Os dois réus acusados de envolvimento no atentado contra então prefeita eleita de Califórnia, no Norte do Paraná, Ana Lúcia Mazeto Gomes, foram condenados na madrugada desta quinta-feira (14) após júri que durou mais de 19 horas no Fórum da Comarca de Marilândia do Sul. O crime aconteceu em 21 de novembro de 2012. Na ocasião, um homem fez 15 disparos de arma de fogo na direção da prefeita eleita quando ela estava na sede da Associação de Pais e Amigos dos Exepcionais (Apae). Ana Lúcia não foi atingida.
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Autor dos disparos, Marcelo Garcia Kanoff, hoje com 46 anos, foi condenado pelo júri a 8 anos anos e 2 meses de prisão em regime fechado. Já o ex-contador da prefeitura de Califórnia, Luiz Roberto Woidela, 42 anos, apontado como o mandante da tentativa de homicídio, recebeu uma pena de 7 anos e seis meses em regime semiaberto.
Marcelo Kanoff, que também é de Califórnia, estava preso por outros crimes, enquanto Woidela aguardava o julgamento em liberdade.
O júri começou às 9 horas de quarta-feira (13) e terminou por volta das 4 horas desta quinta (14). A promotora Renata Boaventura atuou pelo Ministério Público (MP), tendo os advogados de Apucarana, João Batista Cardoso, e Lucas Eduardo Cardoso como assistentes de acusação. A defesa dos réus contou com 9 advogados, quatro representaram Kanoff e cinco Woidela.
Em entrevista ao TNOnline, a ex-prefeita Ana Lúcia afirmou que o resultado restaura a dignidade dela e da família. "Fomos humilhadas ao longo de 10 anos. Muita gente da comunidade dizia que o atentado era uma armação, que não tinha acontecido. O julgamento mostra que a verdade tarda, mas não falha", disse.
Ana Lúcia acompanhou quase todo julgamento e enalteceu o trabalho do Judiciário, apesar da morosidade até o julgamento. "A família sofreu muito com essa demora", assinala.
Ela afirma que o atentado teve motivação política, já que o mandante era contador da prefeitura e havia denúncias de irregularidades. "Ele (o mandante) sabia que a gente iria investigar", comenta Ana Lúcia, que ficou na prefeitura entre 2013 e 2016.
A ex-prefeita deixou a política. "Foi um mandato muito desgastante por conta disso (atentado). Fiz meu trabalho, mas não pretendo mais voltar (à politica)", disse Ana Lúcia, que é professora aposentada.
A advogada Franciele Bellan, do réu Luiz Roberto Woidela, afirma que a defesa vai recorrer da decisão no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Em entrevista ao TNOnline, ela antecipa que recursos serão apresentados para contestar a pena e também para solicitar a nulidade do júri. "Houve diversas situações passíveis de nulidade no júri", afirma.
Segundo Franciele, não havia provas suficientes para condenar Woidela e também do outro réu. "O processo foi eivado de erros e vícios, desde a época que começou a investigação policial", pontua.
Em nota nesta quinta-feira (14), a banca de advogados de defesa do réu Márcio Garcia Kanopf informou que vai se reunir nos próximos dias para confecção de recurso, por considerar o resultado do júri contrário às provas existentes nos autos. A banca é composta pelos advogados Alexandre Adriano Correia, Heitor Cazionato Possani, Alcindo Carlos Mariotto Junior e André Aranda Castro dos Santos.
CRIME
Segundo a Polícia Militar (PM), a prefeita estava na igreja, quando recebeu um telefonema e foi para a sede Apae, na Avenida Getúlio Vargas, no centro da cidade. Quando estava chegando, uma pessoa a chamou. Neste momento, um homem sacou uma pistola e efetuou vários disparos de arma de fogo na direção do salão, mas errou o alvo e Ana Lúcia não ficou ferida.
"Ela nos contou que um homem em uma moto gritou de longe: 'Ana, você é a prefeita?' e quando ela respondeu afirmativamente o criminoso começou a atirar", relatou o soldado Janir Peçanha, do Copom do 10ºBPM de Apucarana, ao TNOnline na época.
Ana Mazeto havia sido eleita com 2.865 votos (50% dos votos válidos na cidade) nas eleições de outubro de 2012.