As cooperativas da região estão acompanhando com atenção os desdobramentos do conflito na Ucrânia. Sem um acordo nas próximas horas, a previsão delas é que em poucos dias o mercado fique sem insumos para atender a demanda da produção agrícola, especialmente os fertilizantes. Por conta da cotação em dólar, os preços estão em alta e já ameaçam os investimentos por parte dos produtores, que não vão conseguir bancar os custos de produção. O cenário é crítico, admitem dirigentes das áreas comercial e de suprimentos de cooperativas como a Cocari, de Mandaguari, a Cooperval, de Jandaia do Sul e a Coonagro, que é basicamente uma união de cooperativas criada para fazer as transações internacionais de fertilizantes.
Cristiano Camargo, gerente de suprimentos da Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cocari), de Mandaguari, diz que “Infelizmente, o risco de ter falta de insumos é real e séria. Já há uma nova pressão sobre os custos das novas compras pela redução da oferta global”, diz, referindo-se às crises anteriores que já afetavam o mercado de fertilizantes, como a crise comercial envolvendo a China, mais recentemente o caso da Bielorússia e agora, a guerra da Rússia na Ucrânia.
Já o gerente financeiro da Cooperval – Cooperativa Agroindustrial Vale do Ivaí Ltda (Cooperval), Luiz Guilherme Barbieri Deosti, diz que pode sim faltar fertilizantes dentro de alguns dias. “Isso (a guerra) afeta toda a cadeia produtiva de suprimentos. Especialmente lembrando que a Rússia é a principal fornecedor de adubos para o Brasil”, afirma.
Por sua vez, o diretor comercial da Coonagro – Cooperativa Nacional Agroindustrial (Coonagro), Giovanni Hildebrando Gonçalves, diz que o impacto já é muito violento para o agronegócio brasileiro. “Já não temos mais fretes de navios para a Rússia, desde segunda-feira as vendas estão suspensas e todos aguardam até amanhã (quinta-feira, 03) para saber o que pode ocorrer na sequência”, diz, referindo-se às novas rodadas de negociação sobre a guerra da Rússia.
Preços disparam
Cristiano, Luiz Guilherme e Giovanni lembram que os preços dos insumos agrícolas, especialmente fertilizantes e defensivos, possuem componentes dolarizados e há tempos vinham em pressão de alta, especialmente por conta da desvalorização da moeda brasileira, o que ajudou a onerar os custos de produção.
“Porém, a soja, por exemplo, teve uma valorização maior que a elevação dos insumos, o que permitiu ao produtor, até a safra 20/21, melhorar sua rentabilidade. Mas esse cenário mudou para esse ano”, avisa Cristiano Camargo. “Infelizmente ainda sofremos com o reflexo da pandemia causada pela Covid-19, que desencadeou um forte desabastecimento em toda a cadeia fabril de insumos voltados para o agronegócio, promovendo, ao mesmo tempo, a falta de produto e aumento de preços”, explica.
Camargo diz que a Cocari procura, atualmente, antecipar movimentos e amenizar o impacto aos cooperados. “Temos acesso a várias consultorias de mercado e fornecedores estratégicos que nos apoiam na melhor leitura de mercado para nos posicionarmos comercialmente. Além disso, nossa capacidade de armazenamento é um diferencial. Diante das incertezas, nós antecipamos nossas compras e solicitamos uma programação de entrega pelos fornecedores o que nos dá uma grande segurança que é repassada aos cooperados”, informa. No entanto, caso o bloqueio decorrente da guerra persista, o quadro de crise deve se agravar.
Produtores acusam perda de rentabilidade
De acordo com Luiz Guilherme, da Cooperval, os produtores já estão acusando perda de rentabilidade nas culturas em decorrência do cenário econômico agravado desde o início da pandemia. “O nosso produtor sente impacto mais forte com a alta de preços dos insumos desde 20/21, por conta da pandemia, que provocou uma queda na produção de insumos e a consequente elevação de preços. 2021 foi o primeiro ano desde o início da pandemia com o ciclo produtivo 100% impactado em seus custos de produção. E agora tem o agravante de uma guerra”.
Ele lembra, por exemplo, que o glifosato custava, até há algumas semanas, algo em torno de R$ 20 por litro e agora, quando encontrado no mercado, o preço já está em R$ 90 por litro.Giovanni Gonçalves, da Coonagro reforça a leitura. Ele comenta que a tonelada de uréia era comercializada na casa de 750 dólares pouco antes da guerra e hoje já está na casa de 950 dólares. O Cloreto de Potássio, especula, deve passar da casa dos US$ 1 mil por tonelada, já a partir desta quinta-feira (03), “se for encontrado no mercado”, ressalva. O preço era cotado a U$S 880 há uma semana. “Se não houver acordo no caso da Rússia, vai faltar produto e o que tiver disponível no mercado vai ter preços disparados”, avisa.
Por, Claudemir Hauptmann