ATUALIZADA - Carros do Ibama são queimados no Pará

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 07/07/2017

FABIANO MAISONNAVE

MANAUS, PA (FOLHAPRESS) - Em ação classificada como um atentado pelo governo federal, oito caminhonetes destinadas ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) foram incendiadas na madrugada desta sexta (7) às margens da BR-163, na região sudoeste do Pará.

Os veículos foram destruídos junto com a cegonheira que os transportava em Cachoeira da Serra, um distrito de Altamira perto da divisa com o Estado de Mato Grosso e a 1.820 km de Belém. Outra cegonheira, que viajava em comboio, escapou do ataque e está numa base militar na região.

O sudoeste do Pará depende economicamente da extração ilegal de madeira e ouro e tem sido palco de protestos contra o recente veto do presidente Michel Temer (PMDB) à regularização de grileiros e posseiros dentro de unidades de conservação da região.

Em reação ao ataque, a presidente do Ibama, Suely Araújo, determinou o bloqueio de todas as serrarias da região de Novo Progresso, a principal cidade do sudoeste paraense.

O órgão solicitou o apoio da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para apurar o incêndio e reforçar a segurança no local.

"É um atentado contra a ação legítima do Estado brasileiro", disse à Folha o diretor de proteção ambiental do Ibama, Luciano Evaristo.

Ele explicou que o governo não teve prejuízo, já que os veículos ainda não haviam sido entregues e são parte de um contrato de leasing, pelo qual a frota é renovada a cada dois anos.

Segundo o diretor, o Ibama continuará usando os carros antigos, sem perder o poder operacional na região.

Evaristo afirmou ainda que os motoristas das cegonheiras desrespeitaram a orientação do Ibama de passar a noite dentro da base militar da Serra do Cachimbo, no Pará. Em vez disso, pararam em um polo de exploração ilegal de madeira.

Esse trecho da BR-163 tem sido alvo de bloqueios diários, em reação ao veto de Temer a duas medidas provisórias que reduziriam a proteção do equivalente a quatro municípios de São Paulo, medida aprovada pelo Congresso.

Ao todo, 486 mil hectares seriam transformados em APA (Área de Proteção Ambiental), categoria que permite propriedade privada a atividades rurais.

Com isso, grileiros e posseiros que ocupam ilegalmente áreas da Floresta Nacional do Jamanxim e do Parque Nacional do Jamanxim poderiam se regularizar.

PROTESTOS

Na última terça-feira (4), manifestantes carregaram uma faixa com os dizeres "TV Globo e Folha de S.Paulo ganham milhões para mentir sobre a Medida Provisória 756 e sobre os produtores da Amazônia", em alusão a reportagens recentes sobre o caso.

Os manifestantes também criticam o governo norueguês, que já doou cerca de US$ 1,1 bilhão para o Fundo Amazônia, que financia ações de reflorestamento e desenvolvimento sustentável.

A rodovia é uma importante ligação entre as regiões produtoras de grãos de Mato Grosso e os terminais fluviais do Arco Norte, mais nova rota de exportação de soja e milho do país.

"A BR-163 está totalmente bloqueada e já temos quilômetros e quilômetros de caminhões formando fila", disse o presidente da Aprosoja-PA (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Pará), Vanderlei Ataídes, citando relatos de pelo menos 30 quilômetros de congestionamento nesta sexta-feira (7).