Filipinos no Japão desaprovam rompimento de seu país com os EUA

Autor: Da Redação,
terça-feira, 25/10/2016

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO, ENVIADA ESPECIAL

TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - As polêmicas declarações do presidente filipino, Rodrigo Duterte, têm alcançado grande repercussão. Nos últimos meses, ele xingou publicamente líderes mundiais e anunciou o "divórcio" de seu país com os Estados Unidos.

Se é provável que todos estejam ouvindo o que Duterte diz, poucos parecem estar entendendo -ao menos é o que afirmam conterrâneos seus em Tóquio, no Japão, onde o líder filipino se encontrará nesta quarta-feira (26) com o premiê Shinzo Abe.

"Eu não sei o que ele quer. Ninguém sabe. Os Estados Unidos, a China ou o Japão não podem saber o que ele quer. Só Rodrigo Duterte sabe o que ele próprio quer, e por enquanto ele não parece querer explicar", afirmou a filipina Merly, 57, ao sair da missa das 8h na Franciscan Chapel, igreja católica que reúne imigrantes filipinos em Roppongi, Tóquio.

A reportagem visitou neste domingo (23) três pontos de concentração da comunidade filipina, a sexta maior fora de seu país natal, com 209 mil imigrantes.

A primeira reação dos 15 questionados sobre a visita do presidente Duterte a Tóquio foi de afastamento.

"Não me interessa. Eu moro no Japão, o que ele faz ou deixa de fazer não tem nada a ver comigo", disse Merly e, com algumas variações, outros imigrantes ouvidos.

Auxiliar de limpeza em um hospital, a filipina se mostra descontente com os discursos agressivos e os xingamentos em público do presidente -que já chamou tanto o presidente americano, Barack Obama, quanto o papa Francisco de "filho da puta".

"Ele deveria ter vindo primeiro ao Japão e depois à China", afirma Bea, que esperava a missa das 12h em outra igreja frequentada pelos Filipinos, Santo Anselmo, em Meguro.

Faxineira, ela já trabalhou em Hong Kong e diz que os chineses não deveriam ser preferidos em relação aos americanos.

"Os Estados Unidos reconstruíram nosso país depois da Segunda Guerra. São nosso verdadeiros aliados", afirma.

Como Bea, 92% dos filipinos dizem ter uma visão favorável sobre os americanos, segundo pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Pew (a maior taxa entre os países pesquisados).

Em Akabane, onde os filipinos encontram lojas com produtos de seu país, o motorista Jake afirma que os filipinos não querem o rompimento com os EUA, mas estão divididos sobre a "guerra às drogas" deflagrada por Duterte.

"As quadrilhas são um problema, mas, como católicos, não podemos apoiar as matanças. É preciso haver julgamentos antes", diz ele.

Florencia, vendedora, evita tocar neste assunto para evitar discussões com colegas que apoiam as ações do presidente.

Todos os ouvidos disseram que os modos rudes de Duterte têm afetado a imagem dos filipinos no Japão e envergonhado seus compatriotas. "Eu gostaria que ele fechasse a boca", diz Florência.

Os sobrenomes dos entrevistados foram omitidos a pedido deles.