Advogados e famílias buscam informações sobre detentos em RR

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 06/01/2017

RUBENS VALENTE E MARLENE BERGAMO

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - Horas depois da chacina de 31 presidiários cometida, segundo o governo estadual, por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Boa Vista (RR), parentes e advogados buscavam sem sucesso informações sobre a situação de detentos na Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo).

O advogado Marcelo Hirano foi saber na guarita de entrada da Polícia Militar o paradeiro de dois clientes, mas nada conseguiu. Ele foi orientado por um PM a buscar respostas na Sejuc (Secretaria de Justiça e Cidadania), no centro da cidade.

Em outubro passado, o presídio já havia sido sacudido por uma chacina de dez detentos. Depois disso, segundo o advogado, o governo estadual mudou a forma de atuar.

"Depois da chacina dos dez detentos, a Sejuc mudou de comando e botaram quente aí dentro. Acabaram com as regalias e botaram os detentos presos mesmo. Antes eles andavam livres nas áreas comuns. Houve movimentos de greve de fome, mas a Sejuc não amoleceu", contou o advogado.

Hirano disse que às vezes os detentos mandam notícias a parentes por meio de telefones celulares dentro do presídio, mas desde a madrugada cessou toda a comunicação. "Não há mais nenhuma informação de dentro do presídio."

A dona de casa Lezine Moreira buscava informações sobre seu marido, Johnnis Lima, de 35 anos, preso sob acusação de assalto. Ela disse que há informações contraditórias e nenhuma lista de mortos havia sido divulgada.

Na entrada principal do presídio, o silêncio só foi quebrado pelo barulho de duas explosões no interior da penitenciária. A Sejuc informou que eram bombas de efeito moral, mas que a situação do presídio estava "sob controle" desde o início da manhã.

A PM não instalou nenhum esquema especial de segurança no acesso à penitenciária. A barreira que fora montada pela manhã na estrada de acesso já havia sido desmontada à tarde.

Inaugurada nos anos 1980, a penitenciária tem cerca de 1,5 mil detentos para 700 vagas e "não passou por nenhuma obra de vulto" até 2015, disse o secretário de Justiça e Cidadania, Uziel Castro.

Segundo ele, no último ano e meio o governo começou a fazer investimentos, como a instalação de câmeras e cercas elétricas e construção de uma muralha interna e de alojamentos para agentes penitenciários e policiais militares.

"A governadora recebeu um Estado falido, com dívidas de R$ 1 bilhão, mas se sensibilizou e está fazendo vários investimentos no presídio."

Ao contrário do Compaj de Manaus, em que foram assassinados 56 detentos, não existe uma co-gestão com empresa. Todo o trabalho é feito pelo governo estadual, com policiais militares na área externa e agentes penitenciários tratando dos presos.

As armas usadas no ataque do PCC, segundo o secretário, não foram inseridas no presídios, mas sim confeccionadas de forma artesanal pelos próprios detentos.

"Eles usaram estoques produzidos com as barras de ferro de estruturas destruídas em rebeliões antigas", disse o secretário.