Dos esportes de aventura ao roteiro da fé: a vocação turística do Vale do Ivaí

Autor: Da Redação,
terça-feira, 09/04/2019
Dos esportes de aventura ao roteiro da fé: a vocação turística do Vale do Ivaí

A partir de 2019, as cidades que integram a Associação dos Municípios do vale do Ivaí (Amuvi) passam a dispor de planejamento, orientação e apoio logístico para investir na fruticultura e turismo. O potencial de desenvolvimento sustentável das duas atividades em uma perspectiva regional foi levantado em um levantamento técnico feito pela Paraná Projetos. Além de levantar potencialidades, a agência propõe um plano de ações para incentivar e fortalecer os negócios.

O estudo realizado ao longo de 2018 pela Paraná Projetos, incluiu visitas a propriedades rurais de vinte e dois municípios da região, além de questionários respondidos por noventa e oito produtores, que já aderiram ao projeto. Também foram realizadas oficinas de capacitação e cursos sobre o que a região poderia oferecer de atrativos.

Os estudos da equipe indicam que a fruticultura é muito viável em diversos municípios e a atividade já está em pleno desenvolvimento. A pesquisa realizada entre os agricultores mostra que 24% destes já cultivam algum tipo de fruta. São produzidas anualmente na região 79,3 mil toneladas de frutas, levando-se em conta apenas as oito cultivares com maior produção.

Na regional de Apucarana da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), que agrega 13 dos 26 municípios da região, as frutas movimentam R$ 43,4 milhões por ano, segundo dados do Valor Bruto de Produção Agrícola (VBP).
Indicada para pequena propriedade por gerar renda no ano inteiro com possibilidade de exploração em áreas menores e mais acidentadas, a fruticultura já tem sido uma aposta  de vários municípios da região, que vem implantando programas de incentivo.

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Projeto de desenvolvimento sustentável para exploração do potencial econômico local fortalece agricultura familiar | Foto: Sérgio Rodrigo

Um exemplo é Apucarana, que adotou um programa de subsídios -  o Terra Forte – que oferece mudas, insumos e assistência técnica aos produtores, que pagam o investimento após a colheita, em frutas para merenda escolar. Premiado, o programa atingiu em 2018 – no quarto ano de atividade – 120 toneladas de frutas entregues pelos 120 produtores participantes. Dez variedades de frutas foram integradas às propriedades, com planos de expansão para este ano.

Uva

O cinturão de frutas do Vale do Ivaí também tem consolidado o cultivo da uva de mesa – com destaque para Jandaia do Sul e Rosário do Ivaí que produziram, ano passado 3,7 mil toneladas, movimentando R$ 16 milhões -, banana – que tem em Novo Itacolomi o maior produtor regional, abacate e caqui.

Com um perfil de produção de pequena propriedade, a fruticultura complementa o turismo, a segunda atividade de potencial de desenvolvimento local levantada pelo estudo. “A exemplo do que aconteceu no interior de São Paulo, podemos criar aqui, gradativamente, um circuito de visitação turística e até agroindústrias a médio e longo prazo”, analisa Patrícia Baratieri Atherino, gerente de planejamento da Paraná Projetos.

Circuito das frutas

A possibilidade de criar um circuito das frutas é uma das propostas de um programa de incentivo à fruticultura que vem sendo devolvido desde o ano passado na Amuvi em parceria com universidades e órgãos técnicos. Dezenas de extensionistas e técnicos das prefeituras passaram por capacitação.

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Produção de uva mesa já está consolidada na região | Foto: Sérgio Rodrigo

Agricultura familiar

O projeto também coloca o turismo como uma atividade de grande potencial para região. Segundo o estudo, que fez um levantamento dos atrativos e da rede de serviços de todos os municípios envolvidos, o segmento pode ser explorado em três vertentes, o  turismo rural, mais focado na agricultura familiar, religioso e de aventura (ver box).

Marta Takahashi, do setor de turismo da Paraná Projetos, anunciou que a partir do próximo ano serão feitas as primeiras interferências físicas na região, visando incrementar os negócios, incluindo a agroindústria familiar, que pode aproveitar o turismo para comercialização de seus produtos. “O potencial para a agroindustrialização é muito forte no Vale do Ivaí”, comenta.

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Fruticultura gera renda o ano inteiro e pode ser agregada ao turismo | Foto: Tribuna do Norte

Sinal de que a pequena propriedade atrai turistas é o crescimento das caminhadas da natureza. Realizadas pelo Instituto Emater em parceria com as prefeituras e Amuvitur, as caminhadas estimulam o contato com a natureza e a divulgação dos atrativos turísticos rurais da região. Em 9 anos, o Vale do Ivaí criou 20 circuitos, que atraem, em média, 700 caminhantes por etapa. As rotas exploram os atrativos locais, como as cachoeiras de Faxinal, a produção de uva de Rosário do Ivaí, entre outros – e integram as propriedades rurais nos circuitos com oferta de alimentação e venda de produtos típicos.

Ecoturismo

O agricultor e proprietário do Recanto Charanga, em Ivaiporã, Antônio Zeferino, relata que há dois anos seu estabelecimento passou a fazer parte do circuito. “É uma grande oportunidade, abriu as portas para outras regiões e deu mais visibilidade a nossa propriedade”, relata

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Caminhadas são comuns na zona rural de diversos municípios | Foto: Tribuna do Norte

O turismo rural também encontrou na preservação ambiental uma fonte de renda. Na região, algumas propriedades se destacam na profissionalização da atividade. São expoentes, por exemplo, a Fazenda Barbacena – uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 555 hectares de Mata Atlântica em São Pedro do Ivaí que explora pesquisa e turismo ecológico em trilhas guiadas. No mesmo município, a Fazenda Santa Filomena, que fica às margens do Rio Ivaí é reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) por abrigar milhares de peças indígenas. “Hoje passamos a olhar também para o turismo como oportunidade de emprego e renda” assinala o prefeito de São Pedro do Ivaí, José Isalberti (PTB).

Adrenalina

Ciclismo de aventura, montanhismo, canoagem, caiaque, parapente, rapel em cachoeiras e trilhas ecológicas. As paisagens acidentadas do Vale do Ivaí abrem espaço para uma série atividades esportivas que devem ser exploradas em um circuito que está sendo viabilizado em conjunto entre a Paraná Projetos, prefeituras e iniciativa privada e é o primeiro passo da. O projeto Vale da Aventura vai interligar os municípios de Borrazópolis, Faxinal, Grandes Rios, Rosário do Ivaí e Mauá da Serra em trajetos ciclísticos. 

Com um percurso total de 255 km, a rota também vai abrir espaço para outros esportes de aventura, como o parapente e canoagem. O circuito já foi todo mapeado e deve receber placas indicativas nos próximos meses.

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Caiaque no Rio Ivaí: esportes aquáticos devem ganhar mais espaço na região | Foto: Tribuna do Norte

Dono de um resort em Borrazópolis, localizado às margens do Rio Ivaí e especializado em esportes aquáticos, o empresário Fábio Couto Rosa foi um dos envolvidos na criação do circuito. Ele destaca que esse é um excelente momento para o crescimento do turismo. “Essa é uma porta que finalmente foi aberta e, com apoio da Amuvi e do Paraná Projetos, é uma área que tem muito potencial”, comenta. O empresário, que também é esportista, destaca que apesar da região ser atravessada pelo Ivaí, o rio é pouco explorado turisticamente.

Potenciais explorados

Cada município integrante do circuito tem um potencial. O secretário municipal de turismo de Rosário do Ivaí, José Manoel Silva, destaca que o município é um dos melhores do estado para o salto de parapente.  “O Morro dos Porongos tem cerca de mil metros de altitude e sete rampas naturais para saltos, sendo o único lugar do Brasil em que os saltos são garantidos independente da direção dos ventos”, conta.

Grande Rios já vem explorando atividades de remo e canoagem; Borrazópolis tem ótimos trechos do Ivaí para caiaque; Faxinal é o paraíso do rapel em cachoeiras; e Mauá da serra é classificada como o portal de entrada do Vale do Ivaí, com muitas pousadas, gastronomia e os atrativos da serra.

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Cachoeiras são principais atrativos de Faxinal | Foto: Divulgação

Roteiro da fé

O turismo regional também tem atrações com menos adrenalina e mais reflexão. São os roteiros de fé, que atraem milhares de visitantes todos os anos. Com cerca de 5 mil habitantes, Lunardelli é o principal expoente do turismo religioso local. O município abriga o Santuário de Santa Rita de Cássia, que tem projeção nacional e recebe cerca de 400 mil visitantes por ano.

As novenas e caravanas de devoção à santa das causas impossíveis – que são realizadas principalmente nos finais de semana - geram renda em restaurantes, lanchonetes e lojas de artigos religiosos. O santuário foi ampliado recentemente e mais que dobrou sua capacidade, hoje em mil pessoas.  O prefeito de Lunardelli, Reinaldo Grola (PTB), destaca que a prefeitura está trabalhando para ampliar os atrativos da cidade e integrar o turismo religioso ao turismo rural. “Estamos trabalhando para melhorar a receptividade e apoiando os novos empreendimentos que se interessam em instalar aqui”, assinala Grola. O município tem duas reservas particulares localizadas na Mata Suíça e na Fazenda Urutaguá, que recebem visitas de estudantes, professores, pesquisadores e são utilizadas para caminhadas em meio às trilhas.

Santuários

Outro roteiro com potencial de mesclar religião e belezas naturais é do Santuário de Nossa Senhora da Salete. Localizada no distrito de Barra Santa Salete, em Manoel Ribas, em uma região montanhosa cercada de córregos, a igreja recebe romeiros e ultimamente vem sendo palco de eventos esportivos, com trilhas de caminhada e ciclismo.

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Parque Santo Expedito, em Apucarana, atrai romeiros | Foto: Sérgio Rodrigo

Com parques temáticos e um santuário, Apucarana também é expoente no turismo religioso. A cidade abriga a festa anual de Santo Expedito, realizada no parque dedicado ao santo, em abril, além de uma extensa programação do Santuário São José, que é famoso também por abrigar a maior exposição iconográfica do santo. São quase 6 mil reproduções de quadros de José e Maria. Outro parque temático é o Redenção, localizado no distrito do Barreiro, que passou para administração da Mitra Diocesana, e está sendo revitalizado.