O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou nesta quinta-feira, 11, o ex-deputado bolsonarista Heitor Freire (União Brasil-CE) para ocupar a diretoria de Gestão de Fundos, Incentivos e de Atração de Investimentos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional com foco no Nordeste. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União.
Freire vai atuar na sede do órgão, no Recife (PE), e, segundo o Portal da Transparência, terá salário de R$ 13.623,39. Cabe à diretoria de Gestão de Fundos, Incentivos e de Atração de Investimentos analisar a destinação de verbas dos programas do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), focada no desenvolvimento econômico e social do Nordeste. No início do governo passado, o ex-deputado ganhou destaque como um fiel apoiador de Jair Bolsonaro. Freire chegou a protocolar um requerimento pedindo a criação da "Secretaria Especial de Desesquerdização da Administração Pública".
Ao Estadão, o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, confirmou que a nomeação, revelada pelo portal UOL, foi realizada a seu pedido. "O União Brasil pediu a indicação de Heitor Freire. Temos muitas pessoas arrependidas do passado e que ficaram no meio do caminho. Nunca é tarde para recuperar o tempo perdido", disse. Segundo ele, a sigla também indicou outro nome "de caráter técnico" para a Sudene, José Lindoso.
Arrependido
Em nota, Freire declarou estar "arrependido" de decisões do passado. "Eu reconheço que fui dessa ala radical e, se pudesse voltar atrás, voltaria sim, mas a gente não pode. Só pode ficar a lição, o aprendizado", afirmou. "Naquele momento, muitos deputados do PSL foram enganados por um discurso. Quando percebemos que o discurso era diametralmente oposto ao que se pretendia fazer, nós nos afastamos do governo", disse Bivar. "E o Heitor Freire foi um desses."
Freire foi eleito deputado federal do Ceará pelo PSL nas eleições de 2018, com 97.200 votos, na onda bolsonarista. No decorrer do mandato, porém, o parlamentar teve diversos embates com o então presidente da República, até romper a aliança. Ao contrário de outros bolsonaristas, Freire permaneceu no PSL durante a fusão com o DEM e passou a integrar o União Brasil.
Quando aliado de Bolsonaro, Freire protocolou um requerimento sugerindo ao presidente da República criar a "Secretaria Especial de Desesquerdização da Administração Pública". O texto detalhava que a secretaria seria "destinada a realizar um amplo controle, fiscalização, identificação, mapeamento, monitoramento, com consequente sugestão de exoneração por decisão do Presidente da República". Integrantes do órgão teriam a função de indicar possíveis nomes potenciais a demissão por reproduzir ideias da esquerda.
Coordenação política
Como mostrou o Estadão, o presidente Lula decidiu assumir as rédeas da coordenação política do governo após sofrer derrotas importantes na Câmara. Além da liberação de uma parte dos R$ 9 bilhões em emendas a deputados e senadores, o chefe do Executivo também iniciou a liberação de cargos no segundo escalão, Sudam e da Sudene, autarquia em que Freire agora é diretor. Apesar de ter indicado três ministérios - Comunicação, Turismo e Desenvolvimento Regional - o União Brasil ainda não vota em conjunto com a base aliada.