Estudante de escola pública de Faxinal é aprovado para Medicina

Autor: Da Redação,
terça-feira, 27/12/2022
Vinicius e a mãe, ao receber o resultado de um dos vestibulares prestados no meio do ano

Um exemplo de dedicação e foco pode ser encontrado na história recente de um rapaz de apenas 17 anos, de Faxinal, no Vale do Ivaí, que conseguiu passar em três vestibulares para Medicina, curso sempre entre os mais concorridos em todas as universidades públicas e privadas do país. O estudante Vinicius Barros Bortoni Gomes teve um mês de dezembro dos mais agitados: concluiu o terceirão no Colégio Estadual Érico Veríssimo, foi o orador das três turmas formandas da escola, também teve a formatura no curso de inglês, foi aprovado no terceiro vestibular de medicina do ano – nas duas primeiras aprovações ainda era treineiro, ou seja, não havia terminado o ensino médio - e, na semana do Natal, fez a matricula no curso que decidiu fazer quando ainda era criança.

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Vinicius tem todo seu histórico estudantil, desde a pré-alfabeticação, construído na rede pública, em Faxinal. “Estudei na Escola Municipal Tancredo Neves, também na Escola Municipal Elza Davantel Cabral, no Colégio Estadual Professora Maria Muziol Jaroskevicz e no Colégio Estadual Érico Veríssimo”, faz questão de citar, mostrando um orgulho que vem dos pais, ambos servidores públicos municipais e também “crias” da escola pública. A mãe, Kelly, é enfermeira e atua na vigilância sanitária. O padrasto, Francisco Alfredo Ferreira, o Ral, é administrador público e advogado, atua na assessoria jurídica da prefeitura.

O rapaz explica que fez o primeiro vestibular, ainda como treineiro, no ano passado e desde então vinha se preparando para concorrer a uma vaga de medicina. Ele estudou em casa, sozinho, com uma regularidade “canina”, preenchendo uma média de seis horas diárias. E ainda fez questão de manter outras rotinas, como a prática de esportes, como o futebol e o vôlei, outras paixões. Ele foi campeão do Bom de Bola, em Cambira, com seu time da escola jogando contra Novo Itacolomi.

Nesse ano, encarou para valer os vestibulares no meio do ano. Reduziu as atividades esportivas que tanto ama, se concentrou nos estudos, com vídeos e pesquisas na internet e fez seis provas e passou em duas, para a UniCesumar, no Paraná, e para a Unoeste, de São Paulo. O padrasto, Francisco Ferreira, até entrou na justiça para tentar a matricula do rapaz, em junho, mas o processo ainda tramita. O menino ainda não havia terminado o ensino médio. E, agora, no final do ano, Vinicius fez outras cinco provas e obteve uma aprovação, novamente, na Unoeste. No mesmo mês em que se formou no Ensino Médio, matriculou-se para cursar medicina, no campus Guarujá, da Unoeste. E, em março, vai tentar novamente, agora na Universidade Estadual de Londrina (UEL).

“Eu consegui estudar, mas também sempre me distraí um pouco, uma ou duas horas por dia! Sempre conciliando atividade física, amigos, a namorada e os estudos”, explica. Modesto, diz que sua performance estudantil deve ser atribuída aos esforços e aos bons relacionamentos com colegas e professores.

Os pais não cabem em si mesmos, de tanto orgulho com o filho. “E não apenas pela performance de estudante”, ressalta a mãe, Kelly Barros. “Ele é uma pessoa incrível”, afirma, falando das relações que sempre manteve com professores, diretores, colegas e amigos. “Recebemos muitas mensagens de professores e diretores parabenizando ele. Todos sempre realçam o quanto ele é educado e gentil com as pessoas”, relata a mãe.

O padrasto destaca que convive com o rapaz desde quando ele tinha 4 anos. “Ele sempre se mostrou um menino diferenciado. Muito prestativo e sempre com um perfil de liderança, em tudo que fazia”, resume, orgulhoso. “Ele sempre ama o que faz e por isso se compromete com tudo, se envolveu em atividades estudantis, em jogos. Até fez questão de usar camiseta do time da escola quando foi para o vestibular”.

Ral, como o padrasto é conhecido em Faxinal, destaca que o rapaz sempre estudou em escola publica. “Eu também sempre estudei em escola pública. A mãe dele também. Escola pública tem sim como ofertar ensino de qualidade. Mas são as pessoas que sempre fazem a diferença ao se comprometer com os objetivos”, comenta.

A mãe destaca que o menino cresceu em meio a muitas rotinas, como hora de dormir, de brincar, de comer, de estudar. “Com essas rotinas, ele aprendeu muito sobre assiduidade, em tudo, até na prática de esportes e para o lazer. Ele recebeu muito incentivo e sempre demonstrou muita responsabilidade”

Vinicius diz que medicina foi sua escolha “desde sempre”. Além da mãe, ele tem mais duas enfermeiras na família, uma tia e uma prima. E seu bisavô, Luiz Gonzaga Bortoni, foi o primeiro médico anestesista de Londrina, onde Vinicius nasceu. Filho de pais separados, mudou-se para Faxinal, com a mãe, quando ainda tinha três anos de idade.

Assim, optar por medicina foi um caminho natural. “Eu queria ajudar as pessoas. Decidi por medicina quando ainda era criança. Quero ser um bom profissional, aquele tipo de médico que acolhe o paciente”, diz. E explica que já foi a uma consulta e foi mal atendido. Mas também viu o padrasto ficar muito tranquilo quando foi fazer uma cirurgia e o médico o acolheu muito bem. “É assim que quero fazer, atender bem as pessoas, ajudar os pacientes”.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

Aluno do tipo que curte aprender, Vinicius se sentiu desafiado ao ser indagado se já havia lido a obra prima escrita pelo gaúcho Érico Veríssimo, o romance “Olhai os lírios do campo”. Veríssimo dá nome ao último colégio de Vinicius Barros em sua trajetória de Ensino Médio. Como disse que ainda não leu, revelou muito curiosidade e prometeu ler a obra para conhecer o personagem do romance, Eugênio. No romance de Veríssimo, o personagem central, Eugênio, é um rapaz de família humilde que muda sua história ao conseguir cursar medicina. “Ah, vou ler. Gostei dessa dica”.