PSB se divide sobre expulsão de prefeito afastado e foragido da Justiça

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 10/10/2016

MARINA DIAS

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Dirigentes do PSB travam uma disputa interna sobre a possível expulsão do partido do ex-prefeito de Montes Claros (MG) Ruy Muniz, foragido desde o mês passado e acusado de desviar recursos públicos.

O político ficou nacionalmente conhecido em abril por ter sido preso um dia após sua mulher, a deputada federal Raquel Muniz (PSD), votar pela abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff e dedicar o voto a ele.

Na ocasião, Raquel afirmou que votava pelo impeachment "para dizer que o Brasil tem jeito" e que "o prefeito de Montes Claros mostrava isso para todos nós com sua gestão". No dia seguinte, porém, ele foi preso sob suspeita de inviabilizar o funcionamento de hospitais públicos e filantrópicos para beneficiar um hospital de sua família, o que ele nega.

Em reunião da cúpula do PSB, na quinta-feira (6) em Brasília, integrantes da direção do partido discutiram a situação de Muniz, considerado foragido desde o dia 15 de setembro e à espera de uma decisão da Justiça para concorrer ao segundo turno das eleições em Montes Claros.

Enquanto o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, defendiam que Muniz continuasse nas fileiras da legenda pois não havia sido comprovada nenhuma infração administrativa em sua gestão, o deputado Júlio Delgado (MG) e Antônio Campos, irmão do ex-governador Eduardo Campos (PE), pediram a expulsão sumária do ex-prefeito.

Delgado e Lacerda são desafetos conhecidos e, durante a reunião, tiveram uma discussão acalorada. Lacerda e Siqueira argumentavam que "ainda não há elementos" que provem a culpa de Muniz mas, sob pressão dos outros dirigentes, ficou decidido que o caso seria avaliado pela comissão de ética do PSB em Minas, que vai encaminhar a decisão para a executiva nacional do partido.

O PSB mineiro é presidido por Lacerda e, apesar da disputa, integrantes do PSB já admitem que Muniz deve permanecer no partido. "Se isso acontecer, será uma tristeza. O PSB vai dar um passo para trás", afirmou Delgado à reportagem.

Em nota, o diretório estadual do PSB em Minas afirma que "tomou conhecimento das novas denúncias" envolvendo Muniz mas que "qualquer medida quanto à recondução ou não do filiado à direção" do partido em Montes Claros só será tomada "após o término das investigações".

"O PSB poderia parar com essa brincadeira que Muniz está fazendo com a Justiça e com o eleitor e expulsá-lo. A expulsão acaba com o celeuma", completou Delgado.

Mesmo tendo pendências com a Justiça, Muniz havia se candidatado à reeleição em Montes Claros e ficou em segundo lugar, com 48 mil votos. O número é suficiente para que ele dispute o segundo turno com o candidato que ficou em primeiro lugar, Humberto Souto (PPS).

O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas, no entanto, cancelou a chapa do até então prefeito afastado e declarou Souto vencedor. Muniz, por sua vez, apresentou um recurso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ainda pendente de julgamento, para anular a vitória de Souto e garantir a disputa num segundo turno.

Ao STF (Supremo Tribunal Federal) Muniz pediu ainda um habeas corpus para permanecer em liberdade, o que foi dado pelo ministro Marco Aurélio Mello. Muniz havia ficado escondido até o início do período eleitoral, quando só são permitidas prisões em flagrante.