RAFAEL GREGORIO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Qual a história da primeira escola de samba LGBT de São Paulo? E a diferença entre cantar termos de marchinhas de Carnaval, como "Cabeleira do Zezé", como ofensa ou como grito de empoderamento?
Esses e outros traços da histórica relação entre o universo carnavalesco e a tolerância de gênero são temas de uma exposição no Museu da Diversidade Sexual a partir deste sábado (18).
Em cartaz até maio e sob curadoria do carnavalesco Sidnei França, a mostra gratuita "Será que El_ É" reúne itens como figurinos, fotografias e instrumentos musicais e presta homenagem a ícones do Carnaval, como Elke Maravilha e Clóvis Bornay.
"A gente se baseou no livro do João Silvério Trevisan, 'Devassos no Paraíso', e no 'Além do Carnaval', do James Naylor Green, que estudam essa conexão", diz Franco Reinaudo, 54, diretor do Museu da Diversidade Sexual.
"Em épocas de sociedade mais preconceituosa, a festa do Carnaval era o único espaço onde gays, lésbicas, transexuais e travestis podiam se expressar."
O evento também expõe objetos da escola de samba Grêmio Arco-Íris e fantasias de estilistas e destaques, como Michelly Xis, Bruno Oliveira, Isaac Rodrigues e Mauricio Pina.
A ideia, diz Reinaudo, é evidenciar a simbiose entre os grupos. "Falamos da importância da festa para a comunidade, mas também da influência da comunidade LGBT sobre a construção do Carnaval, do feitio das alegorias à energia nos desfiles. É uma troca."
A exposição terá ainda uma oficina de fantasias de Carnaval e um espaço interativo onde os visitantes poderão customizar suas roupas para brincar nos bloquinhos.
FESTA POLÍTICA?
Embora rechace uma excessiva problematização de questões sociais, o diretor do Museu da Diversidade crê que, assim como na Parada Gay, "estar presente já é, por si só, um ato político".
Daí que as atividades incluam questionamentos a respeito de termos pejorativos nas marchinhas de Carnaval. "O [jornalista e ex-blogueiro da Folha] Vitor Angelo (1965-2015) tinha uma fala incrível a respeito disso: o preconceito não está na palavra, mas na intenção. Eu falar pro meu amigo 'bicha, vamos sair', é uma coisa, alguém passar na rua e gritar 'seu bicha' é outra", diz Reinaudo.
A célebre marchinha do Zezé, por exemplo, ganha nova versão: "deixa o cabelo dele! / deixa o cabelo dele!".