Pedido de propina por Berzoini foi 'quase imposição', diz executivo

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 25/07/2016

ESTELITA HASS CARAZZAI

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - O engenheiro Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da Andrade Gutierrez, voltou a afirmar que o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini pediu o pagamento de propinas retroativas "sobre todo e qualquer contrato" que a empresa tivesse com o governo federal.

"Foi uma conversa muito desagradável", disse Machado, em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda (25). "Nós entendemos como sendo uma pressão. Quase como uma imposição."

Machado é um dos delatores da empreiteira, que fechou um acordo de colaboração premiada na Operação Lava Jato. O pedido de propina por Berzoini já havia sido relatado pelo próprio presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.

"Eu senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele inclusive se resguardou para que desse uma posição final mais à frente", afirmou Machado, que era diretor de Relações Institucionais da empresa.

Segundo o executivo, Berzoini falou "de forma firma e incisiva, um pouco além do tom".

"Não [houve ameaça] diretamente, mas veladamente percebeu-se que poderia haver algum tipo de situação desconfortável para nós", afirmou.

A reunião teria ocorrido em 2008, na sede da Andrade Gutierrez, em São Paulo. Estavam presentes, além dos dois executivos e Berzoini, João Vaccari Neto e Paulo Ferreira -ambos ex-tesoureiros do PT. O partido nega as acusações.

Segundo Machado, o pedido foi "muito mal visto" dentro da empresa.

"Comentava-se que não tinha sentido, não tinha por que fazer esse tipo de pagamento, porque não tínhamos nenhuma ajuda especial, não havia nada."

A empreiteira, porém, acabou por acatar parte do pedido de Berzoini, e aceitou pagar um percentual sobre contratos futuros com o governo federal, conforme admitiram os executivos. Parte dos pagamentos foi feita por meio de doações oficiais ao PT.

O PT refuta totalmente as acusações e diz que todas as doações recebidas pelo partido "foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

COBRANÇAS

Além de Machado, outros dois executivos da Andrade Gutierrez também depuseram nesta segunda -Antonio Pedro Campello Dias e Elton Negrão de Azevedo Júnior. Eles respondem a uma ação penal por lavagem de dinheiro e corrupção.

Todos afirmaram que a empreiteira ficou devendo propina ao PT, e que sofria "cobranças permanentes" de Vaccari. "Ele [Vaccari] sempre solicitava doações. 'Olha, vocês estão devendo', dizia", contou Machado.

"Era terrível essa pressão", disse Elton Negrão. "Eu ouvia muito o pessoal [outros empresários] fazendo chacota, porque a Andrade não pagava."

Segundo os executivos, a empresa tinha dificuldade de "operacionalizar" a propina. Os valores se acumularam, e havia "má vontade" dentro da Petrobras, por parte do ex-gerente Pedro Barusco -um dos beneficiários dos pagamentos.

"Nítida má vontade, ranhetice, dificuldade de marcar [reuniões]...", disse Campello Dias, ex-diretor comercial da área de petróleo e gás, sobre Barusco.