LUCAS VETTORAZZO
TABATINGA, AM (FOLHAPRESS) - O general Guilherme Theophilo, comandante logístico do Exército e o principal nome do Amazonlog, exercício logístico multinacional na Amazônia que ocorre nesta semana a partir de Tabatinga (AM), rebateu críticas com relação à presença inédita de militares americanos na região.
Ele classificou de "teoria da conspiração" as críticas de políticos de esquerda de que a participação de militares americanos em exercícios na selva amazônica representaria risco à soberania nacional.
O general falou em coletiva de imprensa na abertura do Amazonlog, na tarde desta terça-feira (7), em Tabatinga, cidade a 1.100 quilômetros de Manaus, num percurso só possível ser feito de avião ou barco.
O objetivo do exercício é simular desastres naturais em que os militares deverão ser empregados em missões de ajuda humanitária. A ideia é criar protocolos mutinacionais de pronta resposta em cenários de crise como terremotos, furacões, enchentes ou secas.
O exercício é coordenado de uma base militar em Tabatinga, cidade que fica na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, conhecida como uma das principais rotas de tráfico de drogas. Militares dos três países fronteiriços e os Estados Unidos coordenam as ações. Além deles, observadores de outros países, como Alemanha e Japão, também participam do evento, que ocorre ao longo desta semana.
A participação dos americanos ocorre após convite do Exército brasileiro no ano passado. A ideia é fazer intercâmbio de experiências, já que o americanos têm costume de atuar em desastres naturais em seu próprio território, como no furacão Irma na Flórida, e também em outros países. Brasil e EUA, por exemplo, atuaram em conjunto no Haiti.
A presença de militares na Amazônia foi motivo de críticas, por exemplo, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e do ex-ministro da defesa Celso Amorim. Blogs de esquerda e também setores nacionalistas da sociedade civil demonstraram preocupação com os exercícios multinacionais na região amazônica.
O general Theophilo disse que o "mundo é globalizado" e o "intercâmbio entre nações é permanente" em diversas áreas sem que haja questionamentos externos.
"Venho sofrendo desde o início do ano com esses questionamentos. (...) Não vejo sentido nos partidos de esquerda que estão fazendo esse questionamento", disse o general, que foi por seis anos comandante militar da Amazônia.
O general lembrou a atuação estrangeira de décadas na Amazônia para reforçar seu argumento. Ele afirmou que um dos principais pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) é um americano. Disse também que uma torre de observação climática foi construída na Amazônia em consórcio com o governo da Alemanha neste ano.
Afirmou ainda que diversas tropas americanas participam dos cursos de operações na selva ministrados pelo Exército. O general elencou também investimentos chineses na área de infraestrutura e energia para reforçar a crítica de que para outros setores não existe questionamento sobre a presença estrangeira na Amazônia.
"Mas se eu trouxer [estrangeiros] para a Amazônia para mostrar para o mundo a situação dos ribeirinhos e do indígena, vem gente dizer que eu estou abrindo para o americano", disse.
O general afirmou que apenas os exércitos brasileiros, peruano e colombiano atuarão com tropas no exercício. Os americanos participarão de ações de logística. Os EUA enviaram à Tabatinga um avião de transporte de passageiros.
No total, 72 militares de nações amigas participarão dos exercícios desta semana, de um total de 2 mil homens envolvidos no Amazonlog.
Não foi divulgado ainda o contingente de americanos. O que se sabe é que a participação dos americanos foi reduzida. Inicialmente eles montariam uma cozinha de campanha e uma base de purificação de água, o que acabou saindo do escopo do projeto.
Presente à coletiva, o comandante logístico do Exército sul dos EUA, coronel Truax, também afirmou que o objetivo no Amazonlog é de troca de experiências. Ele negou também que a presença na Amazônia seria uma forma de pressionar o governo da Venezuela.
"Só estamos aqui porque o exército brasileiro nos convidou", disse.
"Queremos ficar mais prontos do que nunca para quando houver necessidade".