Censura vem da sociedade civil, diz diretor do semanário 'Charlie Hebdo'

Autor: Da Redação,
sábado, 04/07/2015

RAFAEL SANDERY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de passar por detectores de metal, revistas (pessoais, de bolsas e de mochilas) e sob olhar atento de policiais federais espalhados pelo auditório, o público presente ao Congresso internacional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) pode enfim assistir à palestra proferida pelo cartunista e diretor editorial do jornal satírico "Charlie Hebdo" Laurent Sourisseau, o Riss.
Antes de sua fala, o mediador e ativista dos direitos humanos Frank La Rue pediu ao público um minuto de aplausos de pé, em oposição ao tradicional minuto de silêncio, para simbolizar a liberdade de expressão.
Riss se levantou, mas não aplaudiu. Durante o atentado sofrido na sede da publicação, o cartunista foi atingido com um tiro no ombro, e hoje seus movimentos no braço direito são limitados.
Depois de repassar a história do semanário em que trabalha, desde a censura sofrida por partidários do general Charles de Gaulle em 1970 -quando Charlie Hebdo ainda era Charlie Harakiri- após uma capa satirizando a morte do mandatário até o atentado sofrido no começo de 2015, Riss resumiu ao que se propõe o Charlie: "Lutamos pela liberdade para que outros a exerçam, porque se ninguém a exercer, ela vai desaparecer. E o que os islamitas radicais querem é que tenhamos medo de exercê-la".
Sobre a questão islâmica, Riss disse se sentir isolado, pelo fato de o "Charlie" ainda ser uma das poucas publicações a satirizar o tema. Mas ressaltou: "Não falamos só sobre Maomé. Abordamos questões ecológicas, sociais, jurídicas. Não se deve criar um jornal obcecado por religião".
E ressaltou a sua defesa das caricaturas polêmicas publicadas pelo "Charlie". "Falamos sobre religiões para questionar seus dogmas. É um debate filosófico, mas muitas religiões tomam como uma crítica pessoal", disse.
"Hoje, a censura que sofremos foi privatizada. Ela não parte mais do poder político, mas sim de lobbys religiosos e associações civis que promovem verdadeiros achaques judiciais".
Antes de receber mais uma sessão de aplausos ao final da mesa, Riss respondeu a uma pergunta da platéia, que queria saber se ele estava otimista com o futuro. "Não". Foi a resposta, curta e grossa como um cartum.