Delatora diz que pagou operador de TP usado por Dilma em discurso na ONU

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 12/05/2017

RAFAEL BALAGO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em depoimento em vídeo que integra delação premiada, a empresária Mônica Moura disse que pagou por vários serviços pessoais a Dilma Rousseff enquanto ela exerceu seu mandato presidencial. Um deles foi custear uma equipe de operadores de teleprompter para acompanhar Dilma em eventos, inclusive em seu discurso na ONU, em Nova York.

O casal também diz ter pago pelos serviços do cabeleireiro Celso Kamura, que atende Dilma, e para Jefferson Monteiro, criador do perfil Dilma Bolada, que faz graça com os trejeitos da ex-presidente e tem 1,7 milhão de seguidores.

O teleprompter, ou TP, é um equipamento colocado nas câmeras que exibe o discurso a ser lido. "Na primeira campanha, em 2010, tínhamos uma equipe de teleprompter. São três irmãos de origem alemã. A Dilma se apaixonou por esses meninos porque eles acertaram o ritmo [de leitura] dela. Na campanha, era uma beleza. Ela não tinha que ficar correndo. Ela tinha uma coisa com eles", contou Moura.

A equipe era formada por três irmãos de origem alemã, identificados como Flávio, Heitor e Renato. Após a campanha, segundo a empresária, Dilma passou a pedir que um deles a acompanhasse nos eventos em que fosse discursar.

"Toda vez que ela ia a algum lugar e tinha que usar teleprompter, ela mandava antes me pedir para que eu mandasse o alemão. Eu pagava a passagem do alemão, a hospedagem e o cachê dele. Teve no Brasil algumas vezes. Ele foi com ela pra Nova York, pra ONU, onde ficou no teleprompter lá", disse Moura.

A diária cobrada pela empresa era de R$ 800. Moura diz ter gastado ao todo R$ 95 mil para que Dilma pudesse contar com o serviço ao longo de seu mandato.

"Eles jamais aceitariam trabalhar para o Palácio do Planalto e ganhar 2 mil reais por mês. Ela [Dilma] tinha um operador de teleprompter fixo [no Planalto], mas ela brigava muito com esse cara, ele sofria horrores, porque ele errava tudo", falou Moura.

A delatora também disse ter pago por uma governanta para a casa de Dilma, chamada Rose, durante o ano de 2010, que recebia R$ 4 mil por mês.

Já os gastos com o cabeleireiro de Dilma, Celso Kamura, teriam sido de R$ 40 mil. Além da diária, em torno de R$ 2 mil, Moura também diz ter pago passagens para que o profissional fosse até Brasília atender Dilma.

Moura afirmou ainda que durante a campanha de 2014 recebeu a orientação para que pagasse Jefferson Monteiro para ele reativar a página Dilma Bolada no Facebook e fazer postagens favoráveis ao governo federal.

"Esses favores eram prestados por se tratar de uma cortesia a uma cliente importante para João Santana e Mônica Moura. Dilma Rousseff, além de presidente, já havia feito com eles a campanha de 2010 e existia a possibilidade de virem a fazer a campanha de 2014", afirmou Mônica Moura

OUTRO LADO

Monteiro, da página Dilma Bolada, postou uma resposta às denúncias em uma rede social: "Pelos meus cálculos, eu já teria que ter, no mínimo, R$1,7 milhão de reais na conta: R$ 500 mil segundo a Revista Época, R$ 1 milhão segundo Marcelo Odebrecht e agora mais R$ 200 mil segundo Mônica Moura. Alguém, por gentileza, me avisa onde que tenho que retirar a quantia porque estou com o aluguel atrasado e o telefone cortado. Obrigado!"

Dilma, por meio de seus assessores, divulgou nota na qual diz que João Santana e Mônica Moura "prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores". A ex-presidente diz ainda que o fim do sigilo das delações prejudicou sua defesa na ação que tramita no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, por meio de uma publicação em seu site nesta sexta-feira (12), que as delações de João Santana e Mônica Moura são mentirosas e que o objetivo do casal é conseguir redução de pena a partir de versões "falsas e fantasiosas".

Segundo o texto, a ex-presidente nunca negociou doações eleitorais ou ordenou pagamentos ilegais a prestadores de serviços em suas campanhas, ou fora delas.

"São mentirosas e descabidas as narrativas dos delatores sobre supostos diálogos acerca dos pagamentos de serviços de marketing. Dilma Rousseff jamais conversou com João Santana ou Mônica Moura a respeito de caixa dois ou pagamentos no exterior. Tampouco tratou com quaisquer doadores ou prestadores de serviços de suas campanhas sobre tal assunto", diz trecho da publicação, assinada pela assessoria da ex-presidente.

Ainda conforme Dilma, é "fantasiosa" a versão de que ela informava delatores sobre o andamento da Lava Jato. "Causa ainda mais espanto a versão de que por meio de uma suposta 'mensagem enigmática', conforme a fantasia dos delatores, a presidente tivesse tentado 'avisá-los' de uma possível prisão. Tal versão é patética."

A assessoria da ex-presidente informou ainda que é falsa a afirmação de que ela teria recomendado que os delatores ficassem no exterior e "é risível imaginar que a presidente da República recebeu informações de forma privilegiada e ilegal ao longo da Lava Jato". "Isso seria presumir que a Polícia Federal, o Ministério Público ou o próprio Judiciário, por serem os detentores e guardiões dessas informações, teriam descumprido seus deveres legais."