Em pacto, Maduro só cede em data de eleição

Autor: Da Redação,
sábado, 10/02/2018

DIEGO ZERBATO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após o fracasso das negociações com a oposição, o líder venezuelano, Nicolás Maduro, lançou nesta quinta-feira (8) uma campanha para que os cidadãos assinassem o acordo que seus adversários não quiseram subscrever.

"Assinei o acordo ontem, para mim ele é extraordinário. Faço um convite aos partidos da MUD [Mesa da Unidade Democrática] para assiná-lo. Se existem novos temas, continuaremos a conversar, dou minha palavra."

Os elogios têm sua razão de ser. No documento que saiu das reuniões na República Dominicana, o chavista cedeu só em relação à data das eleições presidenciais, marcadas para 22 de abril em vez do almejado 8 de março.

A única reivindicação da MUD incluída foi o pedido ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para que a organização chefie uma missão de observação internacional. As regras, porém, saem diferentes no documento final e no rascunho que a coalizão diz ter enviado ao regime.

Os opositores previam que Maduro teria que enviar a solicitação a Guterres 48 horas depois do acordo e que a missão atuaria do registro eleitoral às auditorias pós-votação -padrão usado pela OEA.

No documento de Santo Domingo, porém, as partes concordariam em "propor ao secretário-geral da ONU que se conforme uma delegação de acompanhamento e observação", mas sem prazos ou obrigação de instalá-la.

A linguagem condicional e sem prazo dá margem a que o regime mantenha seu método de monitoramento. Desde 2015, as missões chegam após o encerramento da campanha eleitoral e vão embora dias depois da votação.

CANDIDATOS

Em nenhum momento menciona-se a situação dos partidos da MUD e de seus líderes. Durante as negociações, a Justiça impediu a frente de se coligar e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) cassou o Primeiro Justiça e o Vontade Popular, duas das maiores siglas antichavistas.

A oposição reivindicava recuperar a permissão dos partidos e a restabelecer os direitos políticos de líderes opositores, incluindo o ex-presidenciável Henrique Capriles e Leopoldo López, preso.

Ainda no que concerne às eleições, o texto de Santo Domingo propõe sete dias para a mudança do registro eleitoral --contra 15 da proposta opositora-- e não inclui a troca de duas das quatro militantes chavistas que compõem a quina de diretores do CNE.

Apesar dos prejuízos à MUD, o ex-presidente de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, mediador das três negociações anteriores que fracassaram, escreveu uma carta pedindo que a frente aceitasse a proposta.

Para Luis Florido, um dos negociadores da oposição, seria "um 5 x 0 para o governo" se a MUD assinasse o acordo. "O que ocorreu na República Dominicana serviu para fazer cair a máscara do governo, que não quer eleições limpas nem restituir a democracia."