O promotor Fabiano Augusto Petean, do Ministério Público Eleitoral (MPE), pediu o arquivamento do inquérito da Polícia Federal contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acusado de crime eleitoral por disseminar a informação falsa de que o tiroteio ocorrido em Paraisópolis durante sua campanha teria sido um atentado contra ele. Na mesma decisão, determinou também a abertura de investigação contra o jornalista da
Folha de S.Pauloque noticiou o episódio, apontando que ele seria suspeito de propagar "menções inverídicas dos fatos relatados". Um repórter do blog Brasil 247 também foi incluído nas investigações. Segundo a decisão, o blog creditou informações a uma pessoa que disse nunca ter falado com o veículo. Os promotor determinou que os repórteres e os "diretores responsáveis pela divulgação das respectivas notícias" devem ser interrogados. Procurado, o advogado Thiago Boverio, que representa o governador no inquérito, disse que irá aguardar a homologação do arquivamento pelo juiz da causa para se manifestar. "A manifestação do Ministério Público deixa claro que o caso Paraisópolis foi um episódio policial, sem nenhuma relação com a campanha eleitoral, o que sempre foi explicado nas defesas sobre o tema. Em relação à investigação dos jornalistas, trata-se de um posicionamento do Ministério Público sem qualquer iniciativa da defesa do governador", afirmou o advogado do governador. Secretário de Redação da
Folha, Vinicius Mota, afirmou: "Nem a Folha nem o repórter foram notificados dessa iniciativa." O Brasil 247 foi procurado pela reportagem, mas não retornou o contato até a publicação deste texto. A manifestação do MP vem depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que apontou possibilidade de responsabilização da imprensa por falas de entrevistados, o que gerou preocupações em entidades que defendem a liberdade de informação e associações de jornalistas. "A abertura de investigação é uma prerrogativa da autoridade, mas a justificativa apresentada me parece um equívoco", avalia o advogado André Marsiglia, especialista em liberdade de expressão e fundador do Instituto L+. O Código Eleitoral proíbe a divulgação de informações que são sabidamente inverídicas antes da publicação. Não é o caso. O jornalista publicou uma informação com base em um áudio que recebeu com a intenção de informar e fomentar o debate na sociedade", completou Marsiglia. Ele também rechaça a responsabilização dos veículos de imprensa com base em decisão recente do STF, segundo a qual estas empresas podem sofrer punições por declarações inverídicas de entrevistados. "A jurisprudência prevê responsabilização civil da empresa jornalística. Como é um caso criminal, não acredito que seja aplicada.
Segurança do governador pediu para apagar postagemA reportagem da
Folha, publicada em outubro de 2022, trouxe áudio em que um homem identificado como segurança do governador manda o então cinegrafista da Jovem Pan Marcos Vinícios de Andrade apagar a filmagem do confronto. O promotor Fabiano Augusto Petean alega que o repórter agiu "com o pretexto de influenciar na campanha eleitoral de forma negativa" e feriu o artigo 323 do Código Eleitoral, que proíbe a veiculação de "fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado". No depoimento, ao qual o
Estadãoteve acesso, o delegado Eduardo Hiroshi Yamanaka pergunta se Andrade (o cinegrafista) afirmou em entrevista a algum jornalista que a campanha tentou produzir uma "farsa", como diz o título da matéria do blog Brasil 247. O cinegrafista negou ter falado com algum profissional do Brasil 247 sobre o tiroteio. Confirmou, porém, que foi ouvido pelo repórter da Folha, cuja matéria trata somente do pedido de auxiliares do então candidato para que as imagens fossem deletadas. No depoimento, o cinegrafista diz que estava junto com Tarcísio em um prédio quando os disparos começaram e que filmou parte do confronto através de uma janela. Depois, se deslocou para a rua ao ver um homem baleado e, lá, teria sido impedido de gravar a cena por um homem com um distintivo da Abin e arma de fogo na mão. Após o fim do tiroteio, entrou, a pedido de integrantes da campanha, em uma van na qual estava toda a comitiva, inclusive o próprio governador. Andrade afirma que pessoas dentro do veículo chegaram a sugerir que o incidente fosse um atentado político, mas negou ter ouvido isso de Tarcísio. Ele diz que foi levado a um escritório de campanha, onde se reuniu com o homem de distintivo da Abin, que pediu a ele para apagar as imagens.
Inquérito foi aberto pela PF em junhoO inquérito da PF foi aberto em junho para investigar se partiu da equipe de Tarcísio a versão falsa de que o então candidato foi vítima de um atentado com o objetivo de impulsionar a popularidade dele perante a opinião pública e colher benefícios eleitorais. À época, a assessoria do governador disse que o caso já havia sido investigado pela Justiça Eleitoral e a conclusão foi que "não houve ingerência política eleitoral no episódio" e, portanto, "não há o que ser averiguado pela Polícia Federal".