Após cadeirada, provocações de Marçal voltam a dominar debate

Autor: Monica Gugliano, Pedro Augusto Figueiredo, Pedro Lima, Bianca Gomes e Hugo Henud (via Agência Estado),
quarta-feira, 18/09/2024

O primeiro debate após a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), realizado pela RedeTV! Nesta terça-feira, 17, em parceria com o UOL, foi marcado pelo clima de tensão nos primeiros blocos. Marçal voltou a protagonizar os momentos mais agressivos do evento. As discussões, porém, esfriaram com o desenrolar do debate e as acusações ficaram repetitivas. Diferentemente do encontro do último domingo, na TV Cultura, nenhum candidato deixou seu púlpito e não houve ameaça de agressões físicas.

O influenciador iniciou sua participação repetindo que Datena "não é homem" - insulto que fez o apresentador se descontrolar e agredi-lo no debate anterior - e se comportou como um "orangotango". "Eu não bato em covarde duas vezes. Covarde apanha uma vez só", respondeu o candidato do PSDB, acrescentando que não iria cair nas provocações de Marçal novamente.

Ao fim do debate, o candidato do PSDB disse que foi incitado pelo adversário a repetir a agressão. "Mantive a minha posição até pragmática demais, nem eu estava me reconhecendo ali. Fui obrigado a me segurar várias vezes", declarou.

A hostilidade entre os candidatos permaneceu no duelo seguinte. Marçal e Ricardo Nunes (MDB) discutiram aos gritos fora dos microfones quando o tempo de fala já tinha se esgotado. Eles ignoraram os alertas da mediadora e acabaram advertidos.

O influenciador tentou provocar Nunes o chamando de "bananinha" e de "tchutchuca do PCC (Primeiro Comando da Capital)". Também citou boletim de ocorrência por ameaça e violência registrado pela mulher do prefeito, Regina Nunes, e disse que ele será preso em uma eventual gestão sua. Nunes respondeu dizendo que Marçal agride a todos e que ele "saiu da cadeia, mas a cadeia não saiu dele". O candidato do PRTB também tentou irritar Guilherme Boulos (PSOL) e lembrou o episódio da carteira de trabalho, mas o deputado não caiu na provocação.

Condenação

Nunes e outros candidatos relembraram, por diversas vezes, que Marçal foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado, em 2010. O influenciador figurou como réu em ação que envolvia supostos criminosos que desviaram dinheiro de contas de bancos, como Caixa e Banco do Brasil. A punição do candidato foi declarada prescrita, ou seja, não pode ser aplicada pois o prazo previsto pela lei para que isso ocorresse foi ultrapassado. Marçal diz que não tinha conhecimento dos crimes e que apenas fazia a manutenção dos computadores utilizados pelo grupo.

Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) também se envolveram em polêmica. A candidata do Novo sugeriu que a deputada estaria sendo beneficiada por viagens particulares de jatinho para visitar o namorado, o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Tabata chamou a acusação de delírio e disse que iria processar a economista. Ao fim do debate, a candidata do PSB disse que não prosseguirá com a ação judicial se houver retratação.

'Fontes'

Em coletiva de imprensa após o debate, Marina Helena não apresentou provas para sustentar a acusação. A candidata do Novo afirmou ter recebido a informação de "diversas fontes", sem especificar nenhuma delas, e que cabe a Tabata provar que não utilizou o jato.

Em determinado momento, Marçal chamou Boulos de "Boules", em alusão ao uso da linguagem neutra defendida por setores da esquerda. A mediadora pediu para ele se referir ao adversário pelo nome. O influenciador, então, colocou um adesivo na boca, sugerindo que estava sendo censurado por não poder utilizar apelidos jocosos.

"Marçal, você vive de mentiras, ataca, mente e depois toma uma cadeirada. Não vou cair na sua provocação porque ela tem prazo de validade, só dura três semanas", disse Boulos, insinuando que o adversário será derrotado no primeiro turno. O influenciador havia perguntado sobre as vezes em que o candidato do PSOL foi preso ou conduzido à delegacia.

Em seguida, Boulos acusou Nunes de bloquear a liberação de um terreno para a construção de um centro oncológico em São Paulo por "briga política". O prefeito negou a acusação e afirmou que trata as necessidades da cidade de forma "republicana" com os ministros do governo federal, mencionando especificamente o titular de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). Nunes destacou que não "mistura as coisas".

Anistia

Assim como em debates anteriores, Nunes questionou Boulos sobre um projeto de seu partido que propõe anistia para acusados e condenados por transportar ou portar até 40g de maconha. O deputado federal respondeu que defende a diferenciação de usuários de traficantes. Boulos também atacou Nunes, relembrando que, no último debate, o prefeito tentou associá-lo ao uso de drogas, assim como Marçal fez em outras ocasiões. "Você recebeu o apoio do Bolsonaro e usa o mesmo método de mentira dele", afirmou Boulos ao emedebista.

Datena também criticou o prefeito, especificamente o programa de tarifa zero aos domingos instituído pela atual gestão. Segundo ele, o volume de ônibus nas periferias não é suficiente para que a população usufrua do benefício. O apresentador propôs que beneficiários do Bolsa Família não paguem passagem durante todos os dias da semana. Em resposta, Nunes apresentou a proposta de dar gratuidade para mães com filhos matriculados nas creches municipais.

Púlpitos ocupados por seguranças no intervalo

O debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pela RedeTV! e o UOL, na manhã de ontem, colocou seguranças em frente aos púlpitos dos postulantes para evitar discussões e brigas entre os políticos durante os intervalos da transmissão do evento.

A medida foi tomada pela emissora após José Luiz Datena (PSDB) arremessar uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB) no debate da TV Cultura, no último domingo.

No estúdio, um integrante da equipe de segurança foi escalado para cada nome que disputa a cadeira de prefeito da cidade. Além disso, os organizadores também decidiram parafusar as cadeiras dos candidatos para evitar que fossem arrancadas a fim de serem usadas como armas pelos postulantes.

Nos bastidores, enquanto não estava com a palavra, Marçal não fazia questão de prestar atenção nas falas de seus adversários e preferia "brincar" com a cadeira giratória atrás de seu púlpito. O influenciador também, nos momentos em que estava dividindo a tela com outro postulante, fazia o gesto do "M" com a mão enfaixada. Nenhum outro candidato interagia com ele nos intervalos. O influenciador aproveitava o encontro para conduzir sua equipe, fazendo sinais com as mãos quando era para que eles fizessem cortes de suas falas para as redes.

Cada candidato entrou no estúdio acompanhado por três assessores. De acordo com relatos obtidos pelo Estadão, todos passaram por um detector de metais e precisaram deixar seus pertences do lado de fora. Até mesmo itens de plástico, como pastas para guardar documentos, foram barrados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.