Polícia teme onda de violência após morte de professor indígena no AM

Autor: Da Redação,
quarta-feira, 27/08/2014

LUCAS REIS
MANAUS, AM - Parentes do professor indígena Roressi Madija Kulina, 42, morto nesta terça-feira (26) por cinco adolescentes e uma criança, todos índios da mesma etnia dele, temem que o crime motive novos atos de violência em Juruá (a 674 km de Manaus). O delegado da cidade, Daniel Trindade, 30, também se diz preocupado com o cenário.
Na terça-feira, cinco adolescentes de 13 a 17 anos e uma criança de sete anos mataram a facadas o professor Roressi. Todos pertencem à etnia madija kulina, que concentra índios urbanos em Juruá, cidade de 12 mil habitantes, além de oito tribos afastadas naquela região.
Em um primeiro momento, a Polícia Civil declarou que o crime havia sido fruto de uma vingança, já que um parente do professor assassinado havia matado, há cerca de cinco anos, o pai do menino de sete anos. Mas, segundo o delegado, apesar desse episódio anterior envolvendo as duas famílias, foi o álcool que provocou o crime.
"O professor viu, próximo de casa, os garotos bebendo duas garrafas de [cachaça] 51. Foi repreendê-los e quebrou uma das garrafas, o que motivou a violência. Eles já haviam bebido uma garrafa inteira, estavam alcoolizados, e iniciaram as agressões", diz o delegado Trindade.
A avó de um dos adolescentes denunciou o grupo à Polícia Civil duas horas depois. Apreendidos, os suspeitos confirmaram a mesma versão.
Segundo o delegado, todos participaram da ação: esfaquearam, degolaram e jogaram o corpo do professor no rio Juruá. Apenas roupas, vestígios de sangue e as facas foram encontradas pela polícia.
Os adolescentes estão apreendidos na delegacia da cidade. Já a criança de sete anos foi levada para a casa dos avós, seus responsáveis, já que não pode ser apreendida até os 12 anos, de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Uma psicóloga será designada para atender o menino.
Segundo o delegado, há relatos de que parentes do professor morto juram vingança. "O crime foi causado pela bebida, eles [os adolescentes] são pequenos demais para pensar em vingança, não têm discernimento. Mas acontece que agora isso pode gerar uma nova reação de violência", afirma.
Toné Madija Kulina, também professor indígena e sobrinho de Roressi, diz que uma reunião familiar pretende acalmar os mais exaltados. "Na nossa etnia é assim: se morrer um, tem que morrer outro também, para acabar. A gente estava com medo de vingança, por causa da morte desse cara [o pai do menino de sete anos]. Agora vamos conversar com todos, pra que isso [novas mortes] não aconteça mais", diz Toné.
O delegado diz que se espantou com o comportamento dos jovens suspeitos. "Perguntei a um deles, de 13 anos, se ele estava arrependido. Ele respondeu que não. Disse que agiram porque estavam com raiva. O de sete anos tem uma tatuagem no braço. É triste isso, são famílias indígenas pobres e sem orientação, são crianças que vivem nas ruas", diz.
Roressi Madija Kulina lecionava em uma das oito tribos madika kulina havia 13 anos, mas também tinha residência em Juruá, distante 16 horas de barco, onde morreu. Segundo Toné, ele deixa seis filhos.