
Apesar de ter se mudado para Apucarana em 1969, o padre Carrara não permaneceu na cidade durante todos os anos até 2025. Ele percorreu o mundo. “Em 1980 eu fui para Roma para estudar. Fiquei dois anos me especializando em liturgia”, diz. Durante 15 anos, ele cuidou da liturgia do Brasil e foi responsável pela dispensa de padres. “Eu também tive outras atividades. Eu fui chamado para ser o responsável pela liturgia da América Latina”, informa. O convite permitiu que o sacerdote atuasse no Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam).
Em Roma, o sacerdote teve o privilégio de conviver com o Papa João Paulo II e receber, no ano de 1995, o título de Monsenhor. “Não há nenhuma diferença entre padre e monsenhor. Mesmo com o título de monsenhor, a coisa mais importante que eu tenho é ser padre”, explica. “Ser padre é realizar aquilo para o qual Jesus me chamou”, finaliza.
Com uma trajetória de vida que inclui mais de 40 países visitados, o monsenhor avalia que a cidade mais o marcou foi Apucarana. “O que sempre me fez amar Apucarana foi justamente a maneira como esse povo sempre me acolheu e está sempre me abraçando. Isso é porque Apucarana, se tornou a minha família”. Foi na cidade que Carrara comemorou seus 25 anos de sacerdócio e depois seu Jubileu de Ouro, e é aqui que pretende continuar sua missão de evangelizar.
Confira a entrevista
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Por Ana Quimelo
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