PT tem dificuldades na corrida por prefeituras do Grande ABC

Autor: Adriana Victorino e Bianca Gomes (via Agência Estado),
sábado, 21/09/2024

Em fevereiro deste ano, durante o evento de filiação da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma provocação a seus colegas de partido ao lembrar que a sigla já esteve no controle das principais cidades do Grande ABC, mas hoje só administra Mauá e Diadema. "A gente governava praticamente 22 milhões de brasileiros com a capital (paulista). E nós perdemos todas (as prefeituras)", disse Lula, em tom de reprimenda. "O que aconteceu conosco? Onde foi o erro? Em que momento a gente não fez a lição de casa?", acrescentou o presidente, fazendo um apelo para que o partido refletisse sobre suas derrotas.

A eleição municipal de 2020 foi uma das mais traumáticas para o PT: pela primeira vez desde a redemocratização, o partido não conseguiu eleger nenhum prefeito em capitais. Além disso, perdeu espaço em importantes prefeituras pelo País e registrou a sua pior votação em São Paulo, onde Jilmar Tatto encerrou a corrida eleitoral com apenas 8,6% dos votos válidos. Este ano, à frente da Presidência da República, a sigla espera recuperar espaço nos Executivos Municipais, em especial no Grande ABC, histórico bastião petista. A poucas semanas para o primeiro turno, porém, o cenário eleitoral na região não é promissor para o partido.

Dos sete municípios que formam o Grande ABC, o PT comanda atualmente apenas dois - as mencionadas cidades de Mauá (Marcelo Oliveira) e Diadema (José de Filippi Jr.). E nas pesquisas eleitorais, disputa a liderança apenas nesses mesmos municípios, onde os candidatos que tentam a reeleição aparecem empatados tecnicamente com outros postulantes. Nas duas cidades eles também lideram o índice de rejeição.

As mudanças demográficas e socioeconômicas nesses municípios explicam a dificuldade da sigla em reconquistar espaço na região. Segundo Claudio Couto, cientista político e professor da FGV-EAESP, o PT permanece voltado para o diálogo com as classes de baixa renda e operária, sem ajustar seu discurso às transformações ocorridas nessas áreas.

"Essas regiões passaram por um processo de certa desindustrialização ou expansão de outros âmbitos de atividade econômica. Assim, essas cidades mudaram em relação ao que era na década de 80, quando o PT estava em seu auge, e até mesmo ao longo de boa parte dos anos 90"?, ressaltou o professor.

Um levantamento da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mostra ainda que o número de filiações sindicais na região caiu quase pela metade no período, passando de 176.817 em 1990 para 96.926 até julho deste ano.

Pessimismo

O cenário pessimista do PT nas eleições de 2024 se estende à Grande São Paulo, principal aglomeração urbana da América do Sul, formada por 39 municípios: o PT não aparece na liderança das pesquisas em nenhuma cidade. No auge do governo Lula, em 2012, a sigla conseguiu eleger prefeitos para quase um terço (12) das prefeituras da região, no entanto ficou com apenas um na eleição seguinte, de 2016, ano em que ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff.

A figura de Lula segue como o pilar da estratégia petista para recuperar as prefeituras do Grande ABC. Em julho, o presidente esteve em Diadema para visitar as obras do primeiro Centro Educacional Unificado (CEU) da cidade e, dias depois, marcou presença na convenção do PT em São Bernardo do Campo (SP), onde o partido tem como candidato o deputado estadual Luiz Fernando.

Como mostrou a Coluna do Estadão, os candidatos às prefeituras do ABC esperam pela presença de Lula em suas agendas de campanha. Contudo, sem a garantia de que o líder comparecerá, e com pouco tempo de TV, eles têm apostado em inserções de falas antigas do presidente nas rádios.

São Bernardo do Campo é um dos lugares onde a sigla tem enfrentado dificuldades nas eleições deste ano. Em um levantamento da Paraná Pesquisas realizado no início deste mês, o deputado federal Alex Manente (Cidadania) lidera com 27,9% na pesquisa estimulada, seguido por Marcelo Lima (Podemos), com 22,6% das intenções de voto. Flávia Morando (União Brasil), sobrinha do atual prefeito Orlando Morando (PSDB), aparece com 18%, enquanto o petista Luiz Fernando registra 17,3%. O levantamento ouviu 800 eleitores entre os dias 02 e 05 de setembro. O grau de confiança é de 95%, e a margem de erro é de 3,5 pontos porcentuais para mais ou para menos.

Berço político do PT, São Bernardo do Campo é uma cidade simbólica para Lula. Foi lá que o presidente construiu sua base eleitoral em meio ao movimento sindicalista e também onde se entregou à Polícia Federal em 2018, após passar dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Até hoje Lula mantém seu local de votação no município. O último prefeito petista foi Luiz Marinho, ministro do Trabalho, que deixou o comando da cidade em 2016, quando Orlando Morando (PSDB) rompeu a hegemonia do partido na região.

Polarização

Em Santo André, a sigla lançou Bete Siraque (PT) como candidata a prefeita e Bruno Daniel (PSOL), irmão do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002, como vice na chapa, que aposta na associação com Lula e no trabalho do governo federal na cidade para conquistar o eleitorado.

Nas eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) receberam a maioria dos votos da população andreense. Levantamento recente da Paraná Pesquisas mostra que Siraque enfrenta uma considerável rejeição: 35,5% dos eleitores não votariam nela de jeito nenhum.

Nas intenções de voto, a petista soma 13,4% da preferência do eleitorado, enquanto Eduardo Leite (PSB) aparece com 12,10% e Gilvan (PSDB), 40,4%. A pesquisa ouviu 710 eleitores entre 09 e 12 de setembro, e a margem de erro é de 3,8 pontos porcentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

O atual vice-prefeito, Luiz Zacarias (PL), que também pontuou 13,4% no levantamento, adotou a polarização como estratégia. Zacarias acreditava que seria um sucessor natural do atual mandatário Paulo Serra (PSDB), presidente estadual da sigla tucana, que optou por lançar Gilvan na disputa.

Em sabatina do UOL, Zacarias afirmou que os adversários temem que ele use o nome do ex-presidente na disputa. "Se eu trouxer o Bolsonaro para a cidade ou fizer qualquer coisa próximo do Bolsonaro, com certeza eles vão ter problemas sérios nas eleições."

Em Rio Grande da Serra, o PT não disputará as eleições majoritárias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.