Filho da elite, Santos foi chamado de comunista ao iniciar diálogo com Farc

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 07/10/2016

SYLVIA COLOMBO, ENVIADA ESPECIAL

BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) - Até ser eleito presidente pela primeira vez, em 2010, sabia-se de Juan Manuel Santos, 65, muito pouco. Que ele era um dos mais tímidos entre primos e irmãos herdeiros do jornal "El Tiempo", e filho de uma abastada família bogotana.

Após estudar economia na Universidade de Kansas (EUA) e fazer especializações na London School of Economics (Reino Unido) e em Harvard (EUA), Santos, de orientação liberal, voltou à Colômbia e atuou um tempo na publicação familiar, até que mostrou mais interesse pela vida pública.

Em 1991, foi ministro de Comércio Exterior na gestão de César Gaviria (1990-1994), mas sua atuação mais conhecida foi já como ministro da Defesa de nada menos do que seu hoje arquirrival Álvaro Uribe (2002-2010).

"Vocês tinham todo o direito de duvidar de mim quando começamos a conversar, porque pessoalmente sei que ordenei muitos ataques a vocês", disse Santos aos representantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), no palco da cerimônia em que se assinou a paz em Cartagena, no último dia 26.

Mesmo com esse passado, em que além de coordenar ações militares contra a guerrilha apoiou a política linha-dura de Uribe em questões de segurança, uma vez eleito, Santos mudou de abordagem.

Convenceu-se, por uma mescla de razões políticas com questões de vaidade pessoal -seus biógrafos divergem- que seria mais inteligente buscar uma paz negociada com a guerrilha.

Ainda mais num momento em que, devido aos ataques do governo anterior que integrara, esta tinha sido reduzida à metade de sua força, estava fragilizada e mais afeita a uma saída pacífica.

Foi com essa determinação que recomendou que Frank Pearl, então negociador veterano, já da época de Uribe, se juntasse a um novo time indicado por ele e integrado por Sergio Jaramillo e Humberto de la Calle para tentar negociar a paz com as Farc até o fim.

Nos anos que se seguiram, aguentou uma dura oposição dos uribistas, que conseguiram convencer parte do eleitorado de que aquele bem nascido filho da elite bogotana que agora ocupava a Presidência era, na verdade, um comunista prestes a entregar o país ao que chamavam de "castro-chavismo", e que, se o acordo passasse, Santos estaria levando a Colômbia pelo caminho da Venezuela.

REELEIÇÃO

Esse discurso lhe causou muito dano e quase lhe custou a reeleição, em 2014. No primeiro turno, o candidato uribista, Óscar Iván Zuluaga, auxiliado pelo marqueteiro brasileiro Duda Mendonça, reforçou a ideia de que Santos era um "comunista". E que Zuluaga -então identificado por um "Z" de zorro criado por Mendonça- vingaria os crimes da guerrilha, voltando a adotar as políticas linha-dura de seu padrinho político. O "zorro" uribista disparou na frente, e venceu o primeiro turno.

Santos então abriu-se amplamente a alianças à esquerda e à direita, se recompôs e acabou conseguindo derrotar Zuluaga. Seu discurso após a reeleição passou a ser o da obsessiva luta por encerrar de forma satisfatória os acordos de paz em Havana.

Desde então, porém, ocorreu algo raro. Santos passou a ser mais querido e festejado fora da Colômbia do que dentro. Nas rodas e nos meios internacionais, recebia elogios pelo bom desempenho econômico do país (comparado à média da região), pela busca obstinada pela paz e, à vontade, mostrava-se mais desenvolto.

Já nos meios colombianos, talvez por saber como são por dentro, intimidava-se, e era muito mais cobrado sobre os temas além-paz: a economia que se desacelerava, a queda do preço do petróleo, a desigualdade entre as regiões.

Em seu segundo casamento, com María Clemencia Muñera, tem três filhos, Martín, Esteban e María Antonia, que constantemente saem nas fotos com o pai e o acompanham em comícios e votações.