Nos últimos anos, as propriedades rurais da região do Vale do Ivaí, no norte do Paraná, foram invadidas por aviários que, em pouco tempo, transformaram o panorama da produção agrícola nestes municípios. Hoje, a avicultura desponta como uma das principais atividades econômicas da região, perdendo apenas para a soja em geração de riqueza. Várias características fazem com que estas 27 cidades formem um dos principais polos do setor em todo o Paraná.
O Valor Bruto de Produção (VBP) é um índice que soma toda a riqueza produzida nos municípios através da agricultura. O documento referente a 2017 aponta que o VBP de toda a região foi de quase R$ 3,32 bilhões. Deste total, 30,1% é referente ao cultivo de soja, o que equivale a cerca de R$ 1 bilhão. Já 23,2%, ou pouco mais de R$ 771 milhões, vem da avicultura.
A importância da criação de aves para a região fica clara nos números do setor. Dos 27 municípios da região, 17 têm a avicultura de corte entre as três principais atividades agrícolas. Em oito deles, a avicultura de corte fica em primeiro lugar no VBP. Em seis, é o segundo lugar no índice e, em outros três, a atividade fica na terceira colocação.
Apucarana é a cidade com maior valor gerado pela avicultura de corte na região: foram quase R$ 117,7 milhões em 2017. A cidade conta com um 3 milhões de aves alojadas e produção de mais de 15,5 mil toneladas ao longo do ano.
Ciclo de criação leva em torno de 60 dias | Foto: Delair Garcia
Ciclo de criação
Wilson Massambani é avicultor no município. A cada 60 dias, o aviário da propriedade dele recebe 26 mil pintinhos, que depois de 45 dias são recolhidos pela empresa responsável pelos abates. Depois de 15 dias de preparo, o aviário recebe novas aves, reiniciando o ciclo.
“A criação de frangos tem crescido muito na região. Estamos muito próximos de grandes empresas e abatedouros, o que torna a atividade perfeita do ponto de vista logístico. Para o produtor, é uma vantagem imensa. O aviário não ocupa muito espaço e, com isso, não há disputa com outras culturas. É possível plantar o que quiser e ter um aviário, tudo na mesma propriedade”, diz.
Ele destaca ainda que o substrato resultante de cada ciclo, a chamada ‘cama de aviário’, pode ser usada como adubo para as plantações. “Outra vantagem é que, a cada 60 dias, o agricultor recebe uma quantia. É diferente da soja, por exemplo, que demora seis meses entre plantio e colheita. Com as aves, o fluxo de caixa fica mais dinâmico, além de diversificar a produção”.
Ovos de codorna
Apucarana se destaca ainda na produção de ovos de codorna. Foram mais de 106,4 milhões de unidades produzidas, com valor gerado de mais de R$ 6,6 milhões. A avicultura da cidade é completada pela produção de ovos de galinha, que gerou R$ 134 mil através da produção de 648 mil unidades. Toda a avicultura da cidade movimenta quase R$ 124,5 milhões, o que equivale a 42,3% de todo o VBP do município (R$ 294,3 milhões).
Arapongas de destaca na produção de ovos | Foto: Tribuna do Norte
Arapongas é a cidade onde a avicultura ocupa o maior percentual em relação ao VBP total. Em 2017, o município gerou R$ 347 milhões no campo, sendo 52,5%, ou R$ 182 milhões, derivado da avicultura. Com um rebanho de 1,8 milhões de cabeças, o município produziu cerca de 11 mil toneladas de carne de ave, gerando mais de R$ 92,6 milhões.
Além da avicultura de corte, a cidade é a maior produtora de ovos de galinha do Paraná. Em 2017, os 422,6 milhões de ovos geraram R$ 87,3 milhões. Já os ovos de codorna renderam R$ 2 milhões, através de 33 milhões de unidades. Os principais aviários de galinhas poedeiras existem no município há pelo menos cinco décadas, mas souberam se modernizar e hoje têm boa parte das linhas de produção automatizadas.
Potencial em crescimento
“A avicultura tem enorme potencial na região por uma série de fatores. Um dele é geográfico: temos vários abatedouros em cidades próximas, o que facilita o transporte e diminui custos. Também há a própria vocação da região, que tem uma predominância de propriedades de porte menor. Como os aviários não ocupam muito espaço, são uma opção excelente. O Paraná é o líder em frangos de corte no país e a região de Apucarana é um dos maiores polos do setor no estado”, afirma Mário Bezerra Guimarães, chefe do Núcleo Regional da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (SEAB).
Segundo ele, há uma importância fundamental no avanço da criação de aves na região. “A avicultura eleva a produção rural e gera renda para as pessoas do campo. Isso tem reflexos não apenas econômicos como também sociais, contribuindo para a redução do êxodo rural e também dando empregos dignos a esta população”, ressalta.
Cama de aviário serve ainda para adubar lavoura de soja, principal produção da região | Foto: Tribuna do Norte
Modernidade
Hoje, os aviários da região contam com o que há de mais moderno em termos de criação. Praticamente todos contam com climatizadores, que mantém a temperatura amena e umidade controlada para os animais. Além disso, boa parte das estruturas é automatizada, com a liberação de ração em períodos específicos e monitoramento 24 horas. Tudo isso eleva consideravelmente a eficiência, fazendo com que as perdas animais sejam próximas a zero, com lucros cada vez maiores.
Outro município que se destaca na avicultura é Jandaia do Sul. A cidade produziu, em 2017, R$ 67 milhões, o equivalente a 45,2% do VBP total, que foi de R$ 148,3 milhões. O número de aves é de 1,4 milhão de cabeças, com produção de 8,6 mil toneladas. Em Novo Itacolomi, um dos municípios pioneiros na implantação das granjas, a produção foi de 8,1 mil toneladas. São 1,3 milhão de aves alojadas que renderam R$ 60,4 milhões, ou 51,6% do VBP total, de R$ 117,1 milhões.