Dodge critica as 'lutas corporativas fratricidas'

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 04/12/2017

REYNALDO TUROLLO JR.

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em evento do Dia Internacional de Combate à Corrupção, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, citou a Lava Jato, criticou as "lutas corporativas fratricidas" e disse compreender as "desconfianças e dúvidas" que pairam sobre sua gestão, ao mesmo tempo em que reafirmou seu compromisso de combater a corrupção.

"Nestes dois meses e meio de mandato, tenho ouvido preocupações sinceras sobre o efetivo compromisso do Ministério Público, em minha gestão, contra a corrupção. São indagações autênticas, verdadeiras e coerentes, algumas carregadas de desconfianças e dúvidas que são em tudo compatíveis com a leitura crítica da história brasileira, marcada por ondas sucessivas de avanços e retrocessos no enfrentamento da corrupção", disse Dodge nesta segunda-feira (4).

Como a Folha de S.Paulo noticiou neste domingo (3), Dodge pediu ao STF, em pouco mais de dois meses no cargo, 24 arquivamentos de inquéritos, a maioria por prescrição dos crimes e falta de provas. Nos pedidos de arquivamento, ela apontou ineficiência nas investigações tocadas por seu antecessor, Rodrigo Janot.

No evento, Dodge também afirmou que a "separação entre a coisa pública e a privada é uma das principais instituições da civilização moderna". A procuradora-geral fez menção indireta ao episódio do "bunker" atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) que escondia R$ 51 milhões em Salvador.

"Algumas quadrilhas foram desbaratadas, mas muitas continuam a agir com desfaçatez, à luz do dia e em conluios que não escapam a registros, a câmeras de vídeo e a colaborações. Outras escondem quantias milionárias, às vezes de modo tão petulante e displicente que nos dão a certeza de que não temem a punição", disse.

Desde que assumiu, em 18 de setembro, Dodge vinha evitando destacar a Lava Jato em seus discursos.

Nesta segunda, disse: "Nos últimos anos, o Ministério Público brasileiro tem enfrentado a corrupção com muita persistência. O mensalão e a Lava Jato são marcos exitosos dessa empreitada. Há um longo caminho pela frente, a exigir comedimento e temperança, firmeza e foco, além de conhecimento das práticas ilícitas, para que, em vez de nos engajarmos em lutas corporativas fratricidas ou em debates laterais, sigamos na busca pela reparação do dano, pela devolução do dinheiro desviado e pela punição dos infratores, que é o que realmente interessa", disse.

Nomeada pelo presidente Michel Temer após ficar em segundo lugar na lista tríplice eleita pela categoria, Dodge assumiu sob olhares de desconfiança. Ela era vista na instituição como adversária de Rodrigo Janot, que investigou e denunciou Temer ao STF. Desde que tomou posse, Dodge evita fazer comentários diretos sobre seu antecessor.