ESTELITA HASS CARAZZAI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - O engenheiro Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da Andrade Gutierrez, voltou a afirmar que o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini pediu o pagamento de propinas retroativas "sobre todo e qualquer contrato" que a empresa tivesse com o governo federal.
"Foi uma conversa muito desagradável", disse Machado, em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda (25). "Nós entendemos como sendo uma pressão. Quase como uma imposição."
Machado é um dos delatores da empreiteira, que fechou um acordo de colaboração premiada na Operação Lava Jato. O pedido de propina por Berzoini já havia sido relatado pelo próprio presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.
"Eu senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele inclusive se resguardou para que desse uma posição final mais à frente", afirmou Machado, que era diretor de Relações Institucionais da empresa.
Segundo o executivo, Berzoini falou "de forma firma e incisiva, um pouco além do tom".
"Não [houve ameaça] diretamente, mas veladamente percebeu-se que poderia haver algum tipo de situação desconfortável para nós", afirmou.
A reunião teria ocorrido em 2008, na sede da Andrade Gutierrez, em São Paulo. Estavam presentes, além dos dois executivos e Berzoini, João Vaccari Neto e Paulo Ferreira -ambos ex-tesoureiros do PT. O partido nega as acusações.
Segundo Machado, o pedido foi "muito mal visto" dentro da empresa.
"Comentava-se que não tinha sentido, não tinha por que fazer esse tipo de pagamento, porque não tínhamos nenhuma ajuda especial, não havia nada."
A empreiteira, porém, acabou por acatar parte do pedido de Berzoini, e aceitou pagar um percentual sobre contratos futuros com o governo federal, conforme admitiram os executivos. Parte dos pagamentos foi feita por meio de doações oficiais ao PT.
O PT refuta totalmente as acusações e diz que todas as doações recebidas pelo partido "foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".
COBRANÇAS
Além de Machado, outros dois executivos da Andrade Gutierrez também depuseram nesta segunda -Antonio Pedro Campello Dias e Elton Negrão de Azevedo Júnior. Eles respondem a uma ação penal por lavagem de dinheiro e corrupção.
Todos afirmaram que a empreiteira ficou devendo propina ao PT, e que sofria "cobranças permanentes" de Vaccari. "Ele [Vaccari] sempre solicitava doações. 'Olha, vocês estão devendo', dizia", contou Machado.
"Era terrível essa pressão", disse Elton Negrão. "Eu ouvia muito o pessoal [outros empresários] fazendo chacota, porque a Andrade não pagava."
Segundo os executivos, a empresa tinha dificuldade de "operacionalizar" a propina. Os valores se acumularam, e havia "má vontade" dentro da Petrobras, por parte do ex-gerente Pedro Barusco -um dos beneficiários dos pagamentos.
"Nítida má vontade, ranhetice, dificuldade de marcar [reuniões]...", disse Campello Dias, ex-diretor comercial da área de petróleo e gás, sobre Barusco.
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