Chanel e Miu Miu versam sobre nova juventude em Paris

Autor: Da Redação,
terça-feira, 03/10/2017

PEDRO DINIZ, ENVIADO ESPECIAL

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Sintético e natural, belo e bizarro, são opostos que se atraem na criação de duas das maiores cabeças da moda internacional. Karl Lagerfeld, da Chanel, e Miuccia Prada, da Miu Miu, encerraram o último dia da semana de moda de Paris recriando, à sua maneira, a moda da nova geração.

Nas primeiras horas da terça-feira (3), uma réplica de montanhas onde nascem cachoeiras lavou os convidados da Chanel. O cheiro de matéria-prima natural saído das gotas que escapavam do cenário, faziam par com tramas que simulavam as ondas do mar e paetês cujo brilho lembrava o da água sob a luz do sol.

As modelos usavam capas de plástico, uma ironia sobre uma indústria envolta em beleza plastificada, adornadas com bordados e pedrarias.

O tom de jovialidade foi sabiamente contraposto aos códigos de uma marca que ganhou fama na moda pelo tailleur de "tweed". A peça aparece em cores elétricas e neutras, como se Lagerfeld explorasse tanto a noite em boates de disco quanto o dia numa montanha, prazeres dessa juventude ecologicamente correta mas afeita à diversão.

Pesos e medidas foram estudados com base em silhuetas clássicas dos anos 1960, mas relidos com viés contemporâneo, feito com os melhores tecidos à disposição no mercado, da organza ao jeans.

Pedras gigantes em formato de gota, transparentes como a água, serviram de base para os brincos. As bolsas, um misto entre estilo clássico e futurista, receberam detalhes dourados. A leveza da natureza e a força bruta do homem se encontram em lugar só na fonte da juventude plástica criada pela Chanel.

A nova juventude de Miuccia Prada, por sua vez, tem pé na rua, mas ainda sim guarda elementos do estilo comportado dos 1950. Essa foi a fórmula usada pela estilista para traduzir uma geração engajada, que embora aparentemente rebeldes, podem assumir um comportamento tão conservador quanto o dos primeiros anos do pós-guerra.

O tartan e o xadrez de fanela, a cara dos anos 1990 que voltaram com força total nessa temporada de verão 2018, compuseram camisas cavadas e cortadas em silhueta quadrada. Na parte de baixo, shorts de alfaiataria completavam a imagem, adornada por bolsas e colares "girlie", expressão da moda para estilo "mocinha".

As modelos andavam pelo espaço cercado de estruturas de tijolos, empilhados de forma irregular para dar ao espectador visões diferentes sobre um mesmo assunto. Também remetiam aos muros que separam as culturas e como cada um enxerga a opinião do outro.

O discurso foi embalado por uma trilha tirada essencialmente da cultura jovem. De Sonic Youth a Pixies, as músicas ora combinavam com o teor "dark" da passarela, ora contrastavam com os vestidinhos de estampa florida associadas ao "look" de vovó.

Nesta temporada de exaltação, otimismo e esperança de dias mais doces, tanto Prada quanto Lagerfeld lembram nessas coleções que nem tudo são flores e a realidade não pode se resumir escapismos.

CHANEL (muito bom)

MIU MIU (muito bom)