Diretor da PF aciona STF contra Mauro Cid por ter sugerido em áudio que foi coagido

Autor: Julia Camim, especial para o Estadão (via Agência Estado),
sexta-feira, 22/03/2024

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, fez uma representação contra o tenente-coronel Mauro Cid no Supremo Tribunal Federal (STF) na noite desta quinta-feira, 21. Em áudios divulgados pela revistaVeja, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma que o inquérito da PF que apura a tentativa de golpe de Estado é uma "narrativa pronta".

O diretor da PF afirmou à jornalista Míriam Leitão do jornalO Globoque as declarações foram vistas "com gravidade" e que a corporação busca um esclarecimento no STF. "Ninguém acusará a PF e o STF dessa forma e ficará incólume", disse.

Nesta sexta-feira, 22, após a divulgação dos áudios, Cid foi convocado a comparecer a uma audiência com o desembargador Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, para esclarecer as acusações à Operação Tempus Veritatis.

Após o término da audiência de confirmação dos termos da colaboração premida, foi cumprido mandado de prisão preventiva expedido por Moraes contra Mauro Cid, por descumprimento das medidas cautelares e obstrução à Justiça.

Nos áudios, Cid ainda disse que Moraes já tem a sentença dos investigados e que no "momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo". O tenente-coronel também afirmou que a PF queria que ele falasse coisas sem conhecimento ou que não aconteceram, pois os investigadores do inquérito "não queriam saber a verdade" sobre a tentativa de golpe de Estado, e sim confirmar a narrativa deles.

Por meio de nota, a defesa de Cid admitiu que a voz nas gravações divulgadas pela revista são do militar, mas alegou que as declarações são "meros desabafos" do investigado.

Mauro Cid foi preso em maio de 2023 pela PF durante a investigação sobre fraudes em cartões de vacina contra a covid-19. Em setembro ele foi solto após homologação da delação premiada, em que apontou Bolsonaro como o mandante das fraudes no sistema do Ministério da Saúde. Ainda foi revelada a existência de reuniões golpistas entre o ex-presidente e comandantes das Forças Armadas para tentar impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).