Jornal implora a traficantes que poupem jornalistas

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 20/09/2010
Jornalistas e parentes acompanham o velório do fotógrafo Luis Carlos Santiago, baleado na semana passada em um estacionamento de Ciudad Juárez; jornal El Diario pediu a traficantes que parem de assassinar jornalistas

O jornal mexicano El Diario publicou no domingo um editorial em que pede orientações aos traficantes sobre como acompanhar as notícias sem que seus repórteres sejam assassinados por causa disso. A publicação teve um fotógrafo morto a tiros na semana passada.

Dirigindo-se aos criminosos, o jornal El Diario afirmou que "vocês são a autoridade 'de fato' na cidade agora". A publicação circula em Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, onde os cartéis já mataram mais de 6.400 pessoas desde 200

- Expliquem o que vocês querem de nós, o que vocês querem que publiquemos ou paremos de publicar.

Entidades especializadas dizem que o México é um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo. Mais de 30 profissionais da imprensa já desapareceram ou foram mortos desde que o presidente Felipe Calderón iniciou sua "guerra às drogas", no final de 2006, segundo um relatório lançado neste mês pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas, com sede nos EUA.

"Não queremos mais mortes"

Os jornais mexicanos cada vez mais praticam a autocensura na cobertura da "guerra às drogas", e o El Diario não citou nenhum dos traficantes que disputam o controle das rotas das drogas na cidade.

Alguns veículos de comunicação pararam de citar o nome dos cartéis e de noticiar tiroteios. Jornalistas em Ciudad Juárez especulam que colegas seus foram mortos apenas por terem escrito reportagens citando os nomes de certos traficantes ou de seus rivais.

O El Diario, cuja redação funciona em El Paso, no Texas, disse que um fotógrafo seu foi assassinado por pistoleiros do tráfico, na semana passada, e um outro profissional tinha sido morto havia menos de dois anos. O fotógrafo, Luis Carlos Santiago, morreu no dia 16 baleado em um estacionamento, e um colega ficou seriamente ferido no ataque.

- Não queremos mais mortes. Digam o que vocês querem de nós.

O governo mexicano mobiliza milhares de policiais e soldados para o combate aos traficantes, mas as autoridades não conseguem conter a brutal ofensiva promovida em Ciudad Juárez por Joaquin "El Chapo" Guzman, o traficante mais procurado do país.

"El Chapo" (ou "Baixinho") tenta tomar o controle da cidade das mãos de Vicente Carrillo Fuentes, líder histórico do Cartel de Juárez, que segundo especialistas domina cerca de um quinto do narcotráfico. O tráfico de drogas, conforme estimativas, rende (US$ 40 bilhões) por ano aos cartéis.

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