Tensos com partido populista, alemães se reúnem em SP para ver eleição

Autor: Da Redação,
domingo, 24/09/2017

GUILHERME MAGALHÃES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Bandeirinhas com as cores da Alemanha, duas grandes televisões, cerveja e currywurst (salsicha com curry). O cenário, parecido com o de uma final de Copa do Mundo, foi montado, porém, para outra final. Os alemães no Brasil se reuniram neste domingo (24) no Goethe Institut de São Paulo para acompanhar a transmissão dos resultados da eleição que reelegeu a chanceler Angela Merkel -desfecho já esperado pela maioria.

A expectativa deu lugar à preocupação em relação à votação recebida pela AfD (Alternativa para a Alemanha). Com 13% dos votos, segundo resultados preliminares, a sigla da direita ultranacionalista caminha para se tornar a terceira força do Parlamento alemão.

Brasileira residente há quase 25 anos na Alemanha, a professora Estela Bremberger, 46, conta que, entre os familiares que votaram neste domingo, "o desgosto é geral". "A única esperança é eles [AfD] mostrarem no Parlamento que não têm noção, competência", diz ela à Folha de S.Paulo.

Ela não espera grandes mudanças neste quarto mandato de Merkel, mas afirma que, caso a AfD se fortaleça na próxima eleição, em 2021, "vamos abandonar o barco e ir para Portugal".

O designer alemão Peter Junge, 43, concorda que a AfD foi o tema principal desta eleição. "Sabia que eles iam entrar no Parlamento, mas não esperava que como terceira força", diz ele, que mora no Brasil há sete anos. Ele, que se considera de esquerda, acredita que a ida do SPD (Partido Social-Democrata), o segundo mais votado, para a oposição, pode ser bom para o partido se reinventar após quatro anos como parceiro de coalizão de Merkel.

Uma das organizadoras da festa ("Todo mundo gosta, é mais divertido do que ver sozinho"), a diretora-executiva do Goethe Institut São Paulo, Katharina von Ruckteschell-Katte, também vê com preocupação o crescimento da AfD. "O populismo, com a AfD, com Donald Trump, é uma tendência perigosa para a democracia."

O cônsul-geral da Alemanha em São Paulo, Axel Zeidler, prefere ver o resultado por outro ângulo. "A AfD é um partido minoritário. Se teve 13%, significa que 87% votaram para os outros partidos", afirma ele. "Independente de quem ficar em vantagem, a Alemanha apoia o projeto da União Europeia e já faz 60 anos que isso é um pilar fundamental da nossa política externa."

A eleição simbólica realizada na festa em São Paulo teve um resultado parecido com o da votação oficial. A CDU (União Cristã-Democrata) de Merkel venceu com ainda mais força, 49% ante os 33% que tinha na Alemanha segundo os resultados preliminares.

O SPD (19,6%) também foi o segundo colocado por aqui. Os Verdes e o liberal FDP (Partido Liberal Democrático) empataram em terceiro, com 16,6% dos votos. A diferença ficou por conta da AfD, que recebeu apenas 2% do "voto teuto-brasileiro" e ficou em último lugar. Participaram dessa eleição simbólica 113 pessoas.

Devido ao sistema distrital alemão de república parlamentarista, cidadãos no exterior não votam, ao contrário de países com sistema presidencialista, como Brasil e França.