No fim da década de 1980, Apucarana estampou os principais noticiários do país ao registrar uma confusão generalizada durante um bingo no antigo Estádio Bom Jesus da Lapa (atual Olímpio Barreto). O tumulto virou quebra-quebra com cinco veículos destruídos, incluindo os prêmios, que eram três carros zero quilômetro.
O episódio foi registrado em 16 de julho de 1989, quando uma multidão aguardava o bingo no estádio, algo muito comum à época. Na ocasião, os prêmios eram três carros, duas motos e duas mobiletes, o que atraiu aproximadamente 20 mil pessoas para o sorteio.
Com tanta gente interessada - e uma organização que deixou a desejar - o bingo, marcado para às 15 horas, atrasou e enfureceu o público. A revolta da população se justificou por ser dia de jogo entre Brasil e Uruguai pela Copa América, com início previsto às 17 horas. Por volta das 17h15, o bingo ainda não tinha começado.
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Jornais da época reportaram que o sorteio foi promovido pela Associação de Proteção à Maternidade e Infância (APMI), com promotores de Brasília, que usaram o nome da entidade em troca de uma cota estipulada em 12 mil cruzados novos. Dos prêmios divulgados, os mais desejados eram o Kadett, Fiat Uno e Gol, três carros famosos naquela época.
Antes do sorteio, o público assistiu um show da dupla sertaneja Preferido e Predileto, que terminou perto das 16 horas e nada do bingo começar. O apresentador até que tentou enrolar o público comentando coisas sobre o jogo do Brasil e a derrota de Maguila na luta contra o lendário norte-americano Evander Holyfield, que aconteceu no dia anterior.
Mas não teve jeito. Irritada, a multidão impaciente tomou o gramado do estádio e iniciou a confusão. Um grupo de aproximadamente 150 pessoas tombou um caminhão Mercedes Benz que continha mesas e outros materiais de sorteio. Mesmo após ser retirado fora do alambrado, o veículo de carga foi empurrado para uma ribanceira, após percorrer cerca de 50 metros e passar pelo muro do estádio.
A selvageria foi tamanha que o grupo depredou os prêmios do bingo que ficaram virados, quebrados e incendiados. A multidão enfurecida ainda tombou um segundo caminhão - um Fiat, que servia de palco para o show da dupla sertaneja e também foi depredado.
A cena foi recordada no grupo Apucarana Memórias, no Facebook. "Eu estava lá. Com a cartela na mão e vendo os carros queimando. Levei a cartela embora, na esperança de um novo bingo", escreveu a apucaranense Angela Tavares.
"O ocorrido se deu por falta de organização. Deu muita gente, e querendo cartela de última hora, o que foram vendendo, e aí foi liberado para o pessoal entrar dentro do campo. Kadett que era lançamento, viraram ele , com muita facilidade, era muita gente, me recordo de pessoas levando o estepe, chave de rodas dos carros, aí o 608, não conseguiram virar, e jogaram o mesmo pela ribanceira. Eu estava na arquibancada, tinha uns 14 anos", escreveu o motorista Janderson Marcelo da Silva.
"Eu estava lá com minha filha pequena, como muitas outras famílias com filhos. Um horror. O povo derrubou o alambrado onde ficava o portão de acesso para o gramado, muita gente saiu com ferimentos. Ficamos presos no portão, e o povo sem controle passando por cima. Queimaram tudo que estava no gramado", escreveu apucaranense Ana Mairene da Silva, também no Facebook. "Eu e minha família estávamos todos lá também. Foi um verdadeiro ato de vandalismo", escreveu Elizabeth Zaghini na mesma publicação.
Foram aproximadamente 40 minutos de duração até que os próprios vândalos decidiram sair do local. Não houve intervenção policial. Em entrevista divulgada à época, o oficial de relações públicas do 10° Batalhão da Polícia Militar na época, tenente Aurélio Chaves (hoje tenente-coronel da reserva), explicou que haviam policiais apenas para controle de tráfego na parte externa do estádio. O "bingo do horror" foi parar no noticiário nacional em reportagem divulgada pelo Fantástico, da Rede Globo.
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