Desenhada em 1936 pelo engenheiro agrimensor russo Alexandre Razgulaeff a pedido da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), a planta original de Apucarana previa originalmente apenas 53 ruas. Todas receberam, no primeiro momento, nomes de cidades paranaenses.
A partir de 1944, o município começou a substituir as denominações, homenageando personalidades públicas, datas históricas, nomes de países, etc. Poucas ruas continuaram com sua nomenclatura original. É o caso das ruas Curitiba e Ponta Grossa, no centro. A maior parte das demais, no entanto, foi renomeada ao longo dos anos.
O político paranaense Caetano Munhoz da Rocha foi o primeiro homenageado, dando nome a uma importante via pública da área central em 1944. Atualmente, Apucarana soma mais de 3 mil ruas e segue homenageando ao longo dos anos personalidades municipais, estaduais e nacionais.
No início de 2022, o jornalista Fernando Klein, repórter da Tribuna, publicou o livro “Alma e história das ruas de Apucarana – volume 1”, que destaca a trajetória de 25 personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do município e dão nome a ruas de Apucarana. Veja algumas das biografias retratadas.
Demétrio Santos Moreira, um ícone do futebol
Demétrio Moreira dos Santos marcou época no Grêmio Esportivo e Recreativo Apucaranense (Gera). Conhecido pelo apelido de Gorgó, o jogador construiu toda sua carreira no Água Verde, tradicional time de Curitiba, e foi contratado oficialmente pela equipe de Apucarana em dezembro de 1959. No entanto, ele já havia defendido a camisa do Gera em inúmeras partidas amistosas.
Com a camisa do Gera, Gorgó participou de uma das partidas mais emblemáticas da história do clube em 28 de janeiro de 1960, quando a equipe recebeu o Flamengo. O rubro-negro carioca, com time misto, venceu os apucaranenses por 1 a 0, gol de Manuelzinho.
A última partida de “Gorgó” pelo time apucaranense ocorreu em 3 de abril de 1960 em Ivaiporã. A ponte sobre o Rio Ivaí ainda não existia e a equipe precisou pernoitar no município, ainda conhecido como “Sapecado”, para pegar a balsa na manhã seguinte. A delegação, no entanto, perdeu a hora. Quando chegou às margens, a balsa já estava no meio do rio. Alguns jogadores decidiram nadar para passar o tempo. Foi quando “Gorgó” sofreu uma queda e morreu afogado aos 30 anos de idade.
Demétrio Moreira dos Santos foi sepultado no Cemitério Municipal, hoje Cemitério da Saudade. Foi homenageado denominando uma rua em 1961. Curiosamente, houve uma inversão do nome de batismo e a via pública ficou para a história como Demétrio “Santos Moreira” e não Demétrio “Moreira dos Santos”.
Elidio Stabile, um empreendedor de origem austríaca
Natural de Villa Vicentina, na Áustria, Elidio Stabile chegou ao Brasil em 1896, quando tinha 11 anos. O primeiro destino foi Orlândia (SP), onde trabalhou na lavoura cafeeira. Com apenas 17 anos, em 1902, Elidio se casou com Rosa Galvani, também natural de Villa Vicentina. O casal teve 12 filhos.
Após vender uma propriedade em São José do Morro Agudo, então distrito de Orlândia, Elidio Stabile chegou a Apucarana em 1942 e rapidamente conquistou notoriedade. Adquiriu uma fazenda, onde se dedicou ao plantio de café. Também montou na propriedade uma olaria de grande porte e começou a fazer investimentos na construção civil.
Já em 1943, integrou a Comissão dos 200, o grupo de 19 pioneiros que doou cada um 200 cruzeiros para o movimento pró-emancipacionista de Apucarana. Foi também um dos membros fundadores do Clube 28 de Janeiro.
Em 1959, começou a construção do Edifício Stabile, na Rua Professor João Cândido Ferreira, junto à Praça Rui Barbosa. Com sete andares, este foi por muitos anos o maior prédio de Apucarana. Nas décadas de 1950 e 1960, ele também abriu os loteamentos Vila Operária Stabile e Vila Santa Lorena em Apucarana. Ficou conhecido como Coronel Elidio Stabile, resquícios do tempo do coronelismo.
Morreu em 2 de novembro de 1966, aos 81 anos, após um quadro de insuficiência hepática. Virou nome de rua ainda em 1966 na região do Bairro 28 de Janeiro. A esposa Rosa e o filho Ângelo Stabile também dão nome a ruas da cidade.
Horeslau Saviski, adeus aos 11 anos de idade
Estudante do Colégio São José, Horeslau Saviski morreu com apenas 11 anos de idade, vítima de atropelamento. Filho de Alexandre e Estefania Saviski, de origem ucraniana, o garoto foi assistir aos jogos interescolares no Colégio Agrícola Manoel Ribas com o amigo Joaquim Francisco Gonçalves de Brito Amaro, o Chico. Eles foram de bicicleta, animados para assistir os colegas nas disputas esportivas.
Na volta, os dois garotos foram atingidos por um veículo na Avenida Minas Gerais, na altura da Praça Melvin Jones, nas proximidades do acesso à Rua do Seminário. O carro era dirigido por um motorista que, segundo testemunhas, estava alcoolizado. Horeslau bateu com a cabeça em uma pedra e ficou em estado grave. No entanto, os ocupantes do veículo – o motorista e um passageiro – socorreram apenas Chico, que era filho de um professor conhecido da cidade.
Levado para a Santa Casa (atual Hospital da Providência) por uma outra pessoa que passou pelo local, Horeslau precisou ser transferido para o Hospital Evangélico de Londrina por conta da gravidade dos ferimentos. Ele resistiu por dois dias, mas acabou morrendo no dia 2 de setembro de 1968. Chico sofreu apenas algumas escoriações e hoje é professor aposentado de jornalismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Horeslau Saviski virou nome de rua em 1969, denominando a então Rua Jaboti na região do Bairro da Igrejinha.
Ítalo Ado Fontanini, dono do famoso Bar do Ado
Ítalo Ado Fontanini marcou época em Apucarana. Foi proprietário do famoso Bar do Ado, inaugurado em 1940, e ponto de encontro dos pioneiros. O estabelecimento testemunhou os principais acontecimentos da fundação do município, das discussões pela emancipação política e administrativa, passando pela construção da Catedral Nossa Senhora de Lourdes até a reunião de criação do Clube 28 de Janeiro, entre tantos outros assuntos que dominavam as preocupações dos primeiros moradores de Apucarana.
Ítalo Ado nasceu em Pieve Fosciena, província de Lucca, na região da Toscana, na Itália, em 16 de abril de 1908. Foi na sua cidade natal que conheceu a esposa Josefina por volta de 1925. Ela nasceu em Jacutinga (MG) e estava na Itália a passeio. Nos primeiros anos no Brasil, ele morou em Jacutinga, depois em Presidente Venceslau, em São Paulo, até desembarcar em Apucarana por volta de 1940, quando abriu o bar na Praça Rui Barbosa.
Como muitas ideias nasciam no seu estabelecimento, passou a opinar e atuar ativamente. Integrou a primeira diretoria da Acia, em 1949, ocupando a função de 1º tesoureiro. O bar, depois transformado em concorrido restaurante, também foi o local escolhido para fundação do Rotary Club Apucarana em 1946.
Aos 42 anos, no auge dos seus negócios e consolidado como figura importante da sociedade apucaranense, Ítalo Ado Fontanini morreu após um ataque cardíaco em 25 de novembro de 1950. Em 1951, foi homenageado dando nome a atual Rua Ponta Grossa. Por conta de divergências na época, o projeto de lei foi revogado. A criação da atual Rua Ítalo Ado Fontanini foi finalmente oficializada em 1978, ligando a Vila São Paulo ao Loteamento Biguaçu.
Octávio de Sá Barreto, um poeta modernista entre nós
Advogado, escritor e poeta, Octávio de Sá Barreto chegou a Apucarana em abril de 1944 para assumir a função de 1º titular do Tabelionato de Notas. Natural de Curitiba, foi um dos protagonistas da literatura paranaense. Entusiasmado com o movimento modernista de São Paulo em 1922, que teve seu ponto alto com a Semana de Arte Moderna, ele se uniu a outros paranaenses para trazer ao Estado o modernismo de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, entre outros artistas.
Antes de chegar a Apucarana, Sá Barreto foi figura cultural proeminente em Curitiba nas décadas de 1920 e 1930, quando publicou seus primeiros livros: Nuvem Que Passa (1922) e Este Livro (1924). Nuvem que passa, inclusive, é considerado pelos críticos literários como o primeiro livro modernista paranaense.
Funcionário público, chegou a Apucarana para assumir as funções de 1º titular do Tabelionato de Notas. Em Apucarana, não demorou para que ocupasse um papel de protagonista na vida social e cultural do município. Foi um dos fundadores do Clube 28 de Janeiro em 1945. Também figura como fundador do Rotary Club em 1946. Fundou ainda o jornal semanário “Correio do Lavrador”, que circulou pela primeira vez em 6 de janeiro de 1950 e marcou época na imprensa apucaranense.
Presidiu também o diretório municipal da UDN (União Democrática Nacional) e foi por duas vezes candidato a deputado estadual (1950 e 1953), mas não conseguiu se eleger. Permaneceu em Apucarana até o início de 1951, quando regressou para Curitiba, onde ocupou o cargo de chefe de gabinete da Secretaria da Fazenda, comandada por Erasto Gaertner. É homenageado em Apucarana dando nome a uma rua no Jardim Ponta Grossa.
Antônio Ostrensky, o guardião dos ucranianos
Antônio Ostrensky nasceu em 18 de agosto de 1898 na aldeia de Makíivka, província de Tchernihiv, na Ucrânia. Por conta dos distúrbios políticos e guerras na Europa, ele desembarcou no Brasil em 1930. Na capital paulista, ele conseguiu emprego na Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná como almoxarife. Não demorou muito para crescer na empresa. Em pouco tempo, assumiu funções no escritório e depois foi contratado como contador.
A Companhia foi a responsável pela construção da estrada de ferro no trecho entre Ourinhos (SP) e Cambará (PR) em 1925. A empresa foi adquirida pela Companhia de Terras Norte do Paraná em 1928 e prosseguiu com a ferrovia rumo ao Norte do Paraná, inaugurando estações no Norte Pioneiro.
Antônio Ostrensky acompanhou a construção dos trilhos e chegou a Londrina em 1932. Em 1935, ele teve uma iniciativa considerada audaciosa por seus superiores. Solicitou à companhia a reserva de 5 mil alqueires na Gleba Barra Nova em Apucarana e se comprometeu a colonizar a área com imigrantes ucranianos. A ideia, que parecia fadada ao fracasso, acabou dando certo. No final de 1936, havia em torno de 100 moradores da etnia assentados na localidade, que pouco tempo depois foi rebatizada de Colônia Nova Ucrânia.
Foi ainda na Gleba Nova Ucrânia que o pioneiro criou a primeira Igreja Ortodoxa Ucraniana da região, além de ter contribuído também da Associação Escolar, assumida posteriormente pelo professor André Berezoski. Adquiriu uma propriedade conhecida como Colônia Mineira e também investiu nesta fazenda em cafezais. Nesta mesma localidade, o governo do Paraná criou, em 1995, a primeira Vila Rural do Estado, denominada “Vila Rural Nova Ukrania”.
Antônio Ostrensky morreu em Londrina no dia 10 de agosto de 1954, com 56 anos. Foi homenageado em 1961, recebendo nome de uma rua em Apucarana. O filho Eugênio Ostrensky também virou nome de rua. Ele morreu em acidente de trânsito em 1994 em Londrina e ainda hoje é considerado um dos maiores especialistas em cafeicultura no Paraná.
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