ATUALIZADA - Tradutora do FBI casou com terrorista do EI

Autor: Da Redação,
terça-feira, 02/05/2017

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma tradutora do FBI (polícia federal americana) com credencial de segurança de alto nível viajou à Síria em 2014 e se casou com um terrorista da facção Estado Islâmico que ela deveria investigar. O caso foi revelado pela emissora CNN.

Daniela Greene, 38, mentiu ao FBI sobre o destino de sua viagem e alertou o marido sobre a investigação contra ele, de acordo com registros judiciais.

O extremista, Denis Cuspert, é um rapper alemão que ganhou influência nas fileiras do Estado Islâmico como recrutador on-line de jihadistas na Europa. A atividade o colocou no radar de autoridades de contraterrorismo em dois continentes.

Cuspert era conhecido pelo nome Deso Dogg na Alemanha. Na Síria, ele é Abu Talha al-Almani. Em seus vídeos de propaganda, já elogiou Osama bin Laden, ameaçou o ex-presidente americano Barack Obama e apareceu segurando uma cabeça humana recém-decepada.

Nascida na antiga Tchecoslováquia e criada na Alemanha, Greene se casou com um soldado americano e se mudou para os Estados Unidos ainda jovem. Na Carolina do Sul, se formou em história. Fluente em alemão, entrou para o FBI em 2011 como tradutora. Em janeiro de 2014, passou a integrar uma investigação no escritório de Detroit sobre o "Indivíduo A", um terrorista alemão vinculado ao Estado Islâmico.

A CNN afirma ter identificado o "Indivíduo A" usando documentos judiciais, reportagens sobre sua carreira musical e a transformação em jihadista, boletins do governo e vídeos. Uma fonte próxima à investigação confirmou sua identidade.

VIAGEM À SÍRIA

Durante a investigação, Greene contatou o "Indivíduo A" através de uma conta no Skype. Em junho de 2014, deu entrada no FBI a uma viagem à Alemanha. Greene, porém, foi a Istambul, de onde partiu para a fronteira turca com a Síria. Lá, casou-se com Cupert.

Semanas depois, enviou e-mails para uma pessoa não identificada nos EUA afirmando estar arrependida. "Eu era fraca e não sabia como lidar com tudo. Realmente fiz uma bagunça desta vez", escreveu em 8 de julho, segundo os documentos do processo.

Dias depois, correspondeu-se com a mesma pessoa: "Eu provavelmente irei para a prisão por um longo tempo se eu voltar, mas a vida é assim. Eu queria poder voltar alguns dias no tempo."

Não está claro quanto a Justiça americana tomou conhecimento das ações de Greene, mas, em 1º de agosto de 2014, as autoridades já tinham mandado de prisão para a agente do FBI. Ela conseguiu fugir da Síria e voltar aos EUA, onde foi presa no dia 8.

Passou então a cooperar com o governo. Em novembro daquele ano, os promotores pediram sigilo sobre os documentos do processo. No mês seguinte, Greene admitiu ser culpada. Em maio de 2015, parte dos arquivos teve o sigilo levantado.

SENTENÇA

Devido à cooperação na investigação, a Promotoria pediu para Greene uma sentença de apenas dois anos de prisão, considerada leve.

O Pentágono informou em outubro de 2015 que Cuspert havia sido morto em um bombardeio à cidade síria de Raqqa. Nove meses depois, porém, em 3 de agosto de 2016, o governo americano voltou atrás e afirmou que o extremista sobrevivera ao ataque. No dia seguinte, Greene foi libertada da prisão federal, após cumprir sua pena.

Em nota, o FBI afirmou que, após o caso Greene, "tomou várias medidas em diferentes áreas para identificar e reduzir vulnerabilidades de segurança". O órgão não detalhou essas medidas.

"É um constrangimento enorme para o FBI, não há dúvida", afirmou à CNN John Kirby, ex-funcionário do Departamento de Estado.

Greene trabalha hoje em um hotel nos EUA cuja localização não foi divulgada pela CNN para proteger a segurança da tradutora. "Se eu falar com vocês minha família estará em perigo", disse Greene em uma breve entrevista.

O advogado dela, Shawn Moore, afirmou que a ex-agente do FBI está "genuinamente arrependida" de suas ações. "Ela era apenas uma pessoa bem intencionada que acabou em algo muito maior", declarou.