A CPMI do 8 de Janeiro aprovou nesta quinta-feira, 3, a convocação de Walter Delgatti Neto, hacker da 'Vaza Jato' preso pela Polícia Federal, para prestar depoimento aos parlamentares.
Conhecido como "Vermelho", Delgatti e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) são investigados pela suposta inserção de um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os dois foram alvos de operação da PF na quarta-feira, 2.
A comissão aprovou a convocação de Delgatti como resultado de um acordo negociado reservadamente entre os parlamentares para tentar agilizar os trabalhos, com a votação de requerimentos em blocos. Nesse tipo de votação, os requerimentos poderiam ser aprovados ou rejeitados de maneira conjunta a cada bloco. Delgatti foi aprovado em conjunto com outros quatro requerimentos desse primeiro bloco de votação.
Os outros pedidos aprovados foram os depoimentos da coronel Cíntia Queiroz de Castro, subsecretária de operações integradas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, da cabo Marcela da Silva Moraes Pinto, da Polícia Militar que foi agredida enquanto tentava dispersar golpistas nos ataques, e do sargento Luís Marcos dos Reis, que foi lotado na ajudância de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro e foi preso por suspeita de envolvimento na falsificação da carteira de vacinação. Nesse mesmo bloco foi ainda aprovada a convocação para depoimento do fotojornalista Adriano Machado, da Agência Reuters.
À PF, em interrogatório no dia 27 de junho, Delgatti afirmou que Zambelli teria se aproximado dele em setembro de 2022, em meio ao período eleitoral, porque "queria que ele invadisse a urna eletrônica, ou qualquer sistema da Justiça, para demonstrar a fragilidade do sistema judicial pátrio". A deputada nega.
Delgatti já havia sido preso em 2019, na Operação Spoofing. À época, ele admitiu aos investigadores ter hackeado o celular de diversas autoridades do País, como o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, de onde supostamente obteve conversas trocadas entre integrantes da Operação Lava Jato e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União-PR). O hacker alegou que repassou o conteúdo das supostas mensagens trocadas no aplicativo Telegram, entre Moro e Dallagnol, ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil. O caso ficou conhecido como "Vaza Jato".
Quebra de sigilos de militares
A CPMI também avançou nas investigações de militares investigados por suspeitas de envolvimento nos ataques golpistas e no financiamento ilegal de despesas pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Foi aprovada a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da ajudância de ordens de Bolsonaro, preso por suspeita de envolvimento também em esquema de falsificação da carteira de vacinação do ex-presidente.
Também foram aprovadas as quebras dos sigilos telefônicos e telemáticos do general Carlos Feitosa Rodrigues, ex-chefe da segurança presidencial no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, e do coronel André Luiz Garcia Furtado, ex-coordenador-geral de segurança das instalações do GSI também na gestão bolsonarista. Os dois militares aparecem em vídeos de circuito interno registrados durante a depredação no 8 de Janeiro.
Anderson Torres
Também investigado por suspeita de envolvimento no planejamento dos ataques golpistas, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres teve também quebrado seus sigilos telefônico e telemático.
Os parlamentares aprovaram ainda a requisição de relatórios de inteligência financeira (RIFs) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que mostrem movimentações atípicas de dinheiro pelo sargento Luís Marcos dos Reis, que integrou a equipe de Mauro Cid e que também está preso por suspeita de envolvimento na falsificação da caderneta de vacinação de Bolsonaro.
Mesmo depois de protestos de governistas, não foi incluída na votação em bloco o pedido de requisição de relatórios do Coaf sobre Bolsonaro e Michelle.