Restrição à burca viola os direitos das muçulmanas, dizem clérigos indonésios

Autor: Da Redação,
quinta-feira, 22/04/2010

França e Bélgica serão consideradas culpadas de infringir os direitos das mulheres se mantiverem os planos de proibir o uso da burca em público, informaram esta quinta-feira lideranças islâmicas indonésias.

O Conselho dos Ulemás do país que tem a maior população muçulmana do mundo, com cerca de 200 milhões de seguidores de Maomé, lembrou que as crenças religiosas devem ser respeitadas mesmo que haja preocupações de segurança no que diz respeito ao uso da vestimenta que recobre o corpo e o rosto das mulheres.

"Somos taxativamente contra a proibição proposta. Se virar lei, significará que Bélgica e França restringem os direitos das mulheres muçulmanas no cumprimento de suas obrigações religiosas", disse à AFP o presidente do conselho, Amidhan, que, assim como muitos indonésios, tem apenas um nome.

"Se for por motivos de segurança, o temor é excessivo. É injusto considerar todas as mulheres cobertas uma ameaça", argumentou.

Embora nem todas as muçulmanas indonésias usem niqab (véu islâmico que deixa apenas os olhos descobertos) ou burca, muçulmanos de outras partes do mundo fazem interpretações diferentes das escrituras islâmicas e suas crenças devem ser respeitadas, afirmou.

"A interpretação do Corão é diferente em diferentes países. As muçulmanas indonésias não precisam cobrir o rosto com véus, ao contrário das mulheres de alguns países do Oriente Médio. Mas temos que respeitar suas crenças", reforçou Amidhan.

A Bélgica preparava-se esta quinta-feira para proibir o uso da burca em público, o que se configuraria na primeira restrição governamental deste tipo na Europa, apenas um dia depois de a França prometer uma lei similar.

O governo francês anunciou que apresentará aos ministros, em maio, um projeto proibindo o uso de niqabs e burcas nas ruas, lojas e mercados, e não apenas em edifícios públicos, como acontece agora.

Mas uma crise política que ameaça o governo belga e objeções do órgão de vigilância constitucional francês mostram que tais restrições podem não ter efeito de lei.