O ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad (PT), afirmou que a esquerda brasileira não tem um projeto de futuro e que isso é um dos fatores que implicam no surgimento de "personagens" da extrema direita no País. "Quando você não tem um sonho, um horizonte utópico que guia as pessoas, você tem um horizonte distópico. E a extrema direita é distópica", disse Haddad em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, 17.
Ao tratar sobre o tema, o ex-prefeito de São Paulo avalia que o mundo, no geral, "está devendo para si mesmo horizontes emancipatórios", e que, enquanto isso ocorre, os "palhaços tomam conta do picadeiro".
"Os clowns palhaços tomam conta do picadeiro. E começam a surgir esses movimentos que assustam. E nos perguntamos: 'De onde saiu essa pessoa? De onde saiu esse sujeito? Como é que essa pessoa tem 30% dos votos?'", questionou, acrescentando que não se refere especificamente ao influenciador Pablo Marçal (PRTB), que alcançou 28,4% dos votos válidos no primeiro turno em São Paulo, mas sim ao "contexto histórico em que isso se torna possível".
Haddad citou as redes sociais como propulsoras do surgimento de "personagens" como Marçal, comparando o fato de as pessoas ainda não dominarem e terem "expertise para elaborar" o uso desse novo meio de comunicação com o surgimento do rádio no século passado.
Sobre a possibilidade de o PT, por meio da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e da vice Marta Suplicy (PT), não sair vitorioso da eleição paulistana, Haddad afirma que "tinha muita esperança de que as coisas fossem andar bem", considerando o resultado eleitoral de 2022 em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ele próprio, concorrendo a governador de São Paulo, venceram nas urnas da capital, bem como a uma "perspectiva econômica melhor" de dois anos para cá.
O ex-prefeito avalia que o fato de a cidade ter o maior orçamento de sua história - relembrando a renegociação da dívida com a União feita em sua própria gestão, entre 2013 e 2016 -, somado ao alto déficit produzido pela atual administração e "vistas grossas dos órgãos de controle para obras feitas sem licitação" tornaram o cenário "fácil" para o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição, sem citá-lo nominalmente.
Ainda sobre as eleições paulistanas, Haddad elogiou a deputada federal Tabata Amaral (PSB), qualificando-a como "ótima" e afirmando que a candidata, que recebeu 9,91% dos votos válidos, declarou apoio a Boulos sem "negociar nada". "Ela tem tido uma postura o tempo todo muito legal, muito interessante", afirmou.
Futuro do PT e eleições de 2026
Questionado sobre Lula ser a liderança adequada para organizar o projeto de renovação que o ministro afirma que a esquerda precisa, Haddad diz que "as condições políticas, neste momento, indicam isso". "O Lula é muito animado. Ele tem o direito, a prerrogativa, de buscar a reeleição. Mas não sei te antecipar. É muito difícil falar de outra pessoa", afirmou.
Haddad citou ainda os candidatos que estavam sendo "preparados" por Lula para assumirem a sucessão do petista, como o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu em 2014, e a ex-presidente Dilma Rousseff. "Você não desenha a história. Tem o imprevisto, o acaso. Tem muita coisa, né?", disse, se referindo ao fato de o plano não ter dado certo, por motivos diferentes, com nenhum deles.
Ainda sobre o pleito de 2026, questionado se as coisas estão "meio perdidas" para a esquerda nas próximas eleições presidenciais, o ministro afirmou que o campo liberal "também está com problemas", citando as eleições dos Estados Unidos com previsões apertadas entre Donald Trump e Kamala Harris, e as eleições para a Assembleia Francesa que deixou o presidente da França, Emmanuel Macron, em terceiro lugar.