Um novo ano se inicia, e junto com ele, um novo governo. Neste domingo (1º), Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, toma posse como presidente do Brasil e vai herdar um governo com uma série de desafios. Na opinião dos especialistas ouvidos pelo TNonline, o maior deles será promover a estabilidade econômica do país.
De acordo com o economista Marcelo Vargas, professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Apucarana, a projeção de inflação para 2023 gira em torno de 5%. O índice, segundo ele, tem resquícios da crise sanitária desencadeada pela covid-19 que elevou os preços das commodities.
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“Os preços das commodities estão elevadíssimos, principalmente do petróleo que é uma das principais matrizes energéticas do mundo. Tudo isso tem deixado o mercado preocupado, porque isso reflete nos preços praticados no mundo inteiro”, analisa.
O cenário global tornou-se ainda mais desafiador com o início da guerra entre a Rússia e Ucrânia que elevou os preços de combustíveis e alimentos, pressionando ainda mais a inflação no Brasil. “A Rússia é uma grande fornecedora de insumos para a agricultura e isso reflete demais no mercado mundial e no mercado brasileiro”, pontua.
Outra grande incerteza no mercado é como o novo governo conduzirá a economia com essas questões. “A gente percebe que é um governo que gasta, realiza muitos gastos, podemos ver pela PEC da transição, estouraram o teto de gastos, isso é muito preocupante e acaba refletindo no mercado”, analisa.
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A Taxa Selic, que hoje está em 13,75%, poderá cair para 12%. O economista, contudo, aponta que esse recuo depende do controle da inflação. “Se a inflação ficar fora da meta, vai impactar muito em como o governo vai direcionar essa taxa de juros. Se a inflação estiver muito elevada, o governo terá que manter essa taxa acima do patamar”, explica.
Esse cenário, segundo o economista, não será favorável para a geração de empregos. Portanto, o novo governo precisará reduzir as taxas de juros para possibilitar mais investimentos por parte das empresas, gerando mais contratações e consumo por parte das famílias.
Existe uma incerteza em relação ao novo governo. O mercado conhece esse novo governo e está preocupado que ele adote as medidas que foram adotadas no mandato anterior. O cenário daquela época era um e hoje é outro. Hoje estamos com cenário internacional preocupante com muitas incertezas fora do país. E outro problema é que vivemos em um país onde os governos assumem e trabalham pensando em um curto prazo. Pensar a curto prazo não resolve a questão do emprego, desenvolvimento e pobreza”
- Marcelo Vargas,
HAMONIA ENTRE PODERES
Professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Elve Cenci, acredita que o governo Lula já reestabeleceu a harmonia entre os poderes, uma vez que uma parte dos partidos políticos já aderiu ao novo governo. Na opinião dele, mesmo com a maior bancada no Congresso Nacional, o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, não fará uma oposição raivosa ou sistemática ao PT. O PL de Bolsonaro elegeu 99 deputados e 8 senadores na última eleição.
“O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não é bolsonarista, o DNA dele é do centrão. Ele está próximo do Bolsonaro por conveniência. Não me parece que ele fará oposição ao PT. Os demais partidos, inclusive, os mais de direita, estão agregados na base de sustentação do PT, como o União Brasil, o MDB e outros partidos grandes estão disputando espaço no governo petista. Dificilmente teremos uma oposição partidária estruturada. Quem não governa, não tem poder efetivo”, analisa.
A oposição, na opinião do especialista, ficará por conta de um núcleo pequeno e barulhento formado por empresários e outros apoiadores de Bolsonaro. “Essa oposição sistemática ao PT, me parece muito mais trabalho de grupos no interior da sociedade do que na Câmara e no Senado”, assinala.
O principal desafio do governo Lula, na opinião de Cenci, será rearticular a estrutura do Estado. Segundo o cientista político, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), deixou vazar uma fala importante sobre o que ele encontrou durante a transição do novo governo.
O peessedebista afirmou ter ficado espantado com o que ele viu. “Alkmin deixou vazar uma fala importante que dizia que nunca viu nada parecido em termos de desorganização”, comenta Cenci.
SETOR EMPRESARIAL DE APUCARANA
O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (Acia), Wanderley Faganello diz que 2023 será um ano de incerteza para a economia. “Iniciaremos um ano com muita turbulência e insegurança jurídica e principalmente uma inadimplência maior que ano anterior de empréstimos tomados no retorno da pandemia e que agora terá que ser honrado. É preciso um amplo programa de renegociação de dívidas. Não temos certeza do que vai ser feito para manter o motor do comércio forte e a indústria produzindo a pleno vapor”, analisa.
Na infraestrutura, Faganello acredita que a dificuldade de captação de recursos e coragem para tirar os projetos do papel, pode ser um obstáculo para o próximo governo. “Me preocupa a manutenção do que já temos conquistado. Ter um comércio e indústria forte que gere emprego e renda, mas que não fique somente com ônus fiscais dos impostos absurdos. É preciso baixar as taxas de juros e manter a inflação controlada para ter um horizonte mais favorável”, pontua.
A presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Apucarana (Sivana), Aída Assunção, não tem boas expectativas diante do estouro do teto de gastos com a transição de governo. “Minhas expectativas são muito ruins. Eles já querem aumentar o combustível. E com esse aumento de ministério de 23 para 37 com certeza irá onerar os gastos públicos. Todo o comércio está com a expectativa lá em baixo”, analisa.
POSSE NESTE DOMINGO
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) toma posse para seu terceiro mandato no cargo na tarde deste domingo (1º).
A sessão solene no Congresso Nacional, onde Lula recebe oficialmente o posto de presidente da República, está marcada para as 15h.
Antes, Lula e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), devem passar pela Catedral Metropolitana de Brasília e desfilar pela Esplanada dos Ministérios.
Após tomarem posse no Congresso, Lula e Alckmin seguem para o Palácio do Planalto já como presidente e vice-presidente da República. Lá, Lula discursa ao público e dá posse aos 37 novos ministros.