Polícia rastreia dezenas de câmeras para desvendar assassinato de vereadora

Autor: Da Redação,
quinta-feira, 15/03/2018

SÉRGIO RANGEL

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Imagens de dezenas de câmeras de segurança do centro do Rio e do Estácio estão sendo analisadas pro agentes da Delegacia de Homicídio para esclarecer a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).

O trajeto de cerca de quatro quilômetros percorrido pela vereadora desde a Câmara Municipal até o local do crime na noite desta quarta (14) é investigado. Antes de ser assassinada, Marielle participou de uma "roda de conversa: Jovens Negras Movendo as Estruturas" na rua dos Inválidos, no centro do Rio.

Oito equipes da Delegacia de Homicídio estão coletando imagens e verificando desde quando o carro de Marielle começou a ser perseguido pelos criminosos.

O chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, admitiu que o crime pode ter sido uma "execução". "Toda a investigação está sob sigilo. Uma das possibilidades é de execução", afirmou Barbosa, no início da tarde desta quinta (15). "Estamos diante de um caso extremamente grave que atenta contra a dignidade da pessoa humana, que atenta contra a democracia", acrescentou.

Pouco antes, o chefe da Polícia Civil participara de uma reunião com o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). Barbosa disse que era amigo de Marielle.

A vereadora era aliada de Marcelo Freixo , que ficou em segundo lugar na eleição para prefeito do Rio. Marielle é nascida e criada no complexo de favelas da Maré, uma das regiões mais violentas da cidade.

No mês passado, ela foi nomeada relatora da comissão que acompanhará a intervenção federal no Rio. Marielle era contra a ação do governo federal. No dia 10, ela publicou um texto em suas redes sociais denunciando abusos do 41º batalhão da PM contra moradores da favela de Acari. 

Quatro tiros de pistola na cabeça Marielle foi morta na noite de quarta (14) com quatro tiros de pistola nove milímetros. O motorista Anderson Pedro Gomes também morreu na ação dos criminosos. Ele foi atingido por três tiros.

Fernanda Chaves, assessora da vereadora, sobreviveu. Ela foi ferida por estilhaços e prestou depoimento aos policiais na madrugada desta quinta.

A vereadora Marielle Franco (Psol), morta a tiros na zona norte do Rio na noite desta quarta (14) Renan Olaz/CMRJ A vereadora Marielle Franco (Psol), morta a tiros na zona norte do Rio na noite desta quarta (14). Outra testemunha também foi ouvida por policiais. Pelo menos nove tiros foram disparados.

Socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Marielle foi a quinta vereadora mais votada do Rio na última eleição. Ela obteve 46.502 votos.

Reação Após o encontro com o chefe da Polícia Civil, Freixo disse que a morte da vereadora será respondida. Ele disse acreditar que os assassinos serão presos.

"Quem matou a Marielle tentou matar a possibilidade de uma mulher negra, nascida na Maré, feminista, estar na política. Isso não é aceitável em qualquer lugar do mundo. Vamos exigir até o último momento que se descubra o que aconteceu", afirmou o deputado estadual.

"É uma militante de direitos humanos silenciada, calada. A resposta virá. Quem matou Marielle achando que ia calar, transformou Marielle num símbolo que vai fazer com que muitas Marielles brotem as praças públicas a partir de hoje. Isso não vai ficar impune, nem vai provocar silêncio", completou Freixo.

"Quem matou a Marielle tentou matar a possibilidade de uma mulher negra, nascida na Maré, feminista, estar na política. Isso não é aceitável em qualquer lugar do mundo. Vamos exigir até o último momento que se descubra o que aconteceu", completou.

Intervenção O assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe das forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. 

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.

Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu -estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores.

No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.