Em meio a disputa política, Odebrecht tem escritório revistado na Argentina

Autor: Da Redação,
quarta-feira, 24/05/2017

SYLVIA COLOMBO

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O escritório da Odebrecht em Buenos Aires foi revistado nesta quarta-feira (24), apesar de a empresa já ter se oferecido a colaborar com a Justiça local, disponibilizando informações sobre os casos de corrupção nos quais a construtora brasileira estaria envolvida no país vizinho.

De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago US$ 35 milhões em propinas a políticos argentinos.

Segundo a reportagem apurou, a ordem teria sido uma retaliação por parte do Judiciário local, em razão de contatos que foram feitos nas últimas semanas entre representantes do Executivo e funcionários da empresa.

Em ano eleitoral -a Argentina renova metade de seu Congresso em outubro-, o caso Odebrecht está virando uma bandeira política para ambos os lados da disputa.

De um lado, está a Procuradoria, que legalmente seria responsável por receber as informações dos casos e dos acordos firmados entre a empresa e a Justiça do Brasil. O órgão, porém, responde à procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó, vinculada ao kirchnerismo e inimiga política do presidente Mauricio Macri.

O Executivo considera que Gils Carbó está encaminhando as investigações de modo a apenas expor os nomes de possíveis suspeitos relacionados ao governo Macri. Foi o caso do atual chefe do serviço de inteligência, Gustavo Arribas, acusado em delação pelo doleiro Leonardo Meirelles de ter recebido mais de US$ 800 mil.

Macri considera que a Procuradoria anda muito lenta para investigar o restante das acusações e vem sendo pressionado por aliados políticos, como a deputada Elisa Carrió.

Como o período que abrange a investigação, de 2010 a 2015, teve à frente do país o kirchnerismo, os macristas tinham a expectativa de que, a essa altura, surgissem nomes que estivessem relacionados à concessão de obras públicas durante a gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), como o ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido. Este, porém, até agora, não está sendo investigado formalmente.

A Odebrecht pretende, ao fornecer informações sobre os delitos e pagar possíveis multas, receber autorização para continuar participando de licitações no país, assim como terminar as obras já iniciadas. A empresa também pretende que os executivos que já estejam respondendo a processo no Brasil não sejam levados a tribunais também na Argentina.

A Justiça alega que a Constituição argentina não permitiria esse tipo de acordo, algo que o Executivo contesta, pois tal pacto poderia ser contemplado por tratados internacionais ou pela "lei do arrependido" -legislação local até agora usada apenas em crimes envolvendo narcotráfico.

Na tarde da quarta-feira (24), o escritório local da Odebrecht divulgou um comunicado que diz: "a empresa reafirma sua posição em colaborar com a Justiça e espera reconquistar a confiança da sociedade com uma atuação empresarial íntegra, ética e transparente."

O Executivo teria começado a atuar no caso oficialmente na terça-feira (23), quando o ministro da Justiça, Germán Garavano, a pedido de Macri, se reuniu com advogados da empresa.

Mais cedo, Garavano deu declarações à imprensa local. "A Procuradoria deveria liderar esse processo, mas não vem colocando nem empenho nem esforço na investigação dos casos, pelo contrário", disse o ministro, sugerindo ainda que Gils Carbó estava "boicotando" o andamento das investigações.

"O interesse do presidente é que isso se resolva o mais rápido possível e do modo mais transparente. Nos deu ordem de avançar até as últimas consequências", concluiu.

As obras mais importantes sob foco são o soterramento do trem Sarmiento, na região metropolitana de Buenos Aires, que tiveram início durante a gestão Cristina Kirchner, mas na qual a Odebrecht atuou em parceria com a Iecsa, empresa que pertencia a um primo do presidente. Outra obra de destaque é a construção de uma estação de tratamento de água no rio Tigre.