Obra de Antonio Candido convidava leitor a amar literatura brasileira

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 12/05/2017

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SÉRGIO RIZZO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A obra de Antonio Candido, morto nesta sexta-feira (12), em São Paulo, que provocou maior impacto e consolidou seu nome como um crítico referencial foi "Formação da Literatura Brasileira" (1959), escrito como introdução a um estudo de Machado de Assis, que ele considerava "um dos maiores do século 19" entre escritores de todas as línguas. Nesse livro, são analisadas as etapas de formação de um "sistema literário" no Brasil. "Comparada às grandes, nossa literatura é pobre e fraca", dizia ele. Apesar disso, convidava o leitor a amá-la para, assim, compreendê-la.

"Não sou um teórico da literatura, mas um crítico literário", ponderava. A teoria, na sua prática, fornecia apenas ferramentas de análise. "Procuro fazer uma crítica de vertentes, que acompanhe os problemas da obra", explicava. Ao fundar essa nova abordagem e com ela explorar a tradição literária brasileira, estava em sintonia com as gerações de intelectuais que, ao longo do século 20, se propuseram a pensar o Brasil de uma maneira nova, como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e o grupo da revista "Clima".

No prefácio da quinta edição revista de "Raízes do Brasil", de Buarque de Holanda, Candido equiparou o livro a "Casa Grande & Senzala" (de Freyre) e "Formação do Brasil Contemporâneo" (de Prado Júnior). Esses três clássicos, segundo ele, teriam feito sua geração "adquirir uma noção de Brasil". Atribuía também seu processo de formação intelectual à proximidade com os modernistas paulistas e ao contato com os professores da missão francesa que fundou a Faculdade de Filosofia da USP, com destaque para o sociólogo Roger Bastide e o filósofo Jean Magüe.

Na extensa obra de Candido, outros livros de destaque são "Ficção e Confissão" (1956), com ensaios sobre Graciliano Ramos; "Os Parceiros do Rio Bonito" (1964), baseado em sua tese de doutorado, sobre o cururu, dança cantada do interior paulista, indicativa de uma sociedade rural em mutação; "O Discurso e a Cidade" (1993), com ensaios sobre "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antonio de Almeida, e "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, entre outros; e "O Albatroz e o Chinês" (2004), com ensaios sobre Eça de Queirós, João Antonio e Charles Baudelaire.

Em "Um Funcionário da Monarquia" (2002), ele recriou a trajetória do avô de sua mãe, Antonio Nicolau Tolentino, empregado de segundo escalão do reinado de D. Pedro 2º. Foi também organizador de "Capítulos de Literatura Colonial" (1991), reunindo textos de Buarque de Holanda, e de "Sergio Buarque de Holanda e o Brasil" (1998). E, entre as diversas obras sobre ele, incluem-se "Antonio Candido - Pensamento e Militância" (1999), organizado por Flávio Aguiar, e "Bibliografia de Antonio Candido e Textos de Intervenção" (2002), organizado por Vinicius Dantas.