Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa começa a valer

Autor: Da Redação,
quinta-feira, 01/01/2009

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa passa a valer a partir desta quinta-feira (1) no Brasil. O período de transição para que a população se adapte às mudanças vai até o fim de 2012 - a partir de 1º de janeiro de 2013, a nova ortografia será a única considerada correta.

Apesar de escolas, editoras e meios de comunicação já começarem a se adaptar, o texto do Acordo não esclarece a grafia de uma série de palavras.

De acordo com a Academia Brasileira de Letras (ABL), essa definição só sairá com a publicação de um novo Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Com a função de registrar a forma oficial de escrever as palavras, o Volp só deve ser publicado em fevereiro, com cerca de 300 mil termos.

Com a ortografia unificada, mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo podem se comunicar sem o receio de ser incompreendidas. No Brasil, os milhares de Wagners, Yaras e Kamilas poderão encontrar todas as letras de seus nomes no alfabeto oficial, pois k, w e y voltam a ser aceitos. Em Portugal, quem quiser fazer um chá, pode comprar erva doce e não mais herva doce.

Além da volta das três letras excluídas do alfabeto em 1971, quando foi referendado um sistema ortográfico simplificado, estabelecido pela Academia Brasileira de Letras em 1943, o trema deixa de ser usado definitivamente, assim como o chamado acento diferencial - o que faz com que a palavra pelo possa ser tanto por meio de quanto uma flexão do verbo pelar (eu pelo o cachorro) e o substantivo usado para denominar o que recobre o braço humano (os pelos).

O hífen e os acentos agudos e circunflexos também deixam de ser usados em algumas situações: ninguém mais precisará ter auto-controle para não entrar numa paranóia por causa do horário do vôo - e sim, terá ou não autocontrole, sem hífen, paranoias, sem acento agudo, e voo, sem o circunflexo. O autocontrole e a paranoia também não são necessários para aprender logo as novas regras: até 2012, o país vive um período de transição, em que são aceitas as duas formas.

O governo, aliás, ainda deve demorar um pouco para adotar a nova forma de escrita. Só neste mês a Casa Civil começará a atualizar o capítulo sobre ortografia do seu Manual de Redação. Na prática, isso quer dizer que os textos oficiais - como aqueles publicados no Diário Oficial da União - só passam a adotar as novas regras quando a atualização for feita.

De acordo com a assessoria de imprensa da Casa Civil, não há um prazo definido para que seja concluída a atualização, e a estimativa é de que não demore muito. Há um guia com as novas regras do acordo ortográfico na intranet para ser acessado pelos ser servidores do Palácio do Planalto, mas, para virar oficial, é preciso que as mudanças constem no manual. A atualização é feita pelo setor jurídico da Casa Civil e uma comissão foi formada para fazer as alterações.

Em 2010, os livros didáticos adotados pelo Ministério da Educação já devem vir com as novas normas da língua - editoras e autores também já estão em processo de adaptação. Para toda a sociedade, não há nenhuma modificação no modo de falar. Linguiça, mesmo sem trema, se pronuncia da mesma maneira, e mesmo com a admissão das três letras no alfabeto, quilo não passará a ser grafado kilo.

Contudo, a volta das letras é importante para o reconhecimento de outras línguas brasileiras - são cerca de 170, em que se incluem as línguas indígenas. São línguas ágrafas (sem escrita), mas, à medida que os linguistas passam a estudá-las, passam a criar grafias para elas, e muitas dessas palavras são grafadas com y, conta a linguista da Universidade de Brasília, Stella Bortoni.

Ela afirma que idiomas como o francês e o espanhol usam a mesma ortografia oficial, e a unificação do idioma é um passo crucial para o reconhecimento como língua internacional. É um dia glorioso para a política da língua portuguesa