'Cadê Davi?', repetia irmã em enterro de bebê vítima de naufrágio na Bahia

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 25/08/2017

JOÃO PEDRO PITOMBO, FABRÍCIO LOBEL E AVENER PRADO, ENVIADOS ESPECIAIS

VERA CRUZ, BA (FOLHAPRESS) - "Cadê Davi? cadê Davi?", repetia a irmã do bebê de seis meses Davi Gabriel Monteiro, morto no naufrágio da lancha que deixou 18 vítimas na baía de Todos-os-Santos.

O corpo do garoto foi sepultado às 11h40 desta sexta-feira (25) no cemitério de Mar Grande, em Vera Cruz, sob forte comoção da família, amigos e vizinhos. Até o momento, 18 corpos foram resgatados no naufrágio.

Davi Gabriel, mãe e irmã estavam indo para Salvador na lancha pra um consulta no pediatra. O garoto chegou a ser socorrido por uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da capital baiana, que tentou reanimá-lo por cerca duas horas, sem sucesso. A mãe e a irmã sobreviveram.

A família vive em uma comunidade pobre de Mar Grande. O pai, Renivaldo Coutinho, é ajudante de pedreiro. A mãe, Ana Paula Monteiro, cuida da casa e dos filhos. Abalados, os familiares do garoto precisaram ser amparados durante o cortejo de cerca de um quilômetro até o cemitério.

Durante o sepultamento, a irmã que sobreviveu ao acidente perguntava pelo irmão e foi consolada por parentes. "Ele está bonzinho. Pede a papai do céu por ele todo dia de noite que vai ficar tudo bem", disse um deles à criança.

A morte de Davi Gabriel comoveu a comunidade de Vera Cruz, que compareceu ao velório na Igreja Adventista de Mar Grande e acompanhou o cortejo até o cemitério.

O comércio fechou as portas para a passagem do cortejo e cartazes com mensagens de luto foram espalhados por toda a região central da cidade. Funcionários das lojas choravam durante a passagem do corpo da criança, que seguiu dentro de um pequeno caixão branco.

O tio do garoto, Ednei dos Santos Santana, 36, disse que toda a família está abalada. E conta que Davi Gabriel costumava frequentar, junto com a mãe, a mesma igreja em que foi velado. "Era o mais novo, o xodó da família", disse o tio.

Ednei soube do acidente logo pela manhã, mas não sabia que sua irmã e sobrinhos estavam no barco. Durante boa parte da manhã, ajudou na retirada das vítimas do mar na praia de Mar Grande. Ao retornar da praia, soube que os parentes estavam na embarcação.

"Fiquei louco e voltei para o mar para procurá-los. Mas logo soube que eles tinham sido levados para Salvador, mas o mais novo não tinha resistido", lembra.

Carros de som percorrem as ruas do centro de Vera Cruz anunciando os horários e locais dos velórios e sepultamentos das vítimas. A maioria dos mortos viviam na Ilha de Itaparica, que abriga as cidades de Vera Cruz e Itaparica.

ACIDENTE

A lancha Cavalo Marinho 1 virou na baía de Todos-os-Santos por volta das 6h30 desta quinta-feira (24).

A embarcação levava 124 pessoas, entre elas, quatro tripulantes e quatro policiais militares. Até a noite desta quinta, 91 pessoas haviam sido resgatadas com vida e encaminhadas a unidades de saúde da região. Todos os 18 corpos já foram identificados.

Chovia muito na hora do acidente, o mar estava agitado e a lancha iniciava uma travessia estimada em cerca de 40 minutos entre o município de Vera Cruz, na ilha de Itaparica, até Salvador. Corpo de Bombeiros, polícia militar, civil, federal e a Marinha retomaram na manhã desta sexta-feira (25) as buscas por possíveis novas vítimas.