Um dos fatos marcantes dos 80 anos de Apucarana ocorreu em 22 de outubro de 1987. Por volta das 10 horas daquele dia, 47 militares do 30º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz), atual 30º BIMec, desembarcaram em quatro viaturas em frente à Prefeitura, cercaram o prédio e impediram a entrada e saída de servidores.
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À frente dos militares armados estava o capitão Luiz Fernando Walther de Almeida (hoje tenente-coronel da reserva), na época com 34 anos. Acompanhado por um grupo de soldados, o capitão invadiu o gabinete e entregou uma carta de protesto contra os baixos salários e a deficiência do atendimento de saúde aos militares.
O fato ocorrido em Apucarana deixou no ar um clima de desconfiança, com o temor sobre possível destituição do presidente da República, José Sarney, e a volta da ditadura militar, que ainda estava viva na memória da população. Imprensa e lideranças políticas da época repudiaram a atitude, mas o protesto surtiu efeito.
Na mesma noite, o então presidente José Sarney anunciou, em rede nacional, reajuste de 25% para todos os militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. O comando do Exército, porém, disse na época que o aumento já estava programado. O caso foi divulgado na época com detalhes pela Tribuna da Cidade e Jornal do Norte, precursores da Tribuna do Norte.
O manifesto foi entregue ao advogado Wilson Scarpelini Kaminski, então oficial de gabinete da prefeitura. Ele conta que o então prefeito, Carlos Scarpellini, estava em Curitiba em audiência com o governador da época, Alvaro Dias.
Kaminski lembra que a prefeitura abria ao público das 12 às 18 horas. Quando os militares chegaram, apenas os servidores estavam no prédio. “Foi um choque e algo assustador”, diz o advogado. Ele conta que os militares chegaram com fuzis e metralhadoras, fechando as entradas e saídas da prefeitura.
“Foi um fato que chocou Apucarana e todo Brasil, com repercussão nacional”, assinala, lembrando que foi uma ação coordenada e ocorreu simultaneamente com protestos em Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ). Neste último estado, o protesto foi coordenado pelo então capitão Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República.
Ele comenta que estava dentro de uma sala e o capitão teria entrando chutando a porta com o coturno. “Os militares não pediram licença e não teve cordialidade”, diz. O advogado cita que o capitão perguntou pelo prefeito e, quando informado de que ele não estava, pediu que ele, na condição de oficial de gabinete, assinasse o documento confirmando o seu recebimento.
Ao sair, o capitão pediu que ele esperasse alguns momentos até que a prefeitura fosse desocupada. “Mais de 35 anos depois, ainda guardo bem na lembrança aquele dia. Não foi algo soft, foi assustador, sim”, comenta. Veja entrevista em vídeo completa abaixo
O então capitão Walther foi julgado em Curitiba, na 5ª Circunscrição Judiciária Militar, tendo sido condenado a três anos de prisão. Depois ele foi julgado no Superior Tribunal Militar, em Brasília, onde a pena caiu para oito meses. E, por fim, acabou beneficiado por indulto natalino e cumpriu apenas cinco meses de prisão.
Em 2017, Walther visitou Apucarana e posou para fotos em frente à prefeitura. Ele participou do Desfile Cívico de Sete de Setembro na cidade. Foi a segunda visita dele a Apucarana. “Lutei pelas condições de saúde e salariais da minha tropa. Era penúria. Um caixa do Banco do Brasil ganhava mais que o comandante do batalhão. Hoje, os militares estão tendo condições de vida digna. Eu fui preso, julgado e condenado”, relembrou, justificando seu ato.
Sobre a polêmica de ter chutado a porta, ele garante: “Como estava segurando a metralhadora, bati com a ponta do coturno em baixo na porta, mas não chutei”.
Na entrevista em vídeo (veja abaixo), Wilson Scarpelini Kaminski cita os advogados Oscar Ivan Prux, José Rota e Armando Gracioli sobre fatos relativos ao episódio e seus desdobramentos na época. O TNOnline está com espaço aberto para manifestação dos três sobre o assunto caso achem necessário.
Veja o vídeo
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