Após escândalo de gravações, ex-presidente francês vai processar quem divulgar conversas privadas

Autor: Da Redação,
quinta-feira, 06/03/2014

SÃO PAULO, SP, 6 de março (Folhapress) - O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e sua esposa Carla Bruni levarão aos tribunais quem divulgar conversas gravadas por um ex-conselheiro do ex-chefe de Estado, anunciaram os advogados do casal.

Os dois apresentarão em breve uma demanda em caráter de urgência ao tribunal de grande instância de Paris.

Sarkozy e sua esposa "não podem aceitar que estas declarações, feitas na intimidade, tenham sido gravadas e divulgadas sem seu consentimento. A proteção do sigilo das conversas privadas é uma das bases de uma sociedade democrática", afirmam Thierry Herzog e Richard Malka em um comunicado.

Dois meios de comunicação franceses publicaram ontem que Patrick Buisson, conselheiro de Nicolas Sarkozy, gravava sem o conhecimento deste as reuniões com o ex-chefe de Estado francês.

Gravações

As gravações feitas em segredo por Buisson foram postadas no site conservador Atlantico. Nelas, Sarkozy pode ser ouvido discutindo estratégia eleitoral, uma reformulação de gabinete e sua imagem pública na corrida presidencial de 2012 na qual ele perdeu.

Mais intrigante do que incriminatórias, as horas de gravações divulgadas podem prejudicar suas chances de retornar ao cenário político a tempo de concorrer para as eleições presidenciais em 2017.

Buisson, ex-editor de uma revista de extrema direita e responsável pela guinada à direita durante a campanha de Sarkozy em 2012, disse que fez as fitas como registro histórico e porque não podia tomar notas escritas durante as reuniões, disse seu advogado Gilles-William Goldnadel.

As gravações não foram bem recebidas pelos membros do círculo íntimo de Sarkozy mencionados nelas.

"A sensação é de que a confiança foi traída - é realmente uma traição - e também é uma violação", disse à rádio France Inter o ex-redator dos discursos Sarkozy, Henri Guaino, cujo nome é mencionado nas gravações. "É muito difícil de aceitar".

Trechos escritos foram publicados ontem jornal satírico semanal "Canard Enchaine", mas já havia rumores sobre a existência das gravações desde meados de fevereiro.

"O grande perigo para Nicolas Sarkozy é o próprio Patrick Buisson, porque ele possui dezenas e dezenas de horas de gravações (de Sarkozy)", disse à rede BFMTV Jean-Sebastien Ferjoua, chefe do site Atlantico.

Analistas

O cientista político Thomas Guenole disse à agência Reuters que o escândalo não tem precedentes.

"É um Watergate em sentido inverso com um conselheiro gravando um presidente em segredo - gravações essas que podem causar prejuízos (a Sarkozy )", disse Guenole.

O UMP é palco de uma batalha pela liderança do partido e analistas disseram que o combate poderá prejudicar as chances de conquistar terreno sobre os socialistas nas eleições municipais no final de março e aumentar o apoio popular ao partido Frente Nacional de Marine Le Pen.

Pesquisas de opinião mostram que o UMP, presidido pelo impopular Jean-Francois Cope, ganhou pouco espaço nas eleições apesar da baixa aprovação ao governo do presidente François Hollande, enquanto o Frente Nacional ganhou espaço.

"É uma explosão, é devastador", disse uma fonte do partido à Reuters. "A máquina de derrotas foi colocada em movimento".