Cascavel. Tem gente que arrepia só de ouvir o ruído do guizo. Quase sempre são temidas e odiadas. Não foi diferente com o criador de serpentes José Maurílio da Silva. No início, ele matava as cobras que encontravam pelo caminho.
Certo dia uma cascavel picou seu cachorro de estimação. O animal acabou morrendo em conseqüência do veneno. A partir desse momento, ele passou a capturar as serpentes e enviar ao Instituto Butantan, em São Paulo.
Morador do Distrito de São Domingos, em Apucarana, região pedregosa, ou seja, habitat ideal para as cascavéis, recolhia, aproximadamente, 60 cobras por ano. Ele prestou este serviço durante 11 anos.
Em 2001, Maurílio resolveu montar seu próprio serpentário, para extrair o veneno e comercializá-lo. Ele descobriu uma das commodities mais valiosas do mercado.
Uma grama do veneno é vendida a R$ 1 mil no mercado nacional. No exterior, laboratórios oferecem até R$ 2,600 reais. O veneno é usado na fabricação do soro antiofídico e também tem componentes essenciais para a coagulação sangüínea, pressão arterial, agregação plaquetária, transmissão do impulso nervoso, funções analgésicas e anti-cancerígenas.
Segundo o criador, para conseguir um grama precisa extrair veneno de 25 cascavéis. A extração só é feita a cada três meses, para manter a saúde do animal. Ele explica que o veneno só começa a ser retirado a partir do terceiro ano de vida do réptil.
Desde então, já chegou a abrigar mais de 500 cobras. Em outubro do ano passado, Maurílio vendeu 285 cobras adultas e doou ao Butantan mais de 200 filhotes. Atualmente tem apenas doze, só para manter o vínculo com a espécie.
O criador diz que está se reestruturando e pretende retomar a atividade, em breve.
Tantos anos de experiência, o tornaram um conhecedor da espécie. Segundo ele, só foi picado uma vez, quando foi extrair pela primeira vez o veneno de uma cascavel.
Maurílio desmistifica um saber popular sobre a cascavel. “O guizo representa a troca de pele da cobra, não os anos de vida. Algumas chegam trocar a pele até três vezes ao ano”, explica.
Alimentação
Maurílio acrescenta que as serpentes não dão trabalho e é fácil de alimentá-las. “Um ratinho por mês é suficiente”, ressalta. Para isso, ele mantém uma criação de hamsters.
Na natureza, as cascáveis se alimentariam de pequenos roedores, rãs e pássaros.
No final, as cobras nos deixam uma lição. Maurílio coloca um hamster em uma caixa com sete serpentes, mas como haviam se alimentado há 15 dias não atacaram a presa.
O ratinho pôde passear tranqüilamente entre as cascáveis. Elas comprovam os estudos: só atacam quando se sentem ameaçadas ou para se alimentar.